Crítica: Invencível, Temporada 2, Parte 1
Crítica: Invencível, Temporada 2, Parte 1
Felizmente, depois de dois anos, a espera vai valer a pena
Adaptado dos quadrinhos de Robert Kirkman, Invencível foi uma grande surpresa quando estreou na Prime Video em meados de 2021. Tão sanguinário e cético quanto The Boys, esta era outra sátira do gênero de super-heróis que trazia um olhar crítico a estes seres tão poderosos. Tamanho sucesso superou as expectativas do público e da própria plataforma, que precisou correr para produzir novas temporadas e, mais de dois anos depois, enfim temos o resultado. Em 3 de novembro, estreia a Temporada 2, Parte 1, de Invincible: mais ousada, mais bonita e mais expansiva do que antes. Ou seja, trazendo tudo que uma boa continuação deve ter.
A Prime Video adiantou para a Legião dos Heróis todos os quatro episódios que vão compor esta primeira metade da temporada. Os capítulos serão lançados semanalmente, ao longo de novembro, pausando para as comemorações de fim de ano. A série promete retornar no início de 2024 com o restante da história, totalizando oito episódios. Mas afinal, o que esperar dessa animação tão absurda?
Ficha técnica
Título: Invencível (Invincible)
Criação: Robert Kirkman, Ryan Ottley e Cory Walker
Roteiro: Simon Racioppa, Matt Lambert, Adria Lang e Helen Leigh
Direção: Dan Duncan, Tanner Johnson e Jason Zurek
Ano: 2023
Emissora/Streaming: Amazon Prime Video
Número de episódios: 4 (Temporada 2, Parte 1)
Sinopse: Depois de uma batalha sangrenta com seu pai, Omni-Man, o Invencível precisa descobrir que caminho seguir como herói, enquanto forja novos aliados e enfrenta dois grandes inimigos que podem mudar tudo.
O charme de ser (in)vencível
Depois do final surpreendente da primeira temporada, com uma reviravolta gigantesca, a série não poderia deixar de dedicar boa parte de seu retorno para explorar exatamente como esta revelação impactou o mundo da animação. O doloroso embate entre Omni-Man e Invencível não marcou apenas o personagem, mas causou destruição por todo o mundo, o que trouxe uma nova série de inseguranças para o herói e para a sociedade.
O roteiro não hesita em explorar o drama mais humano que naturalmente acaba surgindo. E assim, traz mais peso para os acontecimentos e profundidade para os personagens. O processo de luto de Debbie Grayson, por exemplo, abre uma oportunidade inesperada para explorar melhor os bastidores da vida dos heróis desse universo. Mas o arco mais interessante, como não deveria deixar de ser, é o de Mark Grayson, vivido por Steven Yeun.
Muitas produções com um elenco muito robusto acabam sofrendo para manter o seu protagonista relevante, mas este não é o caso de Invencível. Mais perdido do que nunca, na segunda temporada Mark precisa decidir que tipo de herói quer ser. Quase como se tudo até agora fosse apenas a sua história de origem. A história toma seu tempo para traçar uma jornada interessante de como o jovem lentamente sai da sombra de seu pai e constrói sua própria identidade, o que vai ser crucial para o futuro da série.
Falando em futuro, esta definitivamente é uma temporada de transição entre a história mais urbana e enraizada em problemas mundanos, como vimos na primeira temporada, e todo o arco megalomaníaco espacial que está por vir. Muito da estrutura maior que levará a história para caminhos ousados começa a tomar forma nestes quatro episódios de uma forma bastante leve. Existe uma clara preocupação em construir um futuro, mas sem deixar o presente menos interessante.
Uma forma de não saturar a série com esses momentos de construção de mitologia foi a troca de ponto de vista que acontece em cada episódio. Permitir com que novos personagens mostrem parte de sua história sob sua perspectiva não só traz uma quebra necessária no ritmo, evitando uma mesmice que poderia enjoar, como cria uma conexão mais rápido com o público. Assistir uma sequência pelos olhos de um personagem traz uma empatia única, lição que foi muito bem aprendida com o especial da Atom Eve.
Inclusive, as lutas sangrentas e com coreografias fluídas e criativas é outra coisa que a nova temporada herda de Atom Eve. O novo estilo de arte, cortesia de um aumento no orçamento, não só rende personagens mais expressivos, como também permite batalhas muito mais ousadas. Logo nos primeiros episódios acontecem alguns dos combates mais impactantes da série. Invencível continua sem medo de sujar suas mãos com sangue quando precisa, algo que tem em comum com The Boys.
Curiosamente, falando em sua série “irmã”, o tom da história tem uma pegada muito mais próxima de Gen V, a recente série derivada: o que é ótimo. Mark, Eve e seus amigos estão na faculdade agora, que é um ambiente que naturalmente rende um equilíbrio agradável entre esquisitice e drama, que complementam bem a ação. Fora das aulas, novos personagens são apresentados para se juntar ao extenso elenco da série. Não há muitos que se sobressaiam, mas ainda assim encaixam bem na dinâmica geral. O que mais empolga nesta temporada, na real, é a mudança de cenário — tem muito menos Terra e muito mais espaço.
Os novos ares ajudam a passar rapidamente a ideia de que muito mais coisa está em jogo. Os inimigos introduzidos são mais poderosos. Um erro significa o sofrimento de muito mais vítimas. De certo modo, é um reflexo de um claro amadurecimento da trama que sabe muito bem utilizar a base dos quadrinhos a seu favor. Muitas edições das revistas são misturadas pensando na melhor forma de enxugar ao máximo qualquer trama desnecessária, sem descaracterizar a série. Existe um olhar bem apurado em diferenciar o que merece destaque do que pode se tornar apenas uma curiosa referência, agradando assim aos fãs veteranos sem distrair o grande público.
Em quatro episódios, a primeira metade da segunda temporada demonstrou tamanho fôlego que é fácil imaginar pelo menos mais cinco temporadas de Invencível. Sem muito esforço, a animação consegue resgatar o mesmo brilho que despertou na primeira vez em que vimos as aventuras de Mark Grayson. Tudo ainda parece muito novo e empolgante, graças as novidades que apontam um futuro muito promissor para a produção. Sem abrir mão do sangue e do bom-humor, a trama se permite ser mais sincera em seu drama, sinal de um claro amadurecimento que pode render bons frutos.
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