Crítica: Guardiões da Galáxia Vol. 3 surpreende com filme mais emocionante da Marvel Studios

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Crítica: Guardiões da Galáxia Vol. 3 surpreende com filme mais emocionante da Marvel Studios

Por Gabriel Mattos

Música é sobre emoção: uma tradução honesta do que só pode ser sentido com a alma. Com uma bela melodia e a letra certa, uma canção é capaz de atingir o lado mais vulnerável de qualquer pessoa, até mesmo das mais duronas. E talvez seja esse o segredo por trás da musicalidade tão presente na trilogia de James Gunn. Com uma sensibilidade quase musical, Guardiões da Galáxia Vol. 3 é a despedida perfeita para a equipe mais unida do MCU — brutal, espirituosa, completa e capaz de desmontar até os fãs mais céticos.

Ficha Técnica

Título: Guardiões da Galáxia Vol 3 (Guardians of the Galaxy Vol 3)

 

Direção e roteiro: James Gunn

 

Data de lançamento: 4 de maio de 2023 (Brasil)

 

País de origem: Estados Unidos

 

Duração: 2h 29 min

 

Sinopse: Após um ataque surpresa, os Guardiões da Galáxia precisam enfrentar um cientista maluco para salvar um amigo muito precioso.

Pôster de Guardiões da Galáxia Vol. 3 destacam Rocket Racoon (C. Disney)

Quando o desespero se transforma em comédia

Diferente de outros filmes da era recente da Marvel Studios, que parecem um tanto perdidos na execução, Guardiões 3 acerta no tom de sua aventura: resgatando tudo que o público adorou nos longas anteriores sem deixar de amadurecer a história. Dando sequência aos eventos catastróficos de Vingadores: Guerra Infinita, a trama acompanha a equipe indo até o último limite para tentar salvar um aliado importante.

E nesse momento de crise vemos o entrosamento do elenco como nunca antes. Acima de tudo, este é um filme sobre família e mostra como essa relação é definida por algo muito mais profundo do que sangue. Fica evidente em cada mínima interação como este grupo se importa uns com os outros — abrindo espaço para momentos mais profundos, de desabafos e confissões, que enriquecem ainda mais cada integrante.

Desta vez, nenhum personagem do elenco principal é reduzido a um alívio cômico. Ainda temos um eco incômodo das piadas fora de hora de Drax, por exemplo, mas ao lado de uma carga dramática que combina com alguém com um passado tão trágico. Por entender tão bem seus Guardiões, Gunn consegue explorar exatamente a essência de cada um. Há um novo lado para cada herói sem descaracterizar ninguém, evitando que pareçam apenas um disco arranhado.

Gunn encontra espaço para se divertir em meio à melancolia (C. Disney)

Todos têm os seus próprios dramas pessoais que se somam ao ar mais sério da narrativa geral, carregada de uma energia melancólica e contemplativa. Funciona especialmente bem com Mantis, que surpreende ao roubar a cena mostrando melhor o seu potencial, e Rocket Racoon, a grande estrela do filme. O malandro guaxinim enfrenta o seu momento mais sombrio ao encarar o passado. Nenhum herói dos cinemas tem uma história de origem tão triste quanto o pobre ciborgue, que protagoniza os momentos mais comoventes em um filme cheio de momentos emocionantes.

Ao ancorar a história neste personagem central, o roteiro consegue brincar com as idéias mais insanas que a franquia já viu sem medo de resultar em uma história confusa ou dispersa. Quando tudo parece prestes a sair do controle, seja por seus conceitos espalhafatosos ou pela enxurrada de participações especiais, a trama tem um porto seguro para onde voltar, como um bom refrão em uma música especialmente caótica.

E, novamente, fica provado que Gunn é fluente na linguagem do caos, assim como os próprios Guardiões. Os melhores momentos do longa surgem quando o filme se permite extrapolar todos os limites sem se preocupar com absolutamente nada. E assim o diretor navega entre uma sociedade de animais antropomórficos e um planeta feito de carne viva com uma naturalidade assustadora, que convida a esperar o inesperado. Uma postura revigorante para um estúdio tão acostumado a repetir fórmulas questionáveis de sucesso.

Ação impressiona por sua brutalidade (C. Marvel Studios)

Na ação, essa energia caótica se traduz em brutalidade. Guardiões 3 tem, talvez, algumas das cenas mais agressivas e selvagens da Marvel Studios, com pessoas sendo empaladas, rostos sendo arrancados e ossos quebrados a torto e direito. A adrenalina é real em cada nova luta, principalmente por se tratar do último filme da equipe. A sensação de que qualquer um pode morrer a qualquer momento é real, principalmente quando o vilão entra em cena.

E não estou falando de Adam Warlock que, apesar de causar uma boa primeira impressão, cai rapidamente no esquecimento. Interpretado brilhantemente por Chukwudi Iwuii, da série Pacificador, o Alto Evolucionário soa como o inimigo perfeito para os Guardiões da Galáxia. Cruel, elitista e controlador, o cientista maluco é o oposto completo de tudo que os heróis representam. E ao mesmo tempo, se encaixa perfeitamente no tom da história, com a sua instabilidade hipnotizante. Afinal, mesmo com uma nota mais dramática, Guardiões ainda se define por sua extravagância, o que o vilão tem de sobra.

E tamanha excentricidade só não soa caricata graças a atuação impecável de Iwuii. O ator consegue ir da mais pura serenidade para uma explosão de fúria em poucos instantes, prendendo a atenção a cada um de seus movimentos. É um controle emocional de outro mundo que ajuda a tornar o personagem ainda mais convincente, feito um maestro em sua própria orquestra.

Alto Evolucionário é o contraponto perfeito para os Guardiões (C. Disney)

Funciona muito bem por ser de fato um vilão ruim, desprezível, sem nenhum ponto de redenção, que faz a gente torcer pelos mocinhos sem nenhum remorso. E Gunn consegue construir este inimigo de uma maneira clássica, muito em falta nos filmes modernos, sem esvaziá-lo de significado. O Alto Evolucionário ainda encaixa como uma crítica aos fãs mais fanáticos da cultura pop — tão obcecados em procurar falhas que sabotam a sua oportunidade de se divertir com suas obras favoritas. E também traz, em sua filosofia, uma metáfora musical ao afirmar buscar harmonia em meio ao caos, dando uma importância ainda maior à trilha sonora do longa.

Apostando em músicas dos anos 1990, este terceiro filme tem possivelmente a trilha sonora menos conhecida e empolgante de toda a saga. Não espere sair do cinema cantarolando os sucessos do Volume 3. A seleção não chega nem perto de ser tão carismática quanto o Awesome Mix Vol. 1 de Guardiões da Galáxia (2014). Na maior parte, funciona como som ambiente, facilmente ignorável. Contudo, nas cenas que realmente importam, as músicas traduzem com perfeição o sentimento do roteiro que geram um momento verdadeiramente catártico.

Especialmente na introdução e no desfecho, as canções escolhidas são tão poderosas que adicionam diversas camadas a momentos que, por si só, já eram emocionantes. Consegue resumir perfeitamente o estado emocional que encontramos a equipe e ainda prepara o público para o que está por vir: uma jornada emocionante e dolorosa, mas que vale completamente a pena.

Filme trabalha melhor personagens deixados de lado pelos antecessores (C. Disney)

Nem mesmo seus leves tropeços diminuem a genialidade de Guardiões da Galáxia Vol. 3. Diferente de seu vilão, James Gunn tem o raro talento de reconhecer a beleza nos lugares mais improváveis. Após orquestrar por nove anos este grupo de desajustados, que conquistou aos poucos o coração dos fãs com as suas vozes tão sinceras, o diretor desenvolveu uma sensibilidade incrível para ouvir exatamente o que estes personagens tem a dizer.

Enquanto os demais filmes da Marvel Studios parecem estar presos em um ensaio sem fim, para um espetáculo longe de acontecer, Guardiões 3 entrega uma sinfonia completa por focar no que realmente importa: uma boa história e personagens carismáticos. É a despedida perfeita ao grupo mais irreverente da Marvel Studios e um motivo para acreditar em um futuro brilhante para a DC Studios.

Nota: 5/5

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