Como J. K. Rowling ganha dinheiro com Harry Potter?

Como J. K. Rowling ganha dinheiro com Harry Potter?

Entenda como a autora de uma das franquias mais bem-sucedidas da indústria consolidou sua fortuna

O ano era 1997 quando um menino com óculos redondos e uma cicatriz no formato de um raio na testa mudou os rumos da indústria do entretenimento. Iniciava-se ali, com a publicação de um mero livro, aquilo que se tornaria uma das franquias mais bem-sucedidas e idolatradas da história da cultura pop: Harry Potter. 

Filmes, jogos, action figures, parques, brinquedos… O Menino Que Sobreviveu não sobreviveu apenas a Lord Voldemort – ele também conseguiu transcender as páginas dos livros e hoje estampa os mais diversos itens que você poderia imaginar em prateleiras de lojas. Tudo isso graças a uma “simples” ideia da escritora J. K. Rowling.

Aos 57 anos, Rowling, hoje em dia, é uma figura controversa. As polêmicas envolvendo seus comentários transfóbicos, que tiveram como ponto de partida um tweet de 2020 onde questionava a expressão “pessoas que menstruam”, foram apenas a ponta do iceberg. Desde então, o nome da autora gera uma torcida de nariz em muitos fãs de Harry Potter que, além de continuarem criticando o posicionamento dela, também não apoiam mais qualquer tipo de conteúdo vindo do universo do bruxinho.

E isso inclui o jogo Hogwarts Legacy, a grande polêmica da vez. O RPG de mundo aberto que promete colocar o jogador dentro da famosa escola de magia e bruxaria, em uma jornada completamente imersiva, já nasceu no meio das controvérsias de Rowling. Mesmo assim, a Avalanche Software, a produtora que desenvolveu o game, tentou ao máximo se afastar das polêmicas da autora, garantindo que ela não tinha se envolvido diretamente com a produção. 

Logo, muita gente passou a acreditar que Rowling não levaria um centavo dos lucros de Hogwarts Legacy, que já é um sucesso absoluto apesar das polêmicas. Mas será? Tratando-se da pessoa que criou esse universo e de questões envolvendo royalties, é importante, diante de tais circunstâncias, entender como J. K. Rowling ganha dinheiro com Harry Potter. Afinal, o que exatamente incrementa a fortuna dela?

• Quanto vale o patrimônio líquido de J. K. Rowling?
• É tudo uma questão de royalties
• Afinal, J. K. Rowling vai ganhar dinheiro com Hogwarts Legacy?

Quanto vale o patrimônio líquido de J. K. Rowling?

Antes de partirmos para as explicações sobre como J. K. Rowling ganha dinheiro hoje em dia, vale mencionar qual é a estimativa do patrimônio líquido de uma das autoras mais famosas – e ricas – do mundo. Por mais que seja incerto dizer se ela é milionária ou bilionária (o site Celebrity Net Worth, por exemplo, indica que sua fortuna chega ao US$ 1 bilhão, o que equivale a R$ 5,2 bilhões), é fato que o bruxinho com a cicatriz de raio foi o grande responsável por ela ter se tornado a segunda autora mais bem paga do mundo, ficando atrás apenas de James Patterson (via Forbes).

Atualmente, estima-se que o patrimônio de Rowling esteja na casa dos US$ 650 milhões. A análise mais recente foi feita pela Forbes (via Insider), em 2017, mas uma estimativa do New York Times, de 2016, aponta que o patrimônio líquido da escritora seja de US$ 1,2 bilhão com a correção de impostos. 

Rowling, por sua vez, tenta manter o mistério em torno de sua fortuna e se recusa a assumir o título de “bilionária”, afirmando diversas vezes que doa dinheiro para instituições de caridade. Em uma entrevista à NBC News, em 2005, por exemplo, ela admitiu que tinha “muito dinheiro, mais dinheiro do que poderia sonhar em ter”, mas que “não era uma bilionária”. 

Embora Rowling tenha, de fato, saído da lista de bilionários da Forbes em 2012, ainda há um certo ar nebuloso no que diz respeito ao império da autora, já que ela sempre manteve a discrição em relação ao assunto. No entanto, mesmo que a criadora de Harry Potter afirme que não é bilionária por fazer caridade e pagar seus impostos, é evidente que sua fortuna não é nem um pouco singela. 

Só para se ter uma ideia da influência que ela ainda tem na indústria: de acordo com a Forbes, US$ 2,6 milhões de livros de Harry Potter foram vendidos entre junho de 2019 e junho de 2020, um período de mais de dez anos desde o lançamento de Harry Potter e As Relíquias da Morte, a obra que encerrou a saga literária. 

Isso em uma realidade onde 500 milhões de cópias dos sete livros de Harry Potter já foram vendidas, mantendo uma receita estimada em US$ 7,7 bilhões, segundo análise feita pela reportagem do New York Times. Levando em consideração o fato de que royalties existem (a questão será elaborada logo mais), Rowling levou consigo cerca de US$ 1,15 bilhão, os 15% de royalty padrão que um autor recebe pelas vendas de seus livros (lembrando que cada editora mantém sua própria política de publicação).

Como podemos notar, olhando para os dados de vendas dos livros de Harry Potter entre 2019 e 2020, a saga do Menino Que Sobreviveu continua arrecadando dinheiro para J. K. Rowling, garantindo alguns milhões a mais para o seu bolso. Contudo, por mais curioso que pareça, a obra literária não é mais a principal fonte de renda da autora. Isso porque o universo de Harry Potter se expandiu tanto que, financeiramente falando, os livros foram ofuscados por um elemento mais atrativo aos olhos do mercado consumidor: os parques temáticos de Orlando, a verdadeira galinha dos ovos de ouro de Rowling. 

É tudo uma questão de royalties

“Como você dorme à noite sabendo que perdeu toda uma audiência que compra seus livros”, um usuário questionou Rowling no Twitter, em outubro de 2022. A autora respondeu de forma ácida: “Leio meus cheques recentes de royalties e a dor vai embora rapidamente”. 

I read my most recent royalty cheques and find the pain goes away pretty quickly. pic.twitter.com/s4gl9rlqxl

— J.K. Rowling (@jk_rowling) October 13, 2022

Essa troca de farpas na internet pode resumir muito bem todo o dilema sobre como J. K. Rowling ainda lucra com Harry Potter atualmente: é tudo uma questão de royalties, um termo em inglês que vem carregado de burocracias sobre a patente de um produto, marca, obra, entre outros. Assim, royalties nada mais são do que uma quantia em dinheiro que é cobrada pelo proprietário dessa patente – que lhe garante direitos exclusivos sobre uma determinada criação – para permitir o uso e a comercialização de um produto por terceiros (via Agência Senado). 

Em vista disso, a resposta é sim: J. K. Rowling ainda ganha dinheiro com Harry Potter por causa dos royalties, e isso inclui vendas de livros, merchandising, filmes, jogos, parques e qualquer coisa que estampe algo do universo de Hogwarts. 

Como dito anteriormente, hoje em dia a principal fonte de renda de Rowling vem das atrações majestosas do Wizarding World, do Universal Studios, o parque temático de Harry Potter que fica em Orlando, na Flórida (EUA). O acordo para que o local ganhasse vida foi feito por intermédio da Warner Bros., o estúdio responsável por adaptar os livros do bruxinho para os cinemas (o que também colocou dinheiro no bolso de Rowling). A parceria foi firmada com a NBCUniversal — uma muito mais vantajosa e grandiosa da que a Disney estava propondo na época — e as atrações do parque logo entraram no processo de construção, abrindo as portas oficialmente em 2010.

Neste caso, Rowling entrou apenas como uma consultora, mas isso não significa que ela não tenha ganhado dinheiro – muito pelo contrário. Além de ter recebido uma taxa de licenciamento e ganhar taxas fixas anuais (que aumentam a cada ano por causa dos ajustes de inflação) pelo desenvolvimento das atrações, Rowling também ganha uma porcentagem da venda bruta de qualquer tipo de merchandising, comida ou bebida que é vendida no parque (via Orlando Park Stop).

Sim, se você já visitou o local e comprou um mísero chaveiro com o brasão de Hogwarts, parte dessa venda ajudou a aumentar a fortuna de Rowling e da Warner Bros. Até mesmo se você tirou uma foto nas ativações e depois a comprou, acabou contribuindo para o aumento dos lucros dos detentores da licença, ou seja, Rowling e a Warner. 

O acordo firmado com a NBCUniversal até garantiu que outros tipos de bebidas, por exemplo, como uma simples Coca-Cola, não fossem permitidas dentro do parque. Afinal, isso diminuiria os lucros adquiridos pela compra de bebidas temáticas, como as famosas cervejas amanteigadas. 

O parque temático de Orlando é o exemplo perfeito, então, de como os detentores do licenciamento da obra continuam usando o universo altamente vendável de Harry Potter para obter cada vez mais lucros. As regras são diferentes se sairmos do Wizarding World, mas os royalties vindos de livros, filmes, brinquedos, jogos e tudo que você pode imaginar do universo de Harry Potter, que esteja inserido no mercado hoje em dia, beneficia a criadora do Mundo Bruxo, ou seja, J. K. Rowling.

Logo, além dos livros e filmes de Harry Potter, produções derivadas, como a franquia Animais Fantásticos (que também sofreu uma diversidade de polêmicas, seja pelos comentários transfóbicos de Rowling ou pela participação de Johnny Depp), a peça Harry Potter e a Criança Amaldiçoada e outros conteúdos que, eventualmente, irão surgir na cultura pop, também aumentam os lucros de Rowling. Além disso, fora do Mundo Bruxo, a autora também lucra com as vendas de livros publicados com o pseudônimo Robert Galbraith, como a saga policial iniciada em O Chamado do Cuco.

Afinal, J. K. Rowling vai ganhar dinheiro com Hogwarts Legacy?

Chegamos então a uma questão que vem gerando bastante polêmica desde seu anúncio: Hogwarts Legacy. Como dito, os desenvolvedores do game – a Avalanche Software – tentam a todo custo distanciar a imagem do projeto das controvérsias envolvendo Rowling.  Contudo, por mais que a autora não tenha se envolvido com o jogo diretamente, a equipe dela esteve. É isso que está explícito no próprio site de Hogwarts Legacy:

“J. K. Rowling não se envolveu com a criação do jogo, mas como criadora desse universo e sendo uma das maiores contadoras de história do mundo, seus escritos são a base de todos os projetos do Mundo Bruxo. Esta não é uma história nova de J. K. Rowling, no entanto, nós colaboramos estreitamente com sua equipe em todos os aspectos do jogo para garantir que ele permaneça alinhado com as experiências mágicas que os fãs esperam.”

O fato é que, por mais que Rowling não esteja diretamente por trás do desenvolvimento de Hogwarts Legacy, ela vai ganhar dinheiro com o jogo por ser a detentora dos direitos da franquia Harry Potter. Assim, ao comprar uma cópia do game, o usuário está, mesmo que de maneira indireta, contribuindo para que a fortuna de Rowling aumente.

Portanto, independente do tipo de acordo que foi feito no que diz respeito aos direitos da marca do bruxinho, Rowling receberá sua porcentagem de Hogwarts Legacy pela simples existência de royalties. E assim será com cada nova produção do universo de Harry Potter que surgir por aí. 

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