B. A: O Futuro Está Morto – Por dentro da nova série brasileira da HBO Max
B. A: O Futuro Está Morto – Por dentro da nova série brasileira da HBO Max
Entrevistamos o elenco e a equipe da série inspirada nas HQs de Rafael Coutinho para saber mais detalhes sobre o programa!
Uma Floresta Amazônica transformada em parque industrial, um céu dominado pela poluição e dons transmitidos por um beijo. Tudo isso e muito mais você encontra em B.A.: O Futuro Está Morto, nova série nacional da HBO Max que usa como inspiração O Beijo Adolescente, a tão querida graphic novel do cartunista Rafael Coutinho.
Contada a partir do ponto de vista de jovens que, além de enfrentarem as constantes mudanças da adolescência, precisam lutar para sobreviver em um sistema opressor, B.A.: O Futuro Está Morto chega para somar ainda mais ao cenário audiovisual brasileiro, apresentando um universo futurista que promete deixar o público bastante envolvido. Em entrevista à Legião dos Heróis, o elenco e a equipe por trás da produção contaram como foi dar vida a esse mundo tão intrigante.
O início de um sonho
Ambientado em um Brasil distópico, B.A.: O Futuro Está Morto acompanha a história de Ariel (Benjamín), um garoto tímido que entra em contato com uma sociedade secreta de adolescentes com poderes, que carregam uma marca especial chamada O Beijo Adolescente. Com uma Floresta Amazônica transformada em um parque industrial, a poluição invadindo cada canto do país e um misterioso fenômeno chamado monocromatismo que atinge apenas os adultos, Ariel se vê diante do desafio de curtir essa nova descoberta, enquanto um terrível perigo cerca o grupo de estudantes.
Para Rafael Coutinho, cartunista por trás de O Beijo Adolescente, a HQ que possibilitou o nascimento da série da HBO Max criada por Peppe Siffredi e Mariana Youssef, ver seus traços ganhando vida é a consolidação de muitos anos de trabalho e dedicação:
“Fazia parte de sonhos muitos distantes [a série de HBO Max]. E grande parte desse sonho tem a ver com a Mari e o Peppe [Mariana Youssef e Peppe Siffredi] sonharem em cima do meu sonho e realizarem todas essas coisas – não só sonhar, mas ativamente realizar, construírem as pontes com a HBO Max e eventualmente chegar aonde estamos agora. São muitos anos construindo essas etapas, ano após ano, reajustando, pensando junto, adicionando peças, criando novos universos e personagens. É uma montanha-russa muito longa e maravilhosa de acontecimentos que nos levaram até aqui.”
O talento de Coutinho é tanto que inspirou até mesmo o elenco de B.A.: O Futuro Está Morto. Giulia Del Bel, atriz que interpreta a destemida LinLin, uma garota que tem o dom de arrancar a verdade das pessoas, contou que seu primeiro contato com a obra original aconteceu após a fase de testes. De acordo com a artista, ela ficou maravilhada com o que encontrou nas páginas dos quadrinhos:
“Quando eu li o quadrinho foi uma surpresa porque é muito bom. Esteticamente, o desenho do Rafael Coutinho é muito fod#. Toda a construção da história… Você abre o quadrinho e fica maravilhado artisticamente.”
Assim como Giulia, Benjamín, o intérprete de Ariel na série, também passou a conhecer o trabalho de Rafael depois do processo de audições. “Foi um choque muito positivo”, o ator relembrou seu primeiro contato com a HQ. “É algo tão rico e fala de tantas questões importantes”, completou.
Mas a influência do cartunista não se deu apenas pelas páginas de O Beijo Adolescente. O ator Pedro Goifman, que interpreta Tomás, um jovem com o dom de encantar aqueles ao seu redor, contou à LH que Coutinho, em suas visitas ao set de filmagens, deixava claro que os artistas estavam livres para criar o que achassem coerente a partir do material original.
“Os diretores davam muita liberdade para a gente, até o próprio Rafa [Rafael Coutinho]. Uma coisa que ficou na minha mente foi quando nós tivemos uma conversa geral antes de começar as gravações e ele disse: ‘No quadrinho, eu sou o rei. Eu comando tudo. Mas aqui vocês tem que criar’.”
Foi graças à liberdade criativa, inclusive, que B.A.: O Futuro Está Morto se aproveitou das diferenças entre cada formato para explorar novas possibilidades narrativas. Assim, os fãs da obra original vão se deparar com algumas surpresas no meio do caminho.
“Tem uma legião de fãs das HQs do Rafa [Rafael Coutinho], e eles esperam uma transcrição do quadrinho – acho que isso é genuíno e justo. Mas eles não vão ver isso totalmente, o que não é um defeito. Acho que é uma qualidade. É tão novo para quem conhece e para quem não conhece”, explica Mariana Youssef, co-criadora da série da HBO Max, à LH.
O futuro não está morto
Apesar de não lançar mão das convenções de gênero quando falamos sobre personagens com poderes – algo fortemente disseminado atualmente através de produções feitas pelo Marvel Studios ou o DC Studios, por exemplo – B.A.: O Futuro Está Morto toma a liberdade para seguir seu próprio caminho. Além de, claro, ser uma produção nacional inspirada em uma obra também feita no Brasil, a maneira como o programa da HBO Max apresenta os poderes das figuras que impulsionam a trama é bastante interessante, já que esses dons especiais são apenas uma hipérbole dos desejos que jovens geralmente sentem durante essa fase tão complicada.
É isso que Peppe Siffredi, cocriador da série inspirada no trabalho de Rafael Coutinho, explica à Legião dos Heróis. De acordo com Peppe, a ideia era partir de algo mais existencial do que simplesmente dar poderes nas mãos dos personagens:
“Partimos de uma coisa mais existencial para que os superpoderes fossem, de certa forma, alguns desejos e algumas frustrações da adolescência sublimados. A vontade de conseguir convencer todo mundo de algo, a vontade de escutar o que alguém está falando… Essas necessidades humanas que na adolescência se caracterizam de forma aguda. Depois, por uma questão de convenção de gênero, de fato aproximamos isso do ambiente dos super-heróis.”
Mas é claro que colocar poderes nas mãos de personagens, independente de faixa etária, sempre é algo tecnicamente desafiador. O diretor André Ristum falou um pouco sobre como foi adaptar a obra de Rafael Coutinho para uma produção audiovisual, onde adolescentes estariam constantemente lidando com elementos fantásticos:
“Adaptar um quadrinho que não é realista, já que traz uma proposta fantasiosa foi um grande desafio. Mas é importante entender que por mais que a gente entre em um universo fantasioso – que ainda bem que a HBO Max e a Gullane [produtora] toparam fazer, levando em frente um gênero que não estamos muito acostumados a fazer – os dons dos personagens tem uma conexão muito próxima com dons reais, mas eles são mais hiperbólicos e potentes […] Isso foi muito importante no nosso processo de entendimento de como contar essa história e qual seria a relação com o mundo real.”
Mariana Youssef também destaca que, ao colocar o poder na mão dos adolescentes, a série reforça a ideia da “não imbecilização dos jovens”, tratando-os como pessoas com sonhos, sentimentos e a força para mudar o mundo, mesmo que ele esteja inserido em um sistema opressor e distópico.
“Eles [os jovens] são a representação da contramão. O jovem por existência já é a contestação. E os nossos personagens, por causa dos dons, têm esses sentimentos sublinhados, cada um de tal maneira que a gente consegue fazer um pot-pourri – juntamos todos para formar um superpoderoso contra-sistema.”
E é justamente esse público-alvo que a HBO Max vem almejando nos últimos tempos. Além de continuar focando no desenvolvimento de produções latino-americanas, o serviço anda apresentando cada vez mais narrativas protagonizadas por jovens, como é o caso de B.A.: O Futuro Está Morto.
Para Silvia Fu, líder de conteúdo roteirizado da Warner Bros. Discovery, o investimento em séries brasileiras é uma resposta que pode ser encontrada no próprio mercado consumidor, já que os jovens estão em peso no streaming hoje em dia:
“É fundamental para a HBO Max produzir no Brasil. A gente tem um consumidor brasileiro muito sofisticado no consumo geral de conteúdos – o Brasil é um dos principais mercados da DC, por exemplo – então juntam-se as duas coisas: a necessidade de falar com públicos que se reconheçam em tela com públicos que já são consumidores de conteúdos estrangeiros, como de fantasia e ficção científica.”
Tudo isso, claro, só é possível também graças ao desejo de fazer com que o público brasileiro se identifique com histórias que saíram daqui. Na visão do produtor Caio Gullane, sócio-fundador da Gullane, uma das produtoras mais ativas do cenário nacional, B.A.: O Futuro Está Morto é um projeto “ousado” que contribui para o crescimento do mercado audiovisual brasileiro, uma área que segue resistindo mesmo diante de uma correnteza de problemáticas:
“Existe uma máxima que levamos conosco de que um país sem audiovisual acaba sendo um país sem identidade. A formação de plateia, a importância de mostrar histórias faladas em português com alguns elementos brasileiros, embora estejamos falando sobre uma história fictícia, traz uma relevância.”
Apesar dos desafios, B.A.: O Futuro Está Morto chega em um setor que continua resistindo ao contar histórias autênticas e cheias de brasilidade que colocam os jovens no centro do debate. É por isso que para Karol Lannes, a intérprete de Cor, uma jovem que possui o dom mais similar aos poderes de super-heróis de quadrinhos, afirma que “apesar da série se chamar ‘O Futuro Está Morto’, espera que a identificação gere na cabeça dos jovens na vida real que é através da união e do amor que eles terão o dom e o poder de lutar contra falta de sentimentos, o autoritarismo e qualquer coisa que os aflija no futuro”.
Os episódios de B.A.: O Futuro Está Morto chegam à HBO Max todas as quintas-feiras.
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