Ahsoka: O que esperar da nova série de Star Wars? Assistimos aos primeiros episódios

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Ahsoka: O que esperar da nova série de Star Wars? Assistimos aos primeiros episódios

Por Gabriel Mattos

Ahsoka, a nova série de Star Wars, chega em um momento bem delicado para a franquia. Após uma sequência de filmes de qualidade duvidosa e séries que não conectaram bem com o público, há um sentimento generalizado de que a saga perdeu sua magia e esqueceu o que a tornava tão especial nas mãos de George Lucas. Conquistar a confiança do público é seu grande desafio e, pelo que pudemos conferir nos primeiros episódios, a nova história de Dave Filoni protagonizada por Rosario Dawson tem tudo para ser muito bem-sucedida.

Uma Jedi cinzenta para tempos cinzentos

Ahsoka Tano (Rosario Dawson) em um lugar misterioso. ©2023 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.

Colhendo os frutos plantados na segunda temporada de The Mandalorian, a série narra o próximo capítulo da busca de Ahsoka Tano pelo último Grão Almirante do finado Império Intergalático: o ilusório Thrawn. Inevitavelmente, esta missão esbarra em um possível resgate do jedi autodidata Ezra Bridger, da animação Star Wars Rebels, o que força pessoas do passado de Tano a submergirem em sua vida, confrontando a guerreira com um trauma jamais superado.

Essa aflição está sempre presente na excelente atuação de Rosario Dawson, que equilibra bem a personalidade abusada da juventude de Ahsoka com um olhar sábio e distante de quem apanhou muito da vida. Finalmente temos uma atuação que faz jus ao legado da antiga jedi das animações. Muito mais confortável nos maneirismos da personagem que em suas aparições anteriores como Ahsoka, a entrega de Dawson lembra até mesmo o jeito de falar de Ashley Eckstein, que viveu a heroína nas animações. O resultado impressiona, com uma performance econômica e elegante que transborda a dualidade da Fulcrum.

Andando sempre à margem da luz, o conflito no coração da personagem dita o tom da narrativa. Ahsoka teme cair nas sombras, como seu antigo mestre Anakin Skywalker, mas não consegue perdoar os erros dos Jedi que tanto lhe afastam da luz. E por jamais se comprometer completamente com qualquer extremo de moralidade, a guerreira se torna a protagonista que a franquia tanto precisava este tempo todo: uma heroína moralmente cinzenta.

Baylan Skoll (Ray Stevenson) e Shin Hati (Ivanna Sakhno) empolgam como sucessores dos Sith. ©2023 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.

Em um mundo mais complexo, que surge das ruínas da guerra polarizada entre Império e Rebeldes, entre Jedi e Sith, surge a necessidade de uma heroína que represente um novo olhar — alguém que procure fazer o certo com a plena certeza de que será preciso sujar as mãos para isso. E os novos vilões, Baylan Skoll e Shin Hati, são a escolha certa para desafiá-la a seu limite.

Não são os Inquisidores de Darth Vader, mas também estão longe de ser Jedi: são algo entre os extremos, um paralelo à própria figura da Ahsoka. Neste início, Ray Stevenson rouba a cena entregando um adversário formidável, honroso e misterioso, que traz uma leveza no seu jeito de portar que contrasta muito bem com suas ações brutais. Definitivamente esconde mais do que os olhos podem ver, só não tem a oportunidade de mostrar seu potencial por completo.

Sabine Wren é outra peça importante nesse quebra-cabeça. A personagem carrega as mesmas motivações com as quais terminou Star Wars: Rebels, com um toque extra de amargor vindo dos anos de solidão. Seu temperamento complicado gera uma ótima dinâmica com Ahsoka. Assim como a togruta em Clone Wars, não é de abaixar a cabeça com facilidade, o que acaba tocando diretamente em suas ferida e forçando a protagonista a se adaptar. O que só funciona graças à performance fascinante de Natasha Liu Bordizzo.

Rebeldes em uma nova temporada

Sabine Wren (Natasha Liu Bordizzo) em frente a um mural tirado diretamente de Star Wars Rebels. ©2023 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.

Nas mãos de Bordizzo, Sabine parece ter sido tirada diretamente da animação — e ela não é a única. De forma geral, a série Ahsoka é definitivamente a sequência espiritual das animações lideradas por Dave Filoni. Funciona como uma quinta temporada de Rebels e como um herdeiro direto da missão de The Clone Wars. Na época, o produtor trabalhou ao lado de George Lucas para garantir que a magia da trilogia prequel estivesse presente no desenho das Guerras Clônicas. E agora, toda a sua experiência cultivando cuidadosamente a mitologia da franquia é posta em prática para garantir que a magia da trilogia clássica esteja presente em Ahsoka.

E este cuidado se manifesta até mesmo no menor dos detalhes, especialmente na introdução da série. A primeira impressão é profundamente positiva. Incentiva o público a confiar na maestria de Filoni. A narração em texto corrido, traz imersão com um soco de nostalgia; a intensa cena de abertura, lembra dos melhores momentos de Darth Vader; a serenidade de Ahsoka como uma antiga jedi, tal como o autoexilado Ben Kenobi em Uma Nova Esperança… Cada elemento faz sentido de um jeito tão orgânico que não é visto desde O Retorno de Jedi.

Baylan Skoll (Ray Stevenson) com guardas da Nova República. ©2023 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.

O segredo de Filoni, além de um respeito absurdo pelo legado de George Lucas, é retornar à mesma fonte original que inspirou seu mestre: os clássicos filmes de samurai. No quesito atmosfera, Ahsoka mantém o mesmo tom sóbrio do Capítulo 13 de The Mandalorian, só que com uma abundância de duelos de sabre de luz. Essas lutas, porém, não tentam ser um espetáculo espalhafatoso, como na trilogia prequel, e remetem aos conflitos bruscos e comedidos de Akira Kurosawa, que inspiram a trilogia clássica.

As batalhas de Ahsoka demonstram autocontrole, precisão e confiança de alguém que precisou conviver muito tempo com as consequências de escolhas difíceis. Cada movimento é deliberado e letal, como as lutas de um samurai. E a trilha sonora de Kevin Kiner ressoa estes mesmos temas.

Marrok (Paul Darnell) e Ahsoka Tano (Rosario Dawson) em um duelo de sabres. ©2023 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.

Com batidas secas, bem diferente da sinfonia tradicional dos filmes de Star Wars, a música transmite bem a urgência da missão de Ahsoka, o perigo que espreita a cada esquina e o mistério que desenrola lentamente em cada episódio, com a calma de quem aprendeu a conviver com o tempo como um velho amigo.

Ahsoka promete ser um grande ensaio sobre a relação de mestre e aprendiz, um tema tão recorrente na franquia, que nunca roubou o holofote como nesta produção. Seja na relação entre Ahsoka e Sabine, ou nos vilões Baylan e Shin, e até mesmo nos criadores George Lucas e Dave Filoni — a obra carrega diferentes perspectivas da essência dessa relação. E ter esse relacionamento tão essencial com principal prioridade, ao invés de algum acontecimento solto ou uma tentativa de explicar coisas que não precisam de explicação, é o que faz com que a série transborde emoção. Ahsoka tem coração como não vemos desde O Retorno de Jedi e pode ser uma das melhores adições à franquia em muito tempo.

Os dois primeiros episódios de Ahsoka estreiam no Disney+ hoje, 22 de agosto, às 22h.

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