X-Men: Afinal, por que Jean Grey é a hospedeira ideal da Fênix?
X-Men: Afinal, por que Jean Grey é a hospedeira ideal da Fênix?
O que faz uma força cósmica ser obcecada pela mutante?
Hoje em dia é praticamente impossível desassociar Jean Grey da poderosa entidade conhecida como Força Fênix. Afinal, foram décadas de histórias memoráveis envolvendo as duas, como a aclamada Saga da Fênix Negra, lançada originalmente nos anos 1980, e que ainda hoje é considerada como uma das melhores histórias da Marvel. Além disso, vimos essa relação ser explorada em dois filmes em live-action — X-Men: O Confronto Final (2006) e X-Men: Fênix Negra (2019) — e em desenhos como X-Men: A Série Animada (1992 — 1997), brevemente em X-Men: Evolution (2000 — 2003), e, de uma forma mais peculiar, em Wolverine e os X-Men (2009).
Mas afinal, por que Jean Grey é a considerada a hospedeira ideal para a Fênix? Ou, em outras palavras, o que faz este pássaro cósmico ser tão obcecado pela adorada mutante? Se você quer entender melhor essa relação, venha comigo que eu respondo!
Como Jean Grey encontrou a Força Fênix?
Criada por Stan Lee e Jack Kirby em 1963, junto da primeira edição dos X-Men, Jean Grey não era a formidável mutante que conhecemos hoje. Na época, a ruiva tinha pouca utilidade para a equipe, sendo utilizada mais como uma donzela em perigo do que super-heroína. Após anos de um lento desenvolvimento, finalmente vimos a mutante brilhar na fase de Chris Claremont, que é quando a Força Fênix entrou em sua vida.
Em uma das histórias, após concluírem uma missão espacial com o Quarteto Fantástico, os X-Men precisavam retornar para casa, mas a cabine de pilotagem não possuía nenhum tipo de escudo de proteção contra as explosões solares que estavam acontecendo. Decidida a proteger seus amigos, Jean absorveu o conhecimento do piloto — que estava sendo resgatado pelos mutantes — e se voluntariou para esta tarefa.
Mentindo que sua telecinese agiria como um escudo que a protegeria dos raios solares, Jean obrigou todos a buscarem abrigo na nave e iniciou o que seria seu trágico fim em X-Men #100 (1976). Ainda que estivesse conseguindo pilotar de volta para Terra, ela começou a sucumbir à radiação e estava prestes a morrer.
Na edição seguinte, vemos que a mutante conseguiu cumprir sua intenção, trazendo os X-Men para a Terra — ainda que no pouso, a nave tenha afundado nas água da Baía da Jamaica. É então que, contrariando todas as expectativas, a ruiva mostra que sobreviveu e levanta voo dizendo sua icônica frase: “Ouçam-me X-Men! Não sou mais a mulher que vocês conheceram! Eu sou o fogo e a vida encarnados! Agora e para a sempre, eu sou a Fênix!”
Posteriormente descobriríamos que, enquanto começava a morrer diante da radiação, Jean enviou pedidos telepáticos de socorro, sendo atendida por ninguém menos que a Força Fênix, uma entidade cósmica que já estava de olho nela há algum tempo — como foi revelado nas edições 8 e 9 de X-Men: The Hidden Years (2000).
É então que temos a Saga da Fênix, em que Jean atinge um novo nível de poder e salva o mundo ao restaurar o Cristal M’Kraan, no arco de histórias de X-Men #107 (1977), que culmina na trágica Saga da Fênix Negra (1980), com ela sendo corrompida pelo Clube do Inferno e se tornando uma força extremamente destrutiva. É aí que, para impedir que a entidade continue machucando a galáxia — e principalmente, seus amigos — Jean decide se suicidar para tentar impedir a Fênix.
Eis que, anos depois, em Quarteto Fantástico #286 (1986), descobrimos uma nova reviravolta nesta história: Durante todos esses eventos, a verdadeira Jean Grey estava no fundo da Baía da Jamaica, em um coma dentro de um casulo de energia para que pudesse se recuperar. Em seu lugar, vivendo essas aventuras e experimentando as emoções humanas, estava a própria Fênix. Por isso que a primeira coisa que ela diz é que ela não é a mulher que os X-Men conheciam — ela não era mesmo!
Eventualmente Jean absorveria as memórias deste período, tendo alguns embates com sua própria consciência e, para todos os efeitos, se tornando a mesma pessoa daquela época. Tanto que, nos quadrinhos mais recentes, ninguém fala sobre esse infame retorno da mutante. Na prática, ficou como se aquela fosse a mutante de verdade, motivo pelo qual em HQs como O Julgamento de Jean Grey (2014), Baby Jean enfrentou um julgamento (injusto) pelos Shi’Ar.
Desde então, os laços entre Jean e a Força Fênix se estreitaram bastante. Em diversas eras dos X-Men, vimos a mutante conseguindo controlar os poderes da Fênix, além de ser ressuscitada diversas vezes pela poderosa entidade.
Vale lembrar, no entanto, que relacionamento entre as duas não é monogâmico. A entidade já teve outros hospedeiros, como quando ela se dividiu entre Emma Frost, Ciclope, Namor, Magia e Colossus, durante o evento Vingadores vs X-Men (2012), ou contou com Rachel Grey ou Quentin Quire como hospedeiros. Apesar disso, ninguém é tão bom para a Fênix quanto Jean Grey. Motivo pelo qual, em várias ocasiões, vimos ela se desdobrando para tentar ser aceita pela ruiva.
Por que Jean Grey é a hospedeira ideal da Força Fênix?
Mas afinal, qual o motivo para a relação ser tão forte? A resposta varia um pouco, uma vez que, como vimos anteriormente, a ideia por trás da Força Fênix sofreu alguns retcon ao longo dos anos. Mas é possível dizer que essa conexão é tão forte porque, tendo Jean Grey como avatar, a ave cósmica consegue manifestar seus poderes de uma forma perfeita
Há também, em teoria, um componente genético na linhagem Grey que a deixa mais interessante, além do próprio status de mutante nível Ômega que contribui ainda mais para que ela se torne interessante. Mas no fundo, a principal questão é que o entidade se apegou a ruiva.
Vamos começar do começo. Originalmente, os planos de Chris Claremont eram de trabalhar a Fênix apenas como um upgrade natural dos poderes de Jean, fazendo com que a radiação solar tivesse feito a garota atingir um novo nível com seus dons. Eventualmente, no entanto, essa ideia acabou sendo modificada e tivemos todo o rolê envolvendo a duplicata criada pela Fênix — algo tão confuso que acabou sendo ignorado nos últimos anos. Assim, nos quadrinhos, a Fênix foi idealizada para ser parte da Jean, o que ajudaria a explicar a forte relação entre as duas.
Isso é reforçado em Classic X-Men #8 (1987), uma espécie de história adicional para o primeiro encontro de Jean e da Fênix, que explica o retcon da duplicata. Na HQ, descobrimos mais detalhes sobre a conexão das personagens e o que atraiu o pássaro até a mutante.
A HQ começa com um longo monólogo da entidade cósmica, que fica encantada com a determinação da mutante:
“Tudo que é, eu sou. Eu nasci com o primeiro fogo e continuarei até que a última fagulha celestial se extingue. Nada vive sem ser tocado por uma parte de mim. As estrelas são minhas filhas e nada é mais apreciado do que aqueles que, por sua vez, geraram vida. Muito acima da terceira orbe, chamada de Terra, um constructo balança pela escuridão. […] Há almas nobres dentro dela que estão condenadas. Dentre elas, o motivo para minha presença. A determinação desta criança vai muito além da sua força. Ela sabe disso e também começa a temer o fim. A carne murcha diante do massacre selvagem… e ainda assim o espírito dela se eleva, mais alto, mais ferozmente desafiador do que nunca! Eu te conheço, Jean Grey, desde o momento da sua concepção — uma vez que eu conheço o universo. Você implorou por ajuda. Eu ouvi. Eu vim.”
Em seguida, uma fagulha do seu próprio ser acaba indo para Jean. Sem entender o que aconteceu, a Força Fênix decide proteger o corpo da ruiva — criando o infame casulo — deixando ela como uma espécie de segunda chance para sua existência. Ou seja, naquele momento nem mesmo a Fênix compreendeu a conexão se formava entre as duas.
Algum tempo depois, após o suicídio de Jean na conclusão da Saga da Fênix Negra, a HQ Classical X-Men #43 (1990) apresenta um capítulo extra para essa história, desta vez mostrando a ruiva na Sala Branca Incandescente. É então que a vemos com um novo traje, assumindo o posto de Fênix Branca e tendo um diálogo filosófico com a própria Morte.
É então que Morte explica a relação das duas:
“Não se engane, moça, você é dela de corpo e alma. […] Ela é a personificação da própria vida, personificada pela paixão, tão bagunçada e caótica e agonizante quanto isso pode ser. […] E ela não poderia ver seu trabalho ser desfeito. Ela necessitava de uma forma — um avatar — pelo qual ela pudesse agir. E quem melhor do que um espírito — uma chama, se preferir — criada tão próxima dela mesma?”
Após Jean dizer que não entendia o motivo para a Fênix simplesmente não deixá-la morrer, a Morte continua:
“Quando você a conheceu pela primeira vez, você a chamou de um fragmento da sua imaginação. Isso não estava tão errado. […] A Fênix não é nem um ser ou uma entidade (na maneira que você compreende essas coisas)… Ela é uma força. A soma e substância de todas as vidas. Seu dom único é ser aquela capaz de empunhar essa força. Acabou sendo você, Jean — assim como, com o tempo, serão seus filhos — porque, como a espada Excalibur era do Rei Arthur… Ela era sua por direito. […] Se você não a quisesse, você não a teria chamado. Se não tivesse sido feita para você, ela não teria respondido”
Ou seja, na prática, a Força Fênix tem tanto interesse na mutante porque Jean Grey é uma das poucas que conseguem empunhar todo este poder cósmico, tanto para o bem quanto para o mal. Em Novos X-Men (2001-2004), ouvimos mais uma vez que a fusão entre as duas é praticamente perfeita, o que contribui para que a ruiva seja o avatar ideal da Força Fênix. Por esse motivo, a entidade sempre buscará instintivamente por Jean.
Isso resulta no fato de que, independente da realidade ou linha do tempo, a ruiva é capaz de “puxar” a Fênix de outros corpos. Algo que vimos isso acontecer em A Derradeira Canção da Fênix (2005), quando a mutante retorna apenas para extrair a entidade de Emma Frost, e em A Batalha do Átomo (2013), quando uma versão maligna de Jean roubou a Fênix de Quentin Quire.
Então, para resumir tudo isso, temos a declaração da própria Força Fênix, em uma conversa com a baby Jean em Jean Grey #11 (2018). Explicando o motivo de estar em busca da mutante, a entidade diz:
“Jean Grey é a hospedeira perfeita. O poder e a influência que ela detém como fênix são inigualáveis. […] A verdadeira Jean Grey se uniu a mim por livre e espontânea vontade. Ela aceitou minhas chamas de braços abertos.”
Conexão Genética
Lembra que a Morte mencionou que os filhos de Jean também poderiam empunhar a Força Fênix? Pois então, os Shi’Ar também teorizaram que o Genoma Grey seria capaz atrair a entidade em busca de novos hospedeiros.
Por isso, após a morte de Jean em Novos X-Men #150 (2004), a raça alienígena se organizou e começou um verdadeiro massacre da linhagem Grey. Assim, como visto em Uncanny X-Men #468 (2006), eles decidiram extinguir toda a família da mutante.
A teoria até parece fazer sentido, visto que Rachel Grey chamou a atenção da Força Fênix por ser a filha de Jean de uma realidade alternativa. Isso, no entanto, não explica os outros hospedeiros poderosos que a entidade já utilizou com maestria — como o próprio Quentin Quire.
Atualmente Jean Grey é a Fênix?
Não. Atualmente, Jean Grey e a Fênix seguiram caminhos distintos. Enquanto ganha cada vez mais destaque na Era de Krakoa dos X-Men, a entidade cósmica acabou se fundindo com Eco, depois de uma disputa dos Vingadores para ver quem assumiria o posto de avatar da entidade.
A (até o momento) derradeira despedida de Jean com sua velha amiga aconteceu em A Ressurreição da Fênix: O Retorno de Jean Grey (2018). Na HQ, treze anos após sua morte, a Jean original renasce em um “ovo” criado pela Fênix. Ali, a entidade tenta convencer a ruiva a aceitá-la e possuir todos os seus poderes fantásticos, prometendo trazer todos os entes queridos da mutante de volta à vida.
Contudo, após a chegada dos X-Men e de um último beijo em Ciclope — que na época estava morto — Jean decide dar um basta na situação.
“Agora já chega. Tudo isso acabou. Eu não vou brincar de Deus contigo de novo. E eu não vou deixar você me machucar ou machucar as pessoas que eu amo novamente. Tudo isso — usando pessoas, brincando com as vidas delas, criando mundo falso — isso não está certo. Não é justo fazer isso comigo nem com ninguém. Eu sei que eu pedi por ajuda. Eu não sei porque você me ajudou. E eu não sei porque você fica voltando. De todos os seres do universo você me escolheu. Isso fazia eu me sentir especial. Agora eu não sinto mais nada. Eu deveria ter morrido naquela nave todos aqueles anos atrás. Eu sei disso agora. Mas você continua me trazendo de volta. Você quer que eu seja algo que eu não sou. Algo que eu nunca serei. E eu quis coisas de você. Coisas que nenhuma pessoa deveria ter. Eu não sei o que você é, qual o seu papel no universo, mas não é aqui. Não é comigo.”
A Fênix responde:
“Você não entende, Jean Grey? Juntas podemos ser Deusas. Podemos transcender este lugar. Ou nos escondermos juntas. Ou nos tornar a melhor versão de nós mesmas. Ou nós podemos simplesmente voltar para a maneira que as coisas eram antes disso. Podemos esquecer que isso aconteceu. […] Você vai morrer sem mim, Jean Grey. As pessoas que você ama vão morrer.”
E é então que chegamos na despedida:
“[…] Eu não quero morrer, mas eu preciso que me permitam viver. E você precisa seguir em frente sem mim. Eu não posso ser o que você quer que eu seja. Talvez eu nunca pude ser isso. Você precisa esquecer que eu existo.
E é assim que, desde então, a ruiva tem vivido com base em seu próprio poder. Ainda que ela mantenha uma certa conexão com a Fênix — tendo sentido quando a entidade encontrou um novo hospedeiro, motivo pelo qual ela ofereceu ajuda para Eco em uma HQ — a ruiva está livre da ave. Com isso, ela pode utilizar seus poderes sem nenhum medo de acabar se corrompendo, algo que foi muito bem explorado na elogiada fase X-Men: A Equipe Vermelha (2018).
Resta saber até quando o caminho das duas continuará separado. Afinal, se tem uma coisa que podemos ter certeza é que a Fênix sempre renasce e que ela sempre reencontra seu caminho até Jean.
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