Vale dos Esquecidos: Série da HBO Max traz terror folk e inspiração nos filmes de Ari Aster

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Vale dos Esquecidos: Série da HBO Max traz terror folk e inspiração nos filmes de Ari Aster

Por Arthur Eloi

Ao longo dos últimos anos, o horror nacional passa por um excelente momento, com obras que vão desde o fantasioso As Boas Maneiras (2017), o intenso Bacurau (2019) ou então o violento Morto Não Fala (2019). Há algo em comum entre os três exemplos: todos são filmes. E como fica o horror televisivo?

Na TV, a produção nacional de gênero é um pouco mais tímida, e geralmente fica limitada à antologias ou então raras exceções, como a excelente Desalma. É por isso que uma obra como Vale dos Esquecidos, da HBO Max, já chama a atenção de quem busca um pouco de desgraça na telinha.

A Legião dos Heróis teve acesso aos três primeiros episódios do programa, que mostra um grupo de jovens de São Paulo que se perdem em uma trilha no interior, eventualmente buscando abrigo em vilarejo desconhecido chamado Vale Sereno. O nome até parece justo de início, com uma pegada anacrônica de um local parado no tempo e escondido do resto do mundo. Não demora muito para as bizarrices dos excêntricos habitantes colocarem a vida dos jovens em risco.

Para os versados no gênero, Vale dos Esquecidos é uma tradicional obra de folk horror, o subgênero de terror pastoral inglês, repleto de cultos bizarros afastados da sociedade. Com excelente visual, o programa vive de locações macabras que evocam a atmosfera nebulosa de Silent Hill, e conquista também por dramas pessoais intrigantes.

Ana parece ter uma conexão com a bizarra seita de Vale Sereno

A protagonista, Ana (Caroline Abras), fisga o espectador por sua complexidade como uma verdadeira agente dupla: fingindo ser guia da trilha, ela é a responsável por entregar o grupo para o culto bizarro, por ter aparentes conexões ao líder gringo da seita. Ela se vê dividida por seus atos ao acidentalmente colocar seu interesse amoroso, Bento (Daniel Rocha), em perigo, e também parece nutrir uma rivalidade com caçadores que moram na floresta.

A comparação com Silent Hill não é muito distante, ainda que não tenha sido inspiração para o projeto. Em coletiva de imprensa, em que a Legião dos Heróis esteve presente, o diretor Fábio Mendonça explicou que a ideia do seriado surgiu com base na vida real: a macabra cidade de Paranapiacaba, local no interior de São Paulo que é popularmente conhecida como “a Silent Hill brasileira”.

Ruas nebulosas de Paranapiacaba inspiraram a criação de Vale dos Esquecidos, que foi rodada lá e em Cotia

Assim como a cidade do game, Paranapiacaba é tomada por névoa, além de ter um interessante passado como cidade ferroviária. Segundo Fábio Mendonça, tanto a estética sombria e meio antiquada do local, quanto suas lendas de arrepiar pediam para ser usada como cenário: “

Estávamos com vontade de fazer uma série de suspense e mergulhar nesse gênero. Eu, pensando e tentando desenvolver ideias, lembrei de Paranapiacaba, daquela atmosfera, neblina e casinhas que parecem mal assombradas. É muito interessante que, como é uma cidade-dormitório, durante o dia não fica ninguém mesmo. De fato tem toda essa atmosfera pronta para uma série de suspense.

 

Aí veio a ideia de uma cidade prisão, e eu e o Antônio Tibau começamos a desenvolver ideias a partir disso. Podemos dizer que o começou de tudo se deu a partir da cidade. Foi um projeto que se deu a partir da locação. Às vezes fazemos projetos que começam a partir de um livro, de uma ideia do personagem, de uma trama muito instigante, e às vezes, pela locação.

Nas referências cinematográficas, Fábio Mendonça e o diretor Daniel Lieff citam a filmografia de Ari Aster, cineasta de Hereditário (2018) e Midsommar (2019) – por sua vez, um filme de folk horror. Ambas são bastante perceptíveis nos primeiros episódios, em uma produção que preza pela atmosfera macabra e angustiante. Além disso, há uma enorme conspiração misteriosa rolando na cidade, o que os diretores afirmam ser influência de Dark, série alemã da Netflix.

Ainda assim, é Paranapiacaba que dá textura e originalidade á produção. O cenário foi tão atraente que não só inspirou a criação da série, como também pediu para ser usado como locação do projeto. Inicialmente, era previsto apenas quatro meses de filmagens ainda em 2020, até que a pandemia da Covid-19 atrapalhou os planos e estendeu esse período para dois anos e meio. As gravações também não foram nada fáceis – Daniel Lieff cita mais de 100 diárias de filmagem, com muitas delas rasgando a madrugada -, e o ambiente também não ajudou.

Atores sofreram com as condições naturais desafiadoras do set de Vale dos Esquecidos

O ator Daniel Rocha, que vive Bento, relembra da experiência em um misto de carinho e superação, afirmando que as condições de chuva, frio e lama eram tão intensas que ele chegou a perder três pares de bota para a natureza. O elenco, por sua vez, se divertiu em um set bastante descontraído e com muito bom humor, especialmente pelas piadas de Lieff: “Se não fosse dessa maneira, ninguém aguenta”, afirmou o ator.

No fim das contas, o esforço compensou, e todos os presentes na coletiva virtual pareciam altamente orgulhosos do projeto. Fábio Mendonça elogiou bastante a gerência da HBO Max, que abraçou o projeto sem cortes ou alterações, mesmo que não fosse algo para a família toda.

Os diretores, inclusive, torcem para que seja o ponto de partida para mais séries de horror e suspense na televisão, gêneros que acreditam que funcionam maravilhosamente bem no formato seriado: “É um gênero muito televisivo. A gente vê o sucesso de séries policiais e de mistério, porque são viciantes”, garante Daniel Lieff.

Vale dos Esquecidos estreia em 25 de setembro na HBO e no catálogo da HBO Max, com transmissão semanal aos domingos.

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