Entrevista: Como The Boys moldou o novo filme do Predador

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Entrevista: Como The Boys moldou o novo filme do Predador

Por Arthur Eloi

Televisão é um meio em que são os produtores que dão as ordens, mas não ache que o diretor é dispensável – especialmente quando se trata do piloto. O primeiro episódio de séries carrega certa importância, tanto por ser o primeiro contato do público com a trama, como por estabelecer a linguagem de tudo que virá depois. É por isso que é comum ver diretores de cinema comandando pilotos, como Karyn Kusama (Garota Infernal) para Yellowjackets, ou então Dan Trachtenberg para The Boys.

O cineasta é um nome promissor do gênero, em razão de seu único filme – Rua Cloverfield 10 (2016) – entregar excelência de tensão sufocante. Agora, Trachtenberg assume seu segundo longa com O Predador: A Caçada – e a volta do monstro só se deu por conta do seriado de heróis do Amazon Prime Video, como explicou o diretor em entrevista à Legião dos Heróis.

Tento fazer Predador: A Caçada desde que terminei Rua Cloverfield 10”, explica o cineasta. “Demorou tanto tempo que, nesse período, precisei aceitar outros trabalhos. Trabalhar na televisão é ter que trabalhar muito mais rápido, tudo é muito mais intenso, mas tive a chance de colaborar com gente muito talentosa que me fizeram refletir sobre audiovisual”.

Por si só, os trabalhos que Dan Trachtenberg entregou na televisão já impressionam, como o episódio “Playtest”, da terceira temporada de Black Mirror, ou então o capítulo que abriu a loucura que é The Boys.

Episódio piloto de The Boys foi dirigido por Dan Trachtenberg, o mesmo diretor de Predador: A Caçada

Além dos nomes de peso no currículo, o cineasta garante que o mais importante foi as conexões que fez no set: “Aprender com os showrunners como Eric Kripke, de The Boys, ou então Charlie Brooker, de Black Mirror – duas mentes brilhantes que entendem muito sobre narrativa – mexeu muito com a minha perspectiva”.

Esse aprendizado parece ter sido maior em The Boys. Segundo Trachtenberg, a insanidade sangrenta do seriado lhe ensinou como conciliar uma boa trama com momentos de violência gráfica, algo que se tornou essencial para o desenvolvimento de Predador: A Caçada:

Foi The Boys que me deu a habilidade de testar os limites e ser muito mais violento do que já fui na vida, mas sempre tendo um objetivo. Isso é algo que trouxe para Predator: A Caçada, esse equilíbrio entre ter lutas empolgantes e viscerais que não sejam só apelativas, mas que tenham algo a dizer.

The Boys também trouxe ensinamentos práticos para A Caçada. Afinal, uma das grandes habilidades do Predador desde o clássico de 1987 é a capacidade do alienígena de camuflagem, ficando invisível enquanto atormenta suas presas na selva. No seriado, quando Hughie (Jack Quaid) e Billy Bruto (Karl Urban) enfrentam seu primeiro herói da Vought, é ninguém menos que o Translúcido – cujo poder é justamente ficar invisível. Dan Trachtenberg nota a ironia nesse acaso:

Por uma grande coincidência, no piloto de The Boys que eu dirigi tinha uma luta contra um homem invisível, então eu acabei aprendendo algumas coisas ao dirigir aquela cena de luta que pude aplicar nesse filme.

Predador vs. Comanches

E quanto ao novo filme do Predador? O longa é a obra mais original da franquia desde o filme clássico, em especial por sua excelente ambientação.

Por volta dos anos 1700, uma nativo-americana chamada Naru (Amber Midthunder) precisa se provar uma guerreira digna ao concluir sua primeira caçada. O problema surge quando, no meio das florestas do território que hoje é dos Estados Unidos, ela cruza o caminho de uma ameaça do espaço, com armamento muito superior a qualquer coisa que já viu na vida.

Predador: A Caçada coloca o monstro alienígena na cola de guerreiros comanche

O filme conquista pelo excelente elenco, composto quase que inteiramente por nativos-americanos, e pela enorme autenticidade na forma como retrata essa civilização de guerreiros e caçadores.

Muito disso é fruto do envolvimento da produtora Jhane Myers, nativo-americana e comanche, que supervisionou essa mistura de história de amadurecimento com horror sci-fi: “Predador é perfeito para isso!”, ela conta com entusiasmo à Legião dos Heróis. “O filme mostra como nós Comanches éramos antes da colonização e ocupação dos nossos territórios. É uma combinação muito interessante, e você não espera ficar investido por todo o suspense. […] Você está lá curtindo uma história de um bando comanche em uma caçada, e de repente é atingido pelo Predador”.

Claramente animada pelo projeto, Myers conta que teve envolvimento em todos os departamentos, para garantir o máximo de autenticidade. Isso é especialmente visível no elenco nativo-americano, que surpreende pelo talento – ao ponto que até Dan Trachtenberg foi impactado durante os testes:

Nós trabalhamos com um excelente diretor de casting: Rene Haynes, que se especializa em encontrar jovens talentos nativo-americanos. Não foi uma escolha difícil, assim que vimos Amber Midthunder, Dakota Beavers e suas habilidades, foi uma decisão óbvia. São muito talentosos! Nos testes, pedimos para eles fazerem algumas cenas, e depois fazerem tudo de novo falando em comanche, e depois os colocamos em testes físicos, e eles estavam prontos para tudo que eles enfrentaram em uma filmagem extensa e árdua.

Em A Caçada, o Predador ganha um novo visual para se adequar ao período histórico e para surpreender até os fãs mais antigos da franquia

Por fim, a dupla garante que O Predador: A Caçada é uma experiência inédita até para quem acompanhou fervorosamente a franquia, desde o clássico de 1987, os embates contra o Xenomorfo de Alien, e também os reboots mais recentes. Segundo Jhane Myers, parte desse elemento de novidade está na ambientação histórica, que afeta até a tecnologia do monstro alienígena:

A história se passa 300 anos antes do filme original, então é um Predador mais primitivo e feroz para poder se adaptar ao ambiente em que ele está. Até sua tecnologia, que é de ponta para o período, ainda não está no mesmo patamar que vemos no futuro. Mudamos bastante coisa, como o jeito que a máscara dele funciona.

Já Dan Trachtenberg garante que o objetivo dessa mudança de ambientação, e também do visual do Predador, é para transmitir ao público – novato ou veterano – a mesma sensação que o filme de 1987 passou:

No clássico, você via primeiro a criatura invisível, depois de máscara, e só depois sem a máscara, que é praticamente um monstro novo. Isso era algo que eu queria fazer de novo, criar uma experiência empolgante que fosse inédita até para os veteranos que já estavam acostumados com o visual do Predador.

O Predador: A Caçada estreia no Brasil em 5 de agosto, direto no catálogo do streaming Star+.

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