Review: Triangle Strategy é um jogo de Game of Thrones que desperdiça a chance de ser grandioso

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Review: Triangle Strategy é um jogo de Game of Thrones que desperdiça a chance de ser grandioso

Por Gabriel Mattos

Triangle Strategy é um jogo de RPG tático exclusivo do Nintendo Switch, distribuído pela Square Enix. Com cara de Octopath Traveler e roteiro estilo Game of Thrones, o título tinha tudo para se tornar o novo queridinho do console híbrido. Pena que o ritmo capenga e um elenco sem carisma apagaram o brilho de uma competente aventura estratégica.

Ficha técnica

Título: Triangle Strategy

Desenvolvedora: Square Enix

Distribuidora: Nintendo

Plataformas: Nintendo Switch

Lançamento: 4 de março de 2021

Gênero: RPG Tático

Tradução para o Português: Não

Tamanho do arquivo digital: 6,3 GB

Crônicas de Sal e Sangue

Cheio de traições e tramóias, história lembra Game of Thrones

Antes de falar do aspecto tático, preciso elogiar a ambientação. Triangle Strategy bebe diretamente da fonte de As Crônicas de Gelo e Fogo, a famosa saga de George R. R. Martin para criar seu mundo medieval.

A região onde a trama se desenrola é dividida entre três reinos bastante distintos, em costumes e ideologias — a ambiciosa Aesfrost, a religiosa Hyzante e Glenbrook, o lar da Casa Wolffort. A analogia nem um pouco discreta com os Stark vai da conexão com lobos ao seu papel na história: a família do protagonista é o saco de pancada de uma guerra de interesses entre os reinos.

A escolha de colocar o jogador no lado mais fragilizado da história é ótima para mover a trama, mas nem isso ajuda a minimizar o ritmo fraco da narrativa. Preparando uma infinidade de elementos que só vão ser relevantes na segunda metade da história, o começo do jogo se arrasta dolorosamente.

Mesmo as cenas mais intensas não tem muita emoção.

Nada de surpreendente acontece. Tudo é muito previsível. Se você assistiu a primeira temporada de Game of Thrones, tem uma boa noção do que vem pela frente. Mas o pior é que, mesmo a trama não sendo nada revolucionária, o roteiro acha de bom tom cozinhar lentamente a iminente guerra que todos sabemos que vai acontecer.

Poderia ser um ótimo momento para desenvolver os personagens, mas todo o elenco principal é bem fraco. Não existe muita nuance, apenas motivações bem objetivas para alguns traços simples de personalidade que engessam os personagens em estereótipos. Frederica é delicada e recatada, como uma princesa; Serenoa é corajoso e justo, como um bom líder; Benedict é leal e pragmático, como um conselheiro deve ser e por aí vai.

Assim, resta para o combate a missão de prender a atenção do jogador logo de primeira. A base do sistema é como qualquer outro RPG tático — os personagens são como peças em um tabuleiro, cada um com suas habilidades únicas. Posicionamento é crucial para tomar a vantagem nas batalhas, aproveitando muito bem o estilo visual único do título.

Posicionamento, clima e propriedades elementais precisam ser levados em conta para vencer.

A tridimensionalidade faz dos campos de batalha verdadeiros dioramas, o que acaba sendo adicionando uma nova dimensão ao combate — altura. Os próprios cenários ajudam a trazer diversidade as lutas, sempre mudando o jeito de interagir com a sua noção de espaço. Além disso, questões elementais e climáticas também podem ser manipuladas por certos combatentes, elevando o nível de pensamento estratégico necessário para alcançar a vitória.

As novidades colocam o combate um nível acima de rivais como Fire Emblem e Final Fantasy Tactics, mas a ausência de ferramentas muito básicas, como marcar o alcance de inimigos mais perigosos, deixa uma sensação amarga de incompletude. Outro defeito inesperado deste sistema robusto é a morosidade dos combates, que podem se arrastar por ainda mais tempo devido a uma variedade tão grande de opções, especialmente na segunda metade do jogo. É preciso estar preparado e disposto para esse jogo.

As batalhas começam a se tornar um problema maior conforme a história avança. Conforme a narrativa fica mais envolvente, o combate começa a perder seu brilho. Todo conflito tem um nível recomendado para seus soldados, que não necessariamente acompanham seu progresso de forma satisfatória. Infelizmente é necessário algum grinding para avançar na dificuldade normal sem maiores dores de cabeça, o que prejudica ainda mais o ritmo do jogo.

Batalhas podem se tornar complicadas

A história só pega no ritmo quando decide lançar mão com mais frequência de sua mecânica mais inventiva — as Scales of Truth. Em alguns pontos da trama, o jogador precisa tomar uma decisão de qual caminho seguir. Como a Casa Wollfort está sempre sendo usada pelas casas maiores em seu jogo de poder para conseguir o domínio do sal, maior riqueza deste universo, as opções sempre são ruins. Aí entra a democracia.

Ao invés de apresentar ao jogador uma simples escolha, o jogo propõe uma votação entre os personagens principais, que se mantém inalterados ao longo da jornada. Cada personagem tem uma inclinação a votar de acordo com suas convicções, sempre de maneira muito coesa, mas o jogador pode interferir para convencê-lo de tomar o seu caminho favorito.

Convencer personagens mais decididos é um desafio e tanto, tornando a história mais interessante ao acrescentar um envolvimento mais ativo. Entretanto, praticamente toda decisão pode ser tomada apenas convencendo um personagem que não tenha uma opinião muito forte sobre o assunto. No final, a escolha ainda está nas mãos do jogador, mas todo esse processo democrático torna a experiência muito mais envolvente.

Votação traz ilusão de escolha, mas uma empolgação necessária

Os argumentos dos personagens podem te convencer de outro caminho e a história pode te levar a lados inusitados. O frustrante é que algumas decisões demoram a dar frutos, assim como muitos ganchos na história. Neste meio tempo, o roteiro poderia ter aproveitado para desenvolver as relações entre os personagens. Porém, nada de interessante acontece neste sentido.

Não existem incentivos para se importar com nenhum personagem em específico. A história não tem coração e não se preocupa em evocar sentimentos, como um bom drama faria. Espere apenas reviravoltas e progresso em nível global. Os esquemas para conseguir poder são muito engenhosos e garantem um bom entretenimento, mas nada que vai explodir a cabeça de ninguém.

Nota: 7/10

Caso você tenha paciência para encarar aproximadamente 20 horas de jogo antes das coisas ficarem interessantes, Triangle Strategy pode se revelar um jogo de estratégia super competente. Apostar na temática Game of Thrones foi uma maneira inteligente de injetar um pensamento estratégico na narrativa que continua intenso quando as batalhas começam.

 

Falta coração na história, mas o roteiro compensa o quanto pode com sacadas perspicazes e uma mitologia política muito coerente. No fim, Triangle Strategy pega o jeito com o tempo, escondendo uma experiência bem satisfatória, mas a jornada é tão exaustiva que dificilmente vale a pena. Pode ser melhor simplesmente rejogar seu Fire Emblem favorito.

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