Review: Tiny Tina’s Wonderlands retoma a expansão de Borderlands 2 com repetição viciante e um ótimo elenco
Review: Tiny Tina’s Wonderlands retoma a expansão de Borderlands 2 com repetição viciante e um ótimo elenco
Derivado retoma temática de RPG de mesa com shooter satisfatório mas que parece outra DLC
Há uma década, Borderlands 2 chegava para enfim mostrar o potencial desse universo cartunesco de maníacos com uma aventura explosiva e verdadeiramente surtada. O game foi um enorme sucesso, e motivou a desenvolvedora Gearbox Software a continuar expandindo-o com DLCs. No ano seguinte, em 2013, surgiu a excelente Tiny Tina’s Assault on Dragon Keep, que trocava a ambientação a lá Mad Max por Dungeons & Dragons em uma campanha mestrada pela criança psicopata Tiny Tina.
A expansão conseguiu sucesso quase tão grande quanto o jogo-base, e transportou as excelentes mecânicas e o humor escrachado de Borderlands para um mundo de fantasia medieval irônica. Quase uma década depois, esse derivado enfim ganha um game para chamar de seu com Tiny Tina’s Wonderlands. Um hiato de 9 anos pode parecer severo, mas o título faz parecer que o tempo nem passou – o que pode ser bom e ruim, dependendo de como você decidir encarar.
https://www.youtube.com/watch?v=0-RAqyHU48M
Ficha técnica
Título: Tiny Tina’s Wonderlands
Desenvolvedora: Gearbox Software
Distribuidora: 2K
Plataformas: PC (Windows), Xbox One e Series X/S, PS4 e PS5
Lançamento: 25 de março de 2021
Gênero: Jogo de Tiro em Primeira Pessoa, Ação e Comédia
Tradução para o Português: Sim, mas só nas legendas
Bunkers & Badasses
Continuação da expansão de 2013, Wonderlands inicia uma sessão de RPG de mesa mestrada por Tiny Tina. Em uma nave abandonada, ela explica seu universo para o egocêntrico Valentine, a robô Frette e um personagem criado pelo jogador. A aventura coloca os heróis na luta contra o Dragon Lord, um ser maldoso que ameaça tomar controle da narrativa do jogo.
Por mais que um curto tutorial brinque com as tradicionais histórias de origem de RPG, o game não demora muito para colocar uma arma em suas mãos e te jogar para cima de hordas de oponentes. Não que isso seja um problema. A franquia Borderlands brilha mesmo em seus momentos de ação caótica, com arenas infestadas de criaturas, gritaria e muito loot a ser colecionado.
O novo jogo segue a fórmula sem nenhuma alteração. Por baixo de toda justificativa narrativa, o objetivo é simples: se equipar com armas poderosas, matar todo tipo de inimigo, coletar seus drops, e subir de nível para poder usar armas ainda mais poderosas quando o ciclo recomeçar. Repetição é a essência da saga, e nem mesmo uma roupagem medieval ofusca esse loop. Na verdade, vira até piada dentro do game o fato de ser uma trama de fantasia com certa obsessão por armas de fogo, fruto da mente doentia e explosiva de Tina.
O máximo de mudanças que a nova ambientação permite é um sistema de customização surpreendentemente robusto, que deixa para trás muitos RPGs de verdade, e um sistema para alocar seus pontos de experiência. Cada uma das cinco classes conversa melhor com determinadas distribuições de atributos, como inteligência, força e por aí vai.
De início, pode parecer algo importante, que possa influenciar na jornada e na forma como seu personagem se porta, mas no fim das contas apenas serve como leve modificador para a ação. Sabedoria, por exemplo, não altera nenhum diálogo ou abre qualquer tipo de opção secreta, apenas garante menos tempo de recarga para suas habilidades especiais.
Isso acaba descrevendo a experiência como um todo. É um pensamento lógico imaginar que um intervalo de 9 anos entre a expansão e o jogo completo resultariam em algo maior, mais ambicioso ou pelo menos minimamente diferente, mas a resposta é não.
Wonderlands poderia muito bem ser outra DLC de Borderlands 2, já que utiliza as mesmas abordagens ao design de missões e à narrativa. Sua jornada é marcada por aceitar uma infinidade de quests sobre ir para algum lugar, coletar itens específicos e retornar para falar com algum NPC, com arenas lotadas de inimigos entre cada uma dessas etapas.
Mais estranho ainda é o fato de que a mudança mais notável é a campanha ser mais linear que os jogos principais. Ao invés de explorar mapas vastos e com vários caminhos, as fases são pequenas e costumam ser cortadas por um caminho principal, ainda que conquistem com visuais coloridos e belos cenários cartunescos. Para entrar em cada mundo, é preciso transitar pelo Overworld, um tabuleiro em visão isométrica que serve como hub para as áreas e objetivos opcionais. Tudo isso dá a sensação oposta de um ser um jogo completo, já que truques do tipo costumam dar as caras em expansões e conteúdos menores.
Party fechada
O que torna o game digno de atenção não é só a jogabilidade deliciosamente satisfatória, mas sim o excelente elenco reunido para a nova aventura. Em 2012, Tiny Tina marcou o primeiro papel da atriz Ashly Burch, que se juntou à Borderlands 2 graças ao fato de que seu irmão, Anthony Burch, era o roteirista daquele projeto.
Ela não só roubou a cena como também conquistou uma carreira de peso nos games, fazendo depois a voz de Chloe em Life is Strange, e de Alloy em Horizon. Vê-la de volta ao papel que a lançou depois de uma década é impagável, já que Burch se mostra mais confiante e descolada do que nunca como a pequena maníaca que mestra a aventura.
A narração de Tiny Tina é a parte central do humor do game. A personagem, conhecida por seu amor por explosivos e assassinato, mostra seu lado mais criativo ao conduzir o jogador por um mundo de fantasia irônica. Ajuda também que dessa vez há outros nomes de peso para acompanhar.
O capitão Valentine é interpretado por Andy Samberg, em um papel que poderia muito bem ser uma extensão de seu Jake Peralta, de Brooklyn Nine-Nine. Já a robô Frett tem a voz da divertidíssima Wanda Sykes (Curb Your Enthusiasm, The New Adventures of Old Christine). Por fim, o vilão Dragon Lord, que alterna entre atos de maldade e comentários ácidos, é interpretado por Will Arnett, de Arrested Development e BoJack Horseman.
Um ótimo elenco desses ajuda a mascarar muitos dos problemas com a narrativa do game. Não que o roteiro saiba exatamente como utilizá-los, já que todos ficam apenas como “comentaristas” da aventura do jogador, mas o talento e carisma de todos os envolvidos é o suficiente para segurar a barra.
Ouvir as trocas de farpas entre Valentine e Frett, a forma como Tina inventa situações bizarras do nada, e também as sacadinhas irônicas do Dragon Lord, servem como recompensas pela repetição mecânica. Pode não funcionar para todos, claro, mas com certeza será especial se você for fã dos atores e suas respectivas obras.
É bom que o elenco conquiste porque a escrita não faz milagres. O humor da franquia é assumidamente bobo, mas aqui parece penar bastante para tentar emplacar suas piadas, além de ser contido nos absurdos. O game nunca chega a ser tedioso ou vergonhoso, mas definitivamente não é hilário, e falha em estabelecer uma personalidade além do carisma dos intérpretes.
Ainda há situações que arrancam risos, como uma quest em que é preciso ajudar uma influencer medieval a esculpir selfies em pedras, ou então outra em que o jogador acaba confrontando um cemitério de bardos zumbis, que arremessam alaúdes. Há uma infinidade de boas sacadinhas para garantir um riso de escanteio, mas o jogo nunca alcança o seu objetivo de fazer gargalhar.
Tiny Tina’s Wonderlands parece outra expansão que simplesmente esqueceu de ser lançada. Isso se manifesta no design repetitivo, nas fases pequenas, nas animações engessadas dos personagens. Falta algo que se diferencia mas, ao mesmo tempo, é muito honesto em ser mais do mesmo, e tenta compensar tudo com muito carisma e uma jogabilidade muito satisfatória.
Se você ama Borderlands, vai encontrar uma experiência familiar e viciante como sempre. Se você não se dá bem com a franquia, não há nada aqui que faça você mudar de ideia.
Tiny Tina’s Wonderlands chega ao Xbox One, Xbox Series X | S, PlayStation 4, PlayStation 5 e PC (via Epic Games Store) em 25 de março.
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