Review: The Legend of Vox Machina, do Prime Video, é um presente para os fãs de RPG e Critical Role
Review: The Legend of Vox Machina, do Prime Video, é um presente para os fãs de RPG e Critical Role
Primeiros seis episódios da série são carregados de carisma e brutalidade.
Não é preciso ser um grande fã de RPG para conhecer Critical Role. Afinal, o que antes começou como uma brincadeira de D&D entre amigos, logo se tornou um dos maiores sucessos mundiais da internet, conquistando milhares de fãs. Agora, enquanto esses talentosos dubladores caminham em sua terceira campanha de aventuras, a Amazon Prime Video lança The Legend of Vox Machina, uma série animada para adultos, adaptando a história dos primeiros personagens que deram início a esse império.
A Legião dos Heróis teve acesso aos seis primeiros episódios da série, e tudo indica que o pessoal de Critical Role tem outro sucesso colossal em suas mãos.
Fugindo das expectativas
Em The Legend of Vox Machina acompanhamos um grupo de mercenários, conhecidos por serem desajustados e beberrões, que acabam se envolvendo em missões complexas para tentar salvar o reino de Exandria de forças maléficas. O que se inicia como uma tentativa de conquistar alguns trocados para pagar as contas, logo se transforma em uma jornada épica e bastante pessoal, levando os heróis por caminhos perigosos que os coloca contra monstros, vilões e maldições arrepiantes.
Apesar da premissa interessante, há, no entanto, um grande desafio nesse projeto. Como adaptar personagens que já são tão queridos e que, na maior parte do tempo, só existem na imaginação daqueles que acompanharam a mesa de Dungeons & Dragons jogada pelo pessoal de Critical Role? Como corresponder com as expectativas dos fãs e transformar tramas que surgiram entre centenas de sessões de várias horas em episódios de aproximadamente vinte minutos?
The Legend of Vox Machina funciona por fazer escolhas inteligentes para enfrentar essas complicações, criando uma série animada que não se prende na missão impossível de ser extremamente fiel ao que os fãs já conhecem. Tendo os criadores desses personagens (e deste universo) como produtores executivos que acompanharam cada detalhe do desenho, o resultado é um projeto que mantém a essência do que os fãs já conhecem, mas que vai direto ao ponto.
Assim, vemos que os personagens continuam com suas lores trágicas, personalidades vibrantes e habilidades incríveis. Outros detalhes, porém, foram removidos para tirar a “enrolação” que existe em uma mesa de RPG e que não teria espaço em uma série animada. Com isso, vemos alguns eventos surgirem antes do esperado, mas que funcionam e contribuem para a criação de uma narrativa mais coesa e envolvente.
Encantador, apesar dos deslizes
A primeira metade da temporada consegue introduzir o grupo de mercenários com muita agilidade, já iniciando a ambiciosa história que planeja contar logo no primeiro episódio. Para aqueles que estavam acostumados com a campanha de Vox Machina, com a narrativa minuciosa de Matthew Mercer e sua trama que é trabalhada aos poucos, esse início pode parecer um tanto apressado demais. Entretanto, ele funciona muito bem para a mídia em que essa trama está sendo desenvolvida.
Dessa forma, somos conhecemos os principais traços de personalidade e caráter de cada integrante da party, bem como quais são as relações e a dinâmica entre eles. Isso evita que cada heróis seja apresentado separadamente, ainda que parte da identidade (e do passado) deles seja desenvolvida com mais atenção ao longo dos episódios.
Assim, conforme a série avança, vamos conhecendo os heróis passam a ganhar mais nuances e complexidades, o que resulta em um grupo cativante de protagonistas. Do jeito mais abobalhado de Grog, até a timidez e insegurança de Keyleth, passando pela relação fraternal entre Vex e Vax, a putaria de Scalan, aos momentos mais dramáticos de Percy e Pike, tudo está muito divertido e bem trabalhado.
Aliás, é elogiar o trabalho dos dubladores da Vox Machina — que também são os criadores dos personagens, diga-se de passagem. Como já era de se esperar, eles estão excelentes em dar vida aos heróis, contribuindo para que o jeito caótico e divertido do grupo nos conquiste ainda mais.
Dando início com uma missão insana, a série rapidamente mergulha na ação, o que faz com que o desenho já comece em um ritmo frenético, algo que se mantém ao longo dos episódios. Nesta jornada, conhecemos uma série de criaturas fantásticas e vilões terríveis, além de termos vemos batalhas extremamente violentas. Contudo, The Legend of Vox Machina consegue equilibrar os momentos de tensão com humor e o desenvolvimento dos protagonistas, o que deixa o programa ainda mais interessante.
Falando sobre a violência gráfica presente na série, este é um dos aspectos que mais surpreendem no projeto. Assim como foi o caso de Invencível, outra adorada série do Prime Video, The Legend of Vox Machina não economiza no gore e nas mortes brutais. Mesmo que isso adicione uma camada especial para seu enredo, mostrando consequências reais das batalhas, em alguns momentos a selvageria parece que foi feita apenas para chocar e parecer mais adulta.
Isso fica ainda mais claro quando vemos que diversos figurantes foram adicionados em cena apenas para morrer de forma brutal, sem que esse fim sanguinolento adicione algo para a trama. Com isso, ao invés de termos algo que contribui para enriquecer o enredo, o que surge como marcante, acaba se tornando um tanto repetitivo por seu exagero.
Apesar do trabalho na narrativa ser feito com muito esmero, a série poderia se beneficiar muito com um investimento maior na animação da segunda temporada — que é outro ponto que deixa a desejar no projeto. Em diversos momentos a série opta por contrastar os traços simples e leves, que funcionam muito bem e são visualmente bonitos, com modelos que remetem ao 3D na tentativa de adicionar mais dinamismo.
Entretanto, o resultado disso não funciona tão bem, uma vez que parece que as duas coisas não se misturam de forma harmoniosa. Enquanto a simplicidade da maioria das cenas em 2D encanta por ser atual, o trabalho no estilo 3D parece ultrapassado e rebuscado demais. Então, uma cena que poderia ser gloriosa e linda, acaba sendo machucada com elementos que não combinam e destoam de tudo, tirando o brilho da animação e atrapalhando a imersão na aventura.
Um grande presente aos fãs
Mesmo com seu ritmo rápido, não é preciso ter nenhum conhecimento prévio sobre os personagens, sobre a campanha de Critical Role ou sobre Dungeons & Dragons para aproveitar The Legend of Vox Machina. O projeto foi criado de uma forma que qualquer pessoa consegue acompanhar a história e entender o que está acontecendo.
Com isso, a série funciona como uma porta de entrada para esse universo incrível, sendo uma série de fantasia muito bem feita. Na prática, isso significa que a série não parece ter saído de uma mesa de RPG, o que é algo muito bom.
Entretanto, aqueles que conhecem o sistema e já acompanharam a campanha original, conseguirão se divertir ainda mais com o seriado. Isso porque temos inúmeras referências, piadas internas que fazem referências ao jeito que os atores interagiam, e easter eggs que enriquecem o desenho e servem como pistas do que vem por aí. Mas é bom deixar claro essas doses de fanservice não atrapalham o desenvolvimento da série, sendo apenas uma forma inofensiva de melhorar a experiência dos fãs.
Apesar de um ou outro ponto que deixa a desejar, The Legend of Vox Machina apresenta um começo promissor, sendo um grande presente para aqueles que amam RPG e o trabalho do pessoal de Critical Role. Carregada de violência, humor e personagens cativantes, é impossível não ansiar por mais desse universo.
O começo da série indica uma primeira temporada que faz justiça às aventuras mais primorosas da ficção fantástica, mesmo que exista espaço para que o acabamento do seriado se torne mais refinado no futuro. O mais importante, porém, já está presente e temos uma boa história sendo contada.
The Legend of Vox Machina é uma produção do Amazon Studios, Critical Role e Titmouse. Como não poderia ser diferente, o projeto é estrelado pelos integrantes do Critical Role, que interpretam os personagens que eles mesmos criaram, Laura Bailey (The Last of Us: Parte II), Taliesin Jaffe (Final Fantasy XIV), Ashley Johnson (The Last of Us), Liam O’Brien (Star Wars: The Bad Batch), Matthew Mercer (Overwatch), Marisha Ray (Final Fantasy XV), Sam Riegel (Teenage Mutant Ninja Turtles) e Travis Willingham (Marvel’s Avengers).
Além de dublar os protagonistas da série, o elenco de Critical Role também atua como produtores executivos, posição que dividem com Brandon Auman (Star Wars: Resistance) e Chris Prynoski (Metalocalypse).
A primeira temporada de The Legend of Vox Machina, que terá doze episódios, estreia no dia 28 de janeiro de 2022.
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