Review: The Callisto Protocol é agressivamente “okay”

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Review: The Callisto Protocol é agressivamente “okay”

Por Lucas Rafael

Parece um surto coletivo lembrar que The Callisto Protocol foi originalmente anunciado como um game ambientado no universo de PUBG. De lá pra cá, o jogo se desvencilhou do battle royale e seu marketing foi mais focado em vender um “sucessor espiritual de Dead Space” – já que, inclusive, muitos ex-membros do falecido estúdio Visceral Games (responsável por Dead Space) integram a Striking Distance, desenvolvedora de Callisto.

Surgindo como uma nova promessa no gênero de horror, Callisto Protocol opera de acordo com uma receita, mantendo-se constantemente em território seguro sem inovar muito. Até existem tentativas de algo diferente – como o combate (mais sobre ele à frente) -, porém Callisto parece nunca se elevar acima de suas inspirações, que incluem filmes como Event Horizon, Alien e, é claro, jogos como seu “primo”, Dead Space.

Nada disso significa que The Callisto Protocol seja um jogo indigno da sua atenção. Explico melhor abaixo.

Ficha Técnica:

Título: The Callisto Protocol

 

Distribuidora: Krafton, Inc

 

Gêneros: Horror, ação em terceira pessoa

 

Lançamento: 2 de Dezembro de 2022

 

Plataformas: PlayStation 4/5, Xbox Series S/X e PC

 

Tradução para o PT/BR: Não

 

A performance de Callisto Protocol

Sim, um traje meio Dead Space das ideias da as caras em Callisto Protocol.

No dia de seu lançamento, Callisto foi vítima de diversas análises negativas entre a imprensa e usuários por questões de performance – especialmente no PC. Joguei o game num PS5 e posso afirmar que nem o console se salvou.

Até a data de lançamento (recebi o jogo coisa de uma semana antes), o game apresentava engasgadas frequentes, quedas de FPS constantes e o pior, crashava sempre ao final de uma determinada cutscene.

Cerca de três horas jogando a campanha e então, de repente, não era mais possível avançar.

O problema só foi remediado no dia do lançamento do jogo, permitindo que eu seguisse com a minha jogatina.

Pós-lançamento, questões de stuttering (as tais engasgadas) e crash pareciam estar completamente sanadas. Ainda não tenho ideia de como seja a experiência em PCs, mas Callisto Protocol é perfeitamente jogável num PS5 após o seu lançamento.

Por falar em performance, gráficos e todo esse pacote técnico, The Callisto Protocol é uma experiência muito bonita.

Várias texturas saltam aos olhos, especialmente as superfícies purulentas e viscosas que cobrem monstros e paredes. O destaque (assim como em Dead Space) vai para a iluminação, especialmente dos cenários mais claustrofóbicos como corredores.

Um corredor assustador mas belamente iluminado.

A narrativa de Callisto Protocol: uma prisão muito louca.

Jacob Lee (interpretado por Josh Duhamel) só precisava descarregar algumas mercadorias, mas por infelizes circunstâncias do destino (envolvendo um ataque terrorista em outro lugar que pode ou não estar relacionado a Jacob), ele acaba sendo detido em Black Iron, uma prisão localizada na lua jupiteriana de Callisto.

Callisto Protocol é um jogo que dificilmente vai te prender pela história, já que ela é super amarrada em clichês do gênero. 

Um surto varre a prisão transformando seus prisioneiros em monstros e há uma possível conspiração por trás disso tudo. Só para você ter uma ideia, aí pelas tantas chegam a discursar sobre o “próximo estágio da evolução humana” e tudo o mais. Um refogado de tudo que você já viu envolvendo cientistas ambiciosos lidando com novos organismos. 

Karen Fukuhara (The Boys) também aparece por aqui, interpretando Dani. Todas as atuações – protagonista incluso – são passáveis e ajudam na imersão de uma história feijão com arroz. O ponto é, não chegue em Callisto esperando um Last of Us em termos de ambição narrativa.

Um destaque precisa ser citado: as expressões faciais dos personagens. O negócio é muito, mas muito impressionante mesmo, das caretas até o suor translúcido que escorre pela pele dos nossos sobreviventes. Importante mencionar as expressões faciais, já que você verá Jacob contorcendo bastante sua carinha no decorrer do game.

Olha que coisa mais linda mais cheia de graça.

Violência, brutalidade, morte

Jacob vai fazer diversas caretas no decorrer The Callisto Protocol, já que se trata de um jogo bastante punitivo (especialmente em seu início) e as animações de morte aqui superam as de Dead Space em detalhismo e sadismo.

Jacob terá seu braço arrancado, olhos perfurados, sofrerá traumatismo craniano e será fatiado, entre muitas outras variações grotescas e criativas de como um ser humano pode ser abatido numa prisão infestada por monstros humanoides.

Todo esse gore, claro, não se restringe apenas às mortes do protagonista. Dependendo de onde você atira num inimigo, ele pode perder aquele apêndice de seu corpo, e não, mirar na cabeça não é garantia de morte certa, já que alguns inimigos vão vir para cima mesmo desprovidos de um cérebro.

A violência também é especialmente gloriosa no combate corpo-a-corpo, que é um ponto focal de Callisto Protocol e um de seus maiores calcanhares de Aquiles. Vamos falar sobre ele agora.

O combate de Callisto Protocol

The Callisto Protocol possui uma ênfase surpreendentemente grande em combate corpo-a-corpo, e a mecânica em questão aqui é meio diferentona do que estamos acostumados.

Funciona quase como um Quick Time Event (quando você precisa apertar um botão que aparece na tela no momento certo, só que aqui o botão não aparece na tela).

O inimigo se aproxima de Jacob, faz um movimento que indica uma investida. Você precisa então segurar o analógico para qualquer um dos lados (esquerdo ou direito) para que Jacob desvie e, então, quando perceber uma abertura, macetar a criatura com seu bastão até que ela dê indícios de um novo golpe ou caia inerte no chão.

Simples, não é?

Exceto que nas primeiras horas de jogatina pareceu (ao menos pra mim) um esquema meio contra intuitivo. Talvez porque meu cérebro de lagarto achou que eu deveria segurar o analógico na direção oposta ao ataque do inimigo, então eu perdia um tempo vital pensando em qual direção puxar o analógico e aí era punido violentamente por isso.

Eventualmente, descobri que tanto faz a direção, você só precisa segurar o analógico esquerdo para a esquerda ou direita. Percebi isso quando quando estava tentando reposicionar a câmera e desviei por acidente de um golpe, situação que ficou muito comum dali em diante. Então as coisas começaram a fluir melhor, exceto quando pipocavam muitos inimigos na tela. Controle de multidões é um negócio meio irritante e frustrante em The Callisto Protocol por conta da velocidade de Jacob para trocar de armas e golpear.

É natural que num título focado em sobrevivência os desenvolvedores pressionem o jogador com esse tipo de escolha no design (a lentidão do seu boneco), mas há uma linha tênue entre punição e frustração que Callisto Protocol não consegue caminhar direito.

Existe, claro, uma certa satisfação em dominar o combate, que deixa Callisto mais parecido com um título de luta, um brawler, do que um survival horror propriamente dito.

Há uma variedade de inimigos que o game usa para quebrar essa monotonia de “brawler de terror“. Por exemplo, um inimigo que fica invisível vai te atacar e recuar logo em seguida, mudando um pouco a dinâmica do combate. Mais pra frente, tentáculos irão irromper dos monstros, indicando que eles irão sofrer uma mutação para algo mais forte, fazendo com que você precise abatê-los rapidamente, de preferência atirando nos tentáculos em questão.

Da metade pro final, quando Jacob está mais empoderado com armas, munição e upgrades, a coisa toda fica bem menos opressora e mais tranquila. Especialmente graças ao GRP, uma luvinha usada pelos seguranças da prisão para conter os prisioneiros num campo eletromagnético ou algo assim. Você pode usá-la para levitar os inimigos e jogá-los em todo tipo de armadilha mortal convenientemente integrada ao mapa, como grandes ventiladores super-velozes, turbinas e espigões nas paredes que impalam os monstros.

Sério, qual a função prática desse trem aqui além de render um belo processo trabalhista?

Os upgrades funcionam com base nos créditos que você coleta por aí, além de itens que você pode vender num terminal integrado a uma impressora 3D, que, por sua vez, é usada para imprimir upgrades às suas armas, GRP e até mesmo produzir armas inteiramente novas.

Então sim, Callisto é intimidador no início e muitos dos momentos mais frustrantes e punitivos que tive com o game estão distribuídos em suas primeiras horas.

O quão Dead Space é Callisto Protocol?

Dadas diversas similaridades (horror sci-fi, câmera em terceira pessoa, animações de morte, desmembramentos) e até mesmo a equipe envolvida (Glen Schofield, diretor de Callisto, é o mesmo de Dead Space), é natural que os jogos compartilhem semelhanças, desde o HUD diegético (a vida do seu personagem é integrada ao traje dele) até mensagens nas paredes que te orientam em como lidar melhor com os inimigos.

O problema é que Callisto é um jogo muito menos inspirado em seu level design, isso sem falar no supracitado combate que é uma experiência bem diferente daquilo que Dead Space proporciona.

Sobre o level design, Callisto Protocol é muito, mas muito mais linear do que eu esperava. O jogo te espreme por corredores e áreas amplas de combate, mas nunca te dá a chance de realmente explorar a prisão de Black Iron de maneira recompensadora.

O que vai acontecer para te dar a ilusão de exploração é uma constante escolha entre dois caminhos. Um deles vai te fazer lutar contra mais monstros e encontrar alguns poucos itens até desbloquear um atalho que te leva de volta ao caminho principal. O outro é o caminho principal. Esse truque é repetido à exaustão aqui, fazendo com que Black Iron nunca chegue a ser a USG Ishimura de Dead Space.

Onde foi que eu já vi isso antes…

The Callisto Protocol é assustador?

Isso varia de acordo com a sua bagagem em horror. The Callisto Protocol é cheio de jumpscares, ao ponto de transbordar. Dependendo da sua sensibilidade à sangue e mutilações, o pacote aqui até pode ser aterrorizante. Este redator que vos fala achou tudo meio fofo. Deixa eu tentar explicar melhor essa fofura.

Jacob vai se aproximar de uma caixa com itens dentro. Essa caixa fica convenientemente próxima de uma janela. Na hora, você pensa “hm, acho que vai aparecer algo ali”. E realmente aparece um monstrengo se debatendo contra o vidro, para a surpresa de ninguém.

Todo momento suspeito de Callisto Protocol possui um susto embutido, ao ponto de que a melhor analogia em que consigo pensar é a de alguém o tempo todo tentando te fazer cócegas, mas você não exibe lá muita reação. É fofo, sabe? Parabéns pela tentativa, mas eu só sinto cócegas no meu pé e vocês estão insistindo em cutucar a minha barriga.

Existe um inimigo em específico que é legalzinho na primeira vez em que aparece, mas que se torna um verdadeiro porre aí pela sétima.

Basicamente, se ele vê você antes de você ver ele, rola um jumpscare. No final do jogo, quando esse jumpscare rolava eu só me frustrava e pensava “mas de novo isso” antes de apertar triângulo repetidas vezes para Jacob esfaqueá-lo.

Novamente, a experiência varia de acordo com a sua sensibilidade, mas erraram a mão no timing de muito susto aqui.

Esse bicho aqui é um saco.

Uma experiência bacana

Olha só, na meiuca de The Callisto Protocol o jogo tenta variar sua fórmula forçando diversas situações diferentes ao jogador – deslizar por um esgoto desviando de coisas que podem te empalar, se esgueirar em sessões furtivas contra robôs assassinos ou criaturas que lembram os clickers de The Last of Us e até sessões de combate em arenas onde você pode usar estrategicamente o seu GRP para facilitar as coisas ao atirar inimigos em armadilhas ou até mesmo lançar explosivos na fuça deles.

A coisa toda é bem divertida, eu não vou mentir pra você. The Callisto Protocol não é um jogo ruim e acho que é até uma experiência válida para quem se interessa por horror em geral.

O problema, talvez, seja ser refém do que veio antes. Não é um jogo que atinge o brilhantismo do primeiro Dead Space, embora empreste muitas coisas dele. Tem os seus méritos de tentar inovar (especialmente no combate), mas o level design linear não ajuda em muita coisa.

A duração é outro problema (são sete horas sem muita coisa pra ver). Um miniboss reciclado à exaustão também enche o saco. O chefe final é meio facinho e manjado. Tudo isso amarrado numa trama bem genérica.

Mas o jogo é lindo, você nunca viu uma violência tão empolgada por existir e não precisar de amarras em tela, sem falar na satisfação em dominar o combate do game.

Gostei muito de me esgueirar por corredores soturnos com Jacob enquanto uma luz vermelha piscava erraticamente iluminando tripas e cadáveres por todo o canto.

Nota: 7.5/10

 

A pior sensação que eu tenho ao consumir algo ruim é a de ter jogado tempo no lixo. Callisto Protocol passou longe de me dar essa sensação. Até que a jornada valeu a pena, mas eu dificilmente diria que essa geração de games será marcada por esse jogo.

 

Como é afirmado no título, Callisto Protocol é um game agressivamente “okay”. Um jogo bacana. Uma experiência legal feita por gente competente, experiência essa que é muito bela e pontualmente super divertida, mas que não transcende suas influências.

 

Talvez Callisto Protocol encontre sua audiência com o tempo e vire um novo Doom 3: um jogo severamente injustiçado em seu lançamento, mas que carrega sim um bom valor de entretenimento.

 

Por isso, a nota final para Callisto Protocol é um 7.5 de 10.

 

A dica é, se você se interessou minimamente pelo que viu do game, vá sem medo das críticas negativas e pode até se surpreender.

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