Review com spoilers: A Casa do Dragão 1×06 A Princesa e a Rainha
Review com spoilers: A Casa do Dragão 1×06 A Princesa e a Rainha
Salto temporal dá novo fôlego à série, mas não resolve seus maiores problemas
House of the Dragon finalmente chegou ao tão esperado salto temporal que resultou na troca de parte do elenco, mais notavelmente as protagonistas Alicent e Rhaenyra. O episódio é, facilmente, delas, mas as novas dinâmicas e personagens apresentados também se destacam – pena que mal temos tempo para nos apegar a eles.
Depois da grave escorregada no quinto episódio da temporada, o episódio 6 quase consegue se reequilibrar completamente, embora uma de suas grandes incoerências seja resultado direto das falhas do anterior. No geral, é um bom episódio, mas que demonstra alguns dos problemas da série, mesmo quando ela está em seu melhor.
Se iniciando com uma cena de parto que, mais do que chocar ou se deleitar com a dor de uma mulher é surpreendentemente realista, a série já dá espaço para que Emma D’Arcy mostre a que veio desde o início. Substituindo Milly Alcock como intérprete de Rhaenyra, D’Arcy brilha ao longo de todo o episódio, conseguindo dar mais imponência que a versão jovem tinha, tudo com muita expressividade e carisma.
Os outros novos integrantes do elenco também não ficam para trás. Olivia Cooke apresenta uma versão completamente diferente daquela vista até agora por Emily Carey. Alicent não é mais uma jovem um tanto ingênua e cheia de inseguranças. Da mesma forma, sua gentileza não se manifesta como antes, e ela não esconde sua crueldade ao exigir ver o bebê recém-nascido de Rhaenyra logo após a princesa dar a luz.
O momento marca tanto pela força da Targaryen em enfrentar isso mesmo em meio à dor e deixando um rastro de sangue, quanto pela maldade da rainha em exigir isso dela. É uma dinâmica completamente diferente do que havia sido mostrado entre as duas até agora, e estabelece o tom de todas as cenas entre elas daqui em diante. A amizade que um dia existiu ficou para trás, e a guerra entre elas não é tão fria quanto o rei Viserys se esforça para acreditar que é.
Como apreciadora dos livros de George R. R. Martin, a caracterização agrada ao aproximar mais os personagens de suas contrapartes literárias. Mais que isso, porém, as mudanças fazem sentido com o que foi visto na série até então, ao mesmo tempo em que trazem frescor ao mudar um pouco o que já sabíamos e esperávamos dos personagens até agora. Dez anos é mais que o suficiente para que Rhaenyra tenha deixado para trás as birras da adolescência, bem como para permitir que Alicent se sinta confortável o suficiente como rainha para não se esconder em expectativas dos outros. E, nesse sentido, o grande salto temporal é extremamente bem-vindo com todas as mudanças em personagens e dinâmicas que trás.
Bastaria isso, porém, e deixar as coisas de fato acontecerem, diferente dos constantes saltos vistos na primeira metade da série. Pena que isso não acontece, e afeta o modo como o público poderia se conectar com personagens que acabam tendo tempo muito curto em tela. Sor Harwin Strong e Laena Velaryon são os grandes destaques nesse sentido: dois personagens cheios de potencial no pouco tempo em que aparecem, com relações interessantes com Rhaenyra e Daemon, respectivamente, e que seria ótimo ver por mais tempo.
O gostinho de Harwin como pai sem poder assumir seus filhos, a dinâmica da família de Laenor e da princesa, o confronto entre o Comandante da Guarda da Cidade e o Guarda Real – tudo indica que Harwin poderia se tornar um personagem muito querido, caso a série desse tempo para isso. Não é o que acontece, porém, e ele encontra seu fim no mesmo episódio em que tem mais destaque.
A situação é a mesma com Laena, que poderia ser muito mais, mas não ganha tempo para isso. A perda, ainda assim, não é só em relação ao que poderia ser. A decisão de pular de um evento importante a outro, sem se importar com os personagens e somente com os acontecimentos, faz com que alguns desses momentos percam a força. Quão mais impactantes seriam essas mortes depois de nos apegarmos aos dois em uma trama que desse espaço para eles de fato conquistarem o público? Esse tipo de peso simplesmente não existe, já que A Casa do Dragão não se permite ficar em um momento por tempo o suficiente para que os integrantes secundários dessa história sejam mais que peças no cenário.
Isso é ressaltado pelo modo como a série sabe fazer a construção adequada quando deseja. Sor Criston é particularmente odiável agora justamente por ter sido apresentado como tão gentil no começo. Sua crueldade, agora revelada, é ainda mais revoltante porque houve tempo para vê-lo de outra forma primeiro. Fica claro que a série poderia fazer mais, mas opta por priorizar apenas o que acontece, e não com quem esses eventos acontecem.
Considerando todos os novatos no elenco, espero que isso não continue sendo o padrão. Breve como a participação das crianças e adolescentes tenha sido, elas renderam vários bons momentos. A tristeza de Jacaerys ao se despedir de Harwin, seguida pelo questionamento sobre ser mesmo um bastardo, faz com que você sinta pelo garotinho perdido no meio dessa situação confusa. Aemond e sua impetuosidade e desejo de se provar também se destacam, e Helaena Targaryen, com suas falas crípticas e cheias de significado, quieta e contida mesmo na companhia da mãe, facilmente despertou meu interesse. Mas isso me deixa querendo ainda mais que eles tenham tempo de ganharam profundidade, de se revelarem para o público, de conquistarem corações, antes dos acontecimentos que aguardam por eles no futuro.
A outra grande falha da série ressaltada pelo episódio seis é também relacionada a Criston Cole. Sem qualquer menção aos eventos anteriores no qual ele, sendo um cavaleiro da Guarda Real, atacou um convidado no banquete de casamento da princesa e herdeira do trono, não há qualquer consequência pelo assassinato brutal que ele comete com toda intenção e à vista de todos.
A suspensão da descrença, porém, só pode ir até certo ponto, e tudo fica ainda pior quando, no sexto episódio, Sor Harwin é expulso da Guarda da Cidade por dar dois socos em Cole. A medida parece completamente descabida em comparação com as ações do outro no episódio anterior; ou, melhor dizendo, parece completamente descabido que Cole não enfrente qualquer consequência por ter feito bem pior. Aqui, as atitudes de um tem impacto em sua posição e status de sua família na corte, que é o que seria esperado dentro deste universo. É tudo muito diferente do que foi visto no quinto capítulo da temporada, tornando ainda mais óbvio a péssima decisão do episódio anterior, bem como a queda de qualidade decorrente de focar apenas em chocar o público.
Apesar de deixar ainda mais evidentes estes problemas que a série como um todo vem apresentando, e de ter tropeços próprios (parece implausível que os mesmos nobres que tanto resistiam a princesa como herdeira aceitem de bom grado o modo como Alicent manda e desmanda, mesmo na presença do rei), o episódio da vez está longe de ser outro ponto muito baixo.
Pelo contrário, House of the Dragon ganha força aqui, conseguindo renovar o interesse e instigar com as novidades que apresenta. Só que isso não resolve o que há de errado com a produção, que só teria a ganhar reconhecendo esses problemas e os evitando no futuro. Não é como se a história em si estivesse completamente ruim, mas falta reconhecer que personagens são o coração de uma boa trama, e que não é só o que acontece e o choque que isso causa que importam.
House of the Dragon está disponível na HBO e HBO Max.
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