Review: Splatoon 3 retoma a guerra de paintball de Lula sem o mesmo brilho de sempre
Review: Splatoon 3 retoma a guerra de paintball de Lula sem o mesmo brilho de sempre
Nem o incrível evento de eleição mensal disfarça o cansaço do online que prejudica a jogabilidade estupenda
Conhecida por reciclar franquias tradicionais, surpreende que um dos maiores acertos da Nintendo nos últimos anos tenha sido algo totalmente original. Um jogo de tiro, competitivo e voltado para online — Splatoon 3 é o terceiro ato de um movimento renovador para a empresa. Mas ao adicionar apenas pequenas melhorias à fórmula de sucesso do paintball de lulas, o título demonstra sinais preocupantes de estagnação.
FICHA TÉCNICA
Título: Splatoon 3
Lançamento: 9 de setembro de 2022
Desenvolvedora: Nintendo
Gênero: Shooter
Plataformas: Nintendo Switch
Modos: Online Casual, Online Rankeado, Online Cooperativo, Single Player
A volta de lula
Dizer que a jogabilidade de Splatoon é incrível é chover no molhado. Poucos games conseguem transformar tiro e movimentação em algo tão satisfatório e fluido. Em meio a batalhas frenéticas para dominar a batalha, se esgueirar pela tinta em forma de lula segue trazendo uma sensação reconfortante. Mas depois de dois títulos praticamente idênticos, a fórmula deixa de impressionar.
O grande destaque ainda é o Turf Wars, modo em que a meta é pintar a maior parte possível do campo. A proposta de combate menos direta ajuda a se diferenciar dos demais shooters, os jogos de tiro, e estimula que os jogadores busquem soluções criativas para vencer. É viciante, o que nunca deixou de ser, especialmente no formato ágil de partidas de três minutos.
Duas novas classes de armas também foram introduzidas, o arco e flecha e as katanas. Na prática, ambos funcionam como estilos avançados para jogadores de longa e curta distância, respectivamente. São divertidos de jogar, mas muito difíceis de dominar e acabam só funcionando na mão dos jogadores mais experientes, que estão na franquia há anos. As novas habilidades especiais caem na mesma dinâmica — são tão fáceis de desviar que só funcionam nas mãos dos veteranos.
Para render alguma variedade, especialmente para os casuais, Splatoon 3 ainda esbanja modos alternativos que acumulou de seus antecessores. Com a exceção de Clam Blitz, que continua tão confuso e frustrante como sempre, todos seguem entregando competições super acirradas de ferver o sangue. Rainmaker, Tower Control, Splat Zones e Salmon Run estimulam um trabalho em grupo bem mais coeso, formações estratégicas e um raciocínio diferente, o que traz uma quebra bem-vinda à rotina principal. Porém nenhum desses modos surgiu em Splatoon 3. Na prática, o jogo não tem nenhum modo inédito a oferecer.
Gato por lebre
Em mais de sete anos após surpreender a todos no Nintendo Wii U, Splatoon segue entregando exatamente os mesmos visuais com alterações mínimas à jogabilidade. E mesmo que o novo modo história cative, repetindo o modelo elogiado de Splatoon 2 – Octo Expansion, não existe conteúdo inédito o suficiente em Splatoon 3 para justificar a venda de um novo jogo.
Por mais divertido que seja o game, a franquia está presa a uma lógica de mercado que simplesmente não funciona mais. Em um mundo dinâmico onde Fortnite e Genshin Impact disputam a atenção do público com modelos sustentáveis de jogos como serviço, títulos caros oferecendo uma proposta similar, como Overwatch, foram obrigados a repensar sua estratégia. Contudo, Splatoon prefere se mostrar alheio a sua concorrência e resiste a entregar uma proposta mais relevante em 2022.
O que foi trazido são meias medidas, que não resolvem completamente o problema, mas ajudam a passar uma falsa ideia de evolução. Houve um grande investimento em opções extras de customização, por exemplo, com a adição de player tags personalizadas, armários decoráveis e posições de vitória. Aumenta o leque de opções para o jogador se expressar, satisfazendo a coceira por novidades dos fãs sem afastar a sensação de vazio.
É o mesmo caso do sistema de Catalog que imita sistemas de passe de batalha, mas sem o mesmo brilho. No lugar de itens cuidadosamente criados para empolgar os jogadores, é apenas uma sequência de brindes aleatórios em uma frequência nada satisfatória. Poderia trazer um maior interesse no game se fosse mais empolgante, tematizado e não tivesse uma data limite para acabar. Afinal, a pior parte desse esquema é que as atualizações só duram dois anos.
Mas nem precisa esperar todo esse tempo para ficar com a sensação de que os jogadores de Splatoon 3 estão largados à própria sorte. Desde o lançamento há um insistente erro de conexão que impede o início de muitas partidas. Isso quando jogadores simplesmente não desconectam de propósito durante um embate, frustrando a todos. Com sorte estes problemas podem ser resolvidos em futuras atualizações, mas essas dificuldades técnicas nas primeiras semanas revelam um certo desgaste da estrutura frágil do Nintendo Switch Online.
A festa do polvo
Claro, nem tudo é uma decepção. Ao longo de toda a experiência, pequenos inconvenientes das versões anteriores foram resolvidos com ideias muito elegantes. A evolução dos equipamentos é mais direta, jogar com os amigos é intuitivo e descobrir os mapas do dia não consome mais preciosos minutos da sua jogatina. De modo geral, Splatoon 3 traz o melhor da briga de paintball. A experiência base do jogo continua bem sólida!
Além disso, a trancos e barrancos, o festival mensal Splatfest ainda empolga e traz um clima estilo Copa do Mundo. Uma eleição glamourosa, simplesmente toda a comunidade para para defender seu tema do coração nos assuntos mais irrelevantes possíveis. No evento de pré-estreia foi pedra contra papel e tesoura. Na primeira festa, foi ainda mais abstrato: você levaria lanche, equipamento ou diversão para uma ilha deserta?
Toda a atmosfera do game muda para intensificar essa festa, que fica ainda mais bonita na nova cidade central, que realmente parece viva. As cores de cada equipe dominam a cidade e todos os problemas ficam de lado. Isto é, até sair os resultados preliminares.
Para evitar que os festivais caíssem na mesmice, como aconteceu em Splatoon 2, os desenvolvedores procuraram formas de balancear a disputa. Além de adicionar um terceiro competidor a cada evento, uma nova forma de batalha foi criada – as Tricolor Battle – em que as três equipes se enfrentam de uma vez. É divertidamente caótico, mas um evento tão raro de acontecer acaba virando lenda urbana. Uma pena em um jogo que clama tanto por novidades.
Nesse quesito, o modo campanha não decepciona. Uma boa distração para quem quer dar um tempo das acirradas batalhas, a história traz uma série de fases desafiadoras que exploram ao máximo cada sistema disponível. O level design é tão refinado que pode ser comparado a jogos de Super Mario e, por incrível que pareça, a mitologia está entre as mais ricas da Nintendo. O enredo responde às grandes teorias dos fãs, sobre o passado e presente da franquia, encerrando um ciclo na vida de Splatoon.
Resta torcer para que, com este ciclo finalizado, os próximos jogos da franquia consigam ousar mais. Splatoon 3, apesar de ser um ótimo game, peca na preguiça. Esta é uma franquia completamente na zona de conforto que não tem qualquer interesse em se modernizar. As batalhas frenéticas de tinta continuam sendo viciantes. A questão é até quando isso vai ser o suficiente para vender novos jogos.
Definitivamente este game vale a pena para dois públicos muito específicos — os completos novatos e os veteranos hardcore, apaixonados pelo universo ou que gastaram centenas de horas em Splatoon 2. Se você é apenas um jogador casual que já tem outro game da franquia, não há novidades grandes o suficiente para justificar o investimento em um novo game.