Review: Sherlock Holmes Chapter One faz você se sentir um detetive de verdade
Review: Sherlock Holmes Chapter One faz você se sentir um detetive de verdade
Um Sherlock Holmes belo e jovem viajando por uma ilha paradisíaca e resolvendo mistérios; o que poderia dar errado?!
Sherlock Holmes Chapter One, o novo jogo da Frogwares traz uma versão jovem de Sherlock Holmes se aventurando em Cordona, uma ilha no Mediterrâneo em que passou sua infância, enquanto precisa resolver o mistério envolvendo a morte de sua mãe e sua falta de memória após a morte dela.
O título traz um mundo aberto no qual o jogador controla o famoso detetive de Sir Arthur Conan Doyle enquanto resolve os mais diversos casos e até mesmo luta contra perigosas gangues presentes no local. A história também apresenta um novo companheiro, “Jon”, o primeiro amigo de Sherlock anos antes dele conhecer o médico John Watson.
Ficha Técnica:
Título: Sherlock Holmes Chapter One
Desenvolvedora: Frogwares
Distribuidora: Frogwares
Plataformas: Windows, PS5 e Series X/S
Lançamento: 16 de novembro de 2021
Gênero: Ação e Aventura
Idioma de Voz: Inglês
Idiomas da tela e legendas: Português (Brasil), Alemão, Chinês (simplificado), Chinês (tradicional), Coreano, Espanhol, Francês (França), Inglês, Italiano, Japonês, Russo, Tcheco, Turco, Ucraniano e Árabe
Sherlock Holmes Chapter One traz os melhores elementos de um excelente Point and Click
Logo de começo fica óbvio que Sherlock Holmes: Chapter One é um jogo bem diferente dos títulos anteriores da Frogwares, a série “Adventures of Sherlock Holmes” – enquanto os títulos anteriores tentam, bastante, focar no aspecto mais canônico da obra de Sir Arthur Conan Doyle, esse aqui joga o cânone pela janela, bota Jon para tocar o piano alegremente e Sherlock disparando sua arma sem pestanejar.
Na trama, acompanhamos o jovem detetive conforme ele volta para sua terra natal, a ilha de Cordona e acaba encontrando uma grande conspiração envolvendo todo o local. Com a ajuda de Jon – seu melhor amigo – ele precisa investigar vários mistérios espalhados pela ilha, ajudando seus moradores e até mesmo invadindo “covis” de bandidos e lutando contra eles para ajudar a polícia, que está abarrotada e não consegue fazer seu trabalho corretamente.
O jogo parece ser dividido em três partes: a investigação, o mundo aberto e o combate; o maior problema, contudo, é que elas não se conectam como deveriam, parecendo mais elementos separados que foram unidos para o título do que mecânicas que se complementam.
As investigações são o ponto alto do jogo, mas o principal são os elementos de point-and-click presentes, que, tendo sido uma criança que jogou muitos jogos desse estilo, foi algo que gostei bastante de revisitar. A visão de Sherlock, semelhante à jogos como a franquia Arkham, permite que você encontre pistas no local de investigação que irão ajudar você a descobrir o mistério. É preciso analisar todas as pistas e investigar todos os cantos de cada local e isso é uma tarefa que pode até exigir bastante tempo, mas também pode ser bastante divertida quando você está completamente imerso na trama.
Investigar, fofocar e se disfarçar
Como dito, dos três elementos principais do game, a investigação é o mais interessante e divertido, trazendo várias coisas diferentes para se fazer. No palácio mental de Holmes, o jogador pode analisar todas as pistas encontradas, depoimentos de vítimas e as unir para criar teorias sobre o que realmente aconteceu.
O mais interessante disso tudo? Você pode errar. O jogo não deixa claro se Sherlock está certo ou errado antes de ter seu momento de explicar o que aconteceu e quem é o culpado, de forma que você pode simplesmente realmente ter errado na hora de juntar as pistas e chegar a uma conclusão falsa. Inclusive no próprio tutorial do jogo – um caso bastante interessante envolvendo um médium, adultério e um assassinato – você pode chegar a conclusão errada. Em nenhum momento Sherlock Holmes Chapter One está “segurando sua mão” e te dizendo por onde ir, você é meio que apenas jogado e deve seguir seu raciocínio para fazer as escolhas corretas.
Dessa forma, o título exige muito tempo e atenção, todas as pistas devem ser encontradas para que você possa avançar e para adquiri-las Sherlock faz de tudo, inclusive ouvir conversas paralelas e selecionar as partes mais interessantes para a investigação e até mesmo se disfarçar, utilizando-se de roupas e sotaques muito falsos para isso, dando ao jogo um tom de humor que ajuda a quebrar os momentos mais tensos e pesados.
Uma história bastante pessoal
Falando em momentos pesados, além de andar pela ilha resolvendo os mais diferentes mistérios, a trama principal do jogo envolve Sherlock Holmes, ao lado de Jon, encontrando diversas pistas sobre o seu passado na ilha e sobre a morte de sua mãe, Violet. Sherlock perdeu algumas memórias de sua infância e não se lembra de como sua mãe morreu e nada dos meses seguintes.
Ao desvendar mistérios pela ilha, Sherlock vai conseguindo pequenas peças do quebra-cabeças que se unem em uma história bastante trágica para o jovem detetive, que culminam em um final emocional. O mistério principal pode não agradar a todos os jogadores, principalmente devido aos temas bastante pesados abordados na história, porém ele também é uma boa culminação de tudo o que vem antes, criando uma narrativa robusta para o personagem titular.
O “problema” Jon
O elemento mais distante do cânone de Sherlock Holmes no jogo se apresenta na forma de Jon, que por si só é um personagem bastante agradável, ele está sempre contando uma piadinha, contrariando Sherlock, e – bem diferente do icônico John Watson que conhecemos – Jon é um pouco mais maroto, divertido e brincalhão, ele também é imaginário, como descobrimos logo no início da trama.
Mas porque isso é um problema? É que mesmo sendo um personagem bastante carismático, Jon não possui serventia no jogo; ele não te auxilia ao procurar pistas ou resolver os mistérios, sendo um amigo imaginário, ele também não te ajuda no combate e, por fim, ele é apenas um recurso utilizado para que Sherlock, ou “Sherry” como Jon o chama, tenha alguém com quem conversar, para que o jogador não tenha que ouvir os personagens do protagonista o tempo todo.
Dessa forma, isso acaba fazendo com que o personagem, que realmente é interessante, acabe se tornando apenas uma sombra na maior parte do jogo, ficando ao fundo enquanto Sherlock explica o que está fazendo para o nada e servindo apenas como um eco do protagonista. Honestamente, Jon merecia mais, mas ao mesmo tempo, é compreensível que ele não tenha um grande papel aqui, já que é de se imaginar que a equipe da Frogwares não queria que Watson acabasse ficando de lado no futuro – já que como dito, Jon é muito mais carismático. Essa escolha também dá a desculpa de que sendo imaginário, ele também não afeta a canonicidade das histórias do personagem, algo que os fãs mais puristas certamente não iriam gostar.
Um “mundo aberto” desinteressante
Talvez um dos maiores problemas do jogo seja a maneira como o seu mundo aberto simplesmente não é interessante o bastante para justificar sua existência. Comparando a outro jogo recente que se passa em uma ilha, Deathloop consegue trabalhar muito melhor a exploração do local separando os mapas por locais, nos quais você escolhe e fica “preso” em uma área bem grande que você pode explorar e que muda bastante dependendo da hora do dia em que você a explora.
Aqui, até existe uma tentativa de fazer com que os locais sejam bem diferentes, com o centro sendo mais belo, clássico e rico, com claras influências inglesas, enquanto as margens são mais pobres e caóticas. Porém, o grande problema é que não existe muito além disso e andar pela cidade parece apenas uma tarefa chata e árdua. Diferentes de jogos como a franquia Arkham ou Assassin’s Creed, em que você pode explorar o local por completo, aqui parece que não existe essa preocupação. A cidade está apenas ali para você se locomover de uma missão para a outra, sem necessariamente ter uma grande importância.
É notável que o jogo tenta incansavelmente transformar Cordona em uma personagem, porém ele acaba morrendo na praia nesse quesito. Além disso, descobrir os covis de bandidos acaba se tornando algo bem maçante depois das primeiras vezes em que você passa pela experiência.
Uma representação de seu tempo, mas era realmente necessário?
Sherlock Holmes Chapter One se passa no fim do século XIX e logo no início do jogo existe uma mensagem explicando que algumas representações podem ser consideradas ofensivas devido a época em que a história se passa. E aqui entramos em um dos mais complicados dilemas da construção de mundo do título.
Por um lado, a ilha de Cordona possui uma história muito interessante ligada à colonização britânica da ilha e como os habitantes originais do local acabaram em moradias e empregos sub-humanos para conseguir sobreviver – algo que é tocado muito por cima, mas em nenhum momento o título vai a fundo nessa questão. Porém, em outros momentos que o jogo aborda questões sociais sérias ele não faz isso de uma forma boa ou satisfatória – como as interações de Sherlock com um personagem trans, ou uma missão em que ele precisa encontrar uma colônia de refugiados africanos.
Vale lembrar que todos esses casos realmente parecem ter sido feitos com a melhor das intenções pela Frogwares, mas eles acabam sendo bastante ofensivos em diversos momentos. Outros pontos do jogo, que envolvem abuso sexual e tentativa de infanticídio também não são tratados da melhor forma e surgem apenas como recursos narrativos fracos, usados para levar os personagens de um lugar ao outro e não são trabalhados com a seriedade que deveriam.
Elementar, meu caro jogador
Sherlock Holmes: Chapter One é um ótimo jogo para quem gosta do detetive e, principalmente, para quem gosta de jogos de investigação. O jogo possui uma mecânica excelente quando o assunto é procurar e juntar pistas para descobrir a verdade sobre os mais diferentes crimes. Porém, quando ele tenta te jogar para um mundo aberto chato ou combates bastante desinteressantes, acaba perdendo sua força.
Ainda assim, o novo jogo da Frogwares do amado personagem consegue agradar bastante tanto os fãs mais puristas como apenas aqueles que querem um jogo divertido e gostoso, cheio de mistérios e muitas artimanhas para desvendar.
*Para a review foi testada a versão no PS5 do jogo.
Confira também: