[Review] Shadow Warrior 3 vai além da média com jogo de tiro satisfatório e absurdo na medida certa

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[Review] Shadow Warrior 3 vai além da média com jogo de tiro satisfatório e absurdo na medida certa

Por Arthur Eloi

Você tem um gancho?”, pergunta Hoji, falecido amigo de Lo Wang cuja alma está presa em uma máscara (é uma longa história), enquanto o protagonista se balança pelos cenários e corre pelas paredes. “Sim, todo mundo tem um. É meio que obrigatório agora”, Wang responde. O colega rapidamente entende: “Saquei, é preciso ficar de olho na concorrência, mano!”.

Esse é só um dos vários momentos de divertida metalinguagem de Shadow Warrior 3, um jogo que reconhece o quão derivativo é quando comparado ao restante do gênero de FPS – mas que não deixa de entreter e surpreender durante toda a sua jornada.

Ficha técnica

Título: Shadow Warrior 3

Desenvolvedora: Flying Wild Hog

Distribuidora: Devolver Digital

Plataformas: PC (Windows), Xbox One e Series X/S, PS4 e PS5

Lançamento: 1º de março de 2021

Gênero: Jogo de Tiro em Primeira Pessoa, Ação e Comédia

Tradução para o Português: Sim, mas só nas legendas

De Olho na Concorrência

Muito antes da sua reinvenção em 2013, Shadow Warrior era um dos clássicos dos jogos de tiro que surgiu na sombra de Doom nos anos 90. Por mais que ficasse abaixo da grandeza de Duke Nukem ou da inventividade mórbida de Blood, o shooter conquistou por seu personagem escrachado, dificuldade acentuada e pela sua ambientação asiática (que, sim, antes beirava até caricatura racista). Ou seja: a franquia sempre funcionou ao lado de seus concorrentes, mas nunca em direta comparação.

Já nas mãos dos poloneses da Flying Wild Hog, a franquia abraçou isso de vez. A trilogia sempre foi reflexo das maiores tendências do momento no gênero do FPS – mesmo seu retorno só aconteceu após o retorno de Rise of the Triad, outro clássico noventista da era pós-Doom. Agora, no terceiro game dessa retomada, isso fica ainda mais evidente.

Shadow Warrior 3 é inteiramente moldado por Doom Eternal, em seu design de fases e em suas mecânicas de combate. Isso significa uma progressão entre várias mini-arenas tomadas por monstros de diferentes padrões de ataque, que pedem movimentação constante em um mix de fuga para conservar pontos de vida, e ataque para recuperar munição e saúde. O game sequer tenta esconder a influência, simplesmente pelo fato de que não entende falta de originalidade como um problema, e parece estar certo em sua postura.

Shadow Warrior 3 puxa todo o molde de Doom Eternal: as arenas, a necessidade por movimentação, a administração de recursos, as execuções.

É um game que, assim como o clássico, é derivado da criação da id Software, mas que é conduzido com tamanha confiança que se torna uma experiência bastante agradável. Comparado com Eternal, o momento-a-momento do combate tem menos opções, e os inimigos são mais impulsivos em simplesmente colar na cara do jogador. Há ainda toques de Serious Sam, que ficam mais visíveis quando há uma horda de ninjas gritantes explosivos te cercando de todas as direções.

De certa forma, isso alivia a intensidade das arenas, que continuam igualmente frenéticas e desafiadoras mesmo sem pedir por tiros certeiros nos pontos fracos das criaturas, ou então pelo planejamento mental de qual monstro deve ser abatido primeiro. Ainda é preciso se manter atento à quantidade balas, pontos de vida e opções de manobras pelo cenário, mas com maior espaço para erros e improvisos que o ritmo punitivo de Eternal ou masoquista de suas expansões.

O design das armas é absurdo e surpreendentemente marcante!

O que torna o game digno do seu tempo é o fato de que usa a inspiração em Doom apenas como molde, e o preenche com sua própria personalidade e excelência. O arsenal fica progressivamente mais absurdo ao ritmo que a campanha avança, desde uma escopeta gigantesca até uma metralhadora que atira fogos de artifício explosivos. Todo o armamento também tem um feeling excelente, boa precisão e impacto destrutivo nos inimigos. O mais divertido é justamente a modificação que faz ao sistema de execuções de Doom (lá chamadas de “Glory Kills”): ao invés de só premiar a ofensiva do jogador com munição e vida, cada criatura executada dá acesso temporário à armas especiais.

Assim, há um incentivo extra para grudar na cara de criaturas maiores, já que eles podem lhe render uma poderosa espada, ou então uma shuriken que fatia os inimigos ao seu redor. As animações das execuções também são deliciosamente absurdas e sangrentas, e raramente se tornam repetitivas pelo fato de que não podem ser ativadas a todo momento, por consumirem duas barrinhas de especial que demoram um pouco para recarregar.

Sem Tempo para Morrer

Lo Wang tenta se vingar de um dragão gigante para recuperar sua confiança como herói de ação

Shadow Warrior 3 poderia rapidamente cair na mesmice, mas tem uma noção perfeita de ritmo para evitar que isso aconteça. A campanha dura menos de 8 horas, e a jornada é marcada por uma divertida história do canastrão Lo Wang tentando recuperar sua confiança para enfrentar um dragão gigante que está infestando seu mundo de criaturas perversas. Os desenvolvedores entendem as próprias forças, e criam uma narrativa convincente o bastante mas que nunca comete o erro de levar a sério. As fases também não se estendem além do que deve, o que dá a impressão de progressão perfeita, sem gordura alguma.

Dificilmente alguém se importará com a trama, e o próprio jogo não quer isso. O foco é na personalidade imbecil e carismática de Lo Wang, simplesmente incapaz de calar a boca ou pensar logicamente. Durante o combate, o protagonista solta constantes tiradas aos inimigos, que variam de acordo com o tipo de armamento usado para derrotá-los. Matar com a pistola, por exemplo, traz piadinhas inspiradas pelos personagens de Clint Eastwood no cinema. Já executar e deformar uma criatura faz Wang questionar: “Espero que você tenha um bom plano de saúde”. Surpreendentemente, assim como o combate, as piadinhas também não ficam repetitivas e cansativas.

Já imaginou Doom com cenários e inimigos tão coloridos assim?

Não pense que por ser um game dinâmico é um esforço meia-boca, muito pelo contrário. O jogo mostra visuais de encher os olhos, com cenários coloridos e bem iluminados que não são tão frequentes nos jogos de tiro. Parte do legado de Doom é que se criou uma associação entre FPS e a estética de heavy metal e horror; Shadow Warrior, por sua vez, assume a identidade do hip-hop e dos filmes de artes marciais em toda a sua glória e bobeira, caminhando na linha tênue entre paródia e homenagem.

Shadow Warrior 3 pode não ser o shooter mais original do ano, mas com certeza é um dos mais surpreendentes por prometer pouco e entregar muito. É uma experiência que vai direto ao ponto, que não tenha nenhuma ilusão de grandeza, e que acaba sendo bastante satisfatória em suas mecânicas de combate e movimentação, e no excelente ritmo frenético de sua campanha. Junte isso com visuais espetaculares, e uma das mecânicas de espada mais satisfatórias dos shooters, e o resultado é garantia de uma tarde bem aproveitada.

NOTA: 8/10

Shadow Warrior 3 já está disponível no PC, Xbox One e Series X | S, e PlayStation 4 e PlayStation 5. A review foi feita com base na versão de PC, com código enviado pela publicadora Devolver Digital.

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