Review: Rainbow Six Extraction é um ótimo jogo de tiro ofuscado pela repetição
Review: Rainbow Six Extraction é um ótimo jogo de tiro ofuscado pela repetição
FPS mostra sua força com missões tácticas que pedem o máximo da cooperação, mas game ainda precisa de mais mapas para brilhar
Datas de lançamento já não importam mais. Tanto pela possibilidade de atualizações constantes quanto pela economia de microtransações, o estado inicial de um jogo é meramente uma etapa na vida de uma obra. A Ubisoft aprendeu isso com Rainbow Six Siege, shooter de 2015 (sim) que não teve uma recepção lá muito calorosa, mas que cresceu ao longo dos anos para se tornar uma das mais intensas, divertidas e únicas experiências do gênero atualmente.
Em 2018, entre a adição de operadores, mapas e chaveiros para armas, o estúdio decidiu brincar um pouco e reutilizar o combate tático do game em um modo cooperativo temporário, em que os jogadores enfrentam uma invasão alienígena. Por mais que só tenha ficado disponível por um mês, o modo – chamado de Outbreak – serviu para comprovar como aquele estilo de jogo mais cadenciado poderia funcionar até em outros contextos.
Agora, em 2022, Rainbow Six Extraction reforça isso ao expandir a base criada por Outbreak, em uma experiência coop que te faz suar de tensão – pelo menos nas primeiras vezes.
Ficha técnica
Título: Rainbow Six Extraction
Desenvolvedora/ Distribuidora: Ubisoft
Plataformas: Xbox One, PlayStation 4, Xbox Series X | S, PlayStation 5 e PC (Windows 10)
Idiomas: Inglês, Português (Brasil), Francês, Italiano, Alemão, Espanhol, Russo, Espanhol (América Latina), Japonês
Tradução para o Português: Sim (Texto e dublagem)
Lançamento: 20 de janeiro de 2021
Gênero: Jogo de Tiro em Primeira Pessoa
Invasores de Corpos
Seguindo a trama de Outbreak, Rainbow Six Extraction se passa em um futuro próximo, em que a queda de um meteorito no Novo México desencadeou uma infecção por um vírus alienígena que agora contamina os Estados Unidos, graças a invasão de uma poderosa raça alienígena conhecida como Archeans. A Equipe Rainbow, organização contraterrorista global, se vê como uma das poucas capacitadas para lidar com essa nova ameaça, e assim surge a REACT, braço dedicado a conter o avanço da mutação.
Em grupos de três jogadores, é preciso mergulhar em instalações completamente tomadas pelo parasita extraterrestre, em fases que são divididas em três níveis progressivamente mais complicados. De início, pela estrutura de uma jornada coop cujo objetivo é matar criaturas e chegar em checkpoints para trocar de fase, a experiência pode remeter a algo como Left 4 Dead, mas esse é um dos primeiros erros. Por aqui, é preciso andar com cautela pois o dano é alto e há poucas chances. Ser cercado por uma horda é morte certeira para você e seus amigos.
Progredir pelas fases pede um pouco de paciência. É preciso olhar bem os cantos, marcar inimigos para seus colegas, acertar headshots silenciosos para evitar maiores transtornos e sempre estar de olhos bem abertos para o ambiente ao seu redor. Apenas alguns ataques de monstros comuns são capazes de comer metade da sua barra de vida, que só se regenera (temporariamente) com o uso de escassos kits médicos que precisam ser encontrados pelos cenários.
Extraction reaproveita perfeitamente a jogabilidade de Siege, mas soa mais como jogar alguma missão de Rainbow Six Vegas com amigos. Há uma boa seleção de Operadores, mas cujas habilidades têm menos impacto do que no jogo competitivo. Finka pode dar um boost nos pontos de vida dos colegas, e Sledge consegue criar bons atalhos ao demolir paredes com sua marreta, porém isso não é o suficiente para garantir missões de sucesso. É preciso algum grau de planejamento, muita cooperação e saber improvisar para quando tudo foge do controle.
Esse tipo de jogo costuma ser melhor aproveitado quando jogado com amigos, se falando por algum chat de voz, mas até partidas online com gente aleatória conseguem manter a tensão e um bom nível de comunicação graças a um inteligente sistema de ping. Ajuda que cada seção das fases conta com um único objetivo para ser realizado antes de avançar para outro trecho do mapa, portanto não há muito espaço para dispersão ou falta de foco.
Isso acaba sendo a vantagem e a maldição de Rainbow Six Extraction. A progressão das fases, e a possibilidade de pedir extração a cada novo setor, permite partidas curtas e intensas que são muito satisfatórias de jogar, porém que se tornam altamente repetitivas em pouco tempo. Há um total de 12 mapas, com três fases em quatro cenários diferentes (Nova York, San Francisco, Alasca e Novo México), mas o design dos níveis é pouco inventivo, e os objetivos pouco variados.
Por mais que o momento-a-momento seja bastante memorável, com ótima quantidade e variedade de inimigos, você se verá repetindo as mesmas fases para concluir missões estranhamente parecidas, como capturar uma espécie rara de alienígena, escanear áreas específicas, ou extrair vítimas indefesas. A Ubisoft é o estúdio que mais ajudou a emplacar a noção de quantidade acima de qualidade, e aqui não é diferente. A progressão soa artificial, com itens e Operadores para desbloquear através da conclusão de inúmeros desafios rasos.
Desaparecido em Combate
A repetição e a artificialidade incomodam, e com certeza farão muita gente desistir de se aprofundar em Extraction, o que é uma pena pois há ótimas ideias. Por mais que a trama seja sem sal, o game acerta em cheio no tom sci-fi de retratar os militares correndo contra o tempo para entender como efetivamente combater a raça alienígena. O senso de urgência não é só simbólico, e sim transmitido através da própria jogabilidade.
Além das fases terem limite de tempo, os Operadores não são tratados como meros avatares, e sim como personagens únicos. Tomou muito dano durante uma fase? Então será preciso deixar o personagem se recuperar, e jogar com outro enquanto a vida se regenera. Se você “morre” durante uma missão, o último recurso dos agentes é acionar um coma induzido em um casulo de proteção, que libera uma operação de resgate.
O game brilha na tensão de ter que voltar a um cenário para encontrar e salvar seu personagem, em uma combinação que lembra tanto o gerenciamento de soldados de XCOM quanto as mecânicas de rogue-like de Zombi U. Realizar missões de resgate começa a ficar cansativo ali pela quinta ou sexta vez, mas é um caso em que a repetição se alinha com a temática e intenção do game. Esses riscos reais de ter que aposentar ou perder momentaneamente seu Operador favorito servem como incentivo para jogar de forma mais tática, ou então para dividir o peso dos momentos mais complicados com sua equipe.
Rainbow Six Extraction poderia ser só um caça-níquel, uma expansão disfarçada de jogo novo, mas é uma experiência realmente divertida e única, que mostra o quão flexível é a jogabilidade de Siege. Além disso, há um carinho em real na confecção dessa ambientação sci-fi, nos cenários tomados pelo parasita, e na ótima trilha sonora de James Duhamel e do One Take Tiger, repletas de sintetizadores que dão o tom tenso e frenético das missões.
Ao mesmo tempo que a jogabilidade é excelente, falta conteúdo que realmente teste os limites das táticas e cooperações dos jogadores. Os mapas inclusos são decentes, mas um sistema artificial de progressão, que te faz revisitá-los incansavelmente, expõe seus defeitos e os torna pouco inventivos a cada nova operação. Porém, como demonstrou Siege – e incontáveis outros exemplos, como Dead By Daylight, No Man’s Sky e mais -, conteúdo pode ser adicionado com o tempo. O que importa é ter uma base firme, divertida e única para expandir, e isso Rainbow Six Extraction com certeza tem.
A review de Rainbow Six Extraction foi feita com base na versão de Xbox One, que está disponível no catálogo do Xbox Game Pass.
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