Review: Pokémon Legends Arceus é um acerto crítico que evolui a franquia a um novo nível de excelência

Capa da Publicação

Review: Pokémon Legends Arceus é um acerto crítico que evolui a franquia a um novo nível de excelência

Por Gabriel Mattos

Pokémon pode ser um grande sucesso na televisão e nos celulares, mas há alguns anos os games da franquia amargam com produções preguiçosas e acomodadas. O ápice da decadência recente foram Pokémon Brilliant Diamond e Shining Pearl, no Nintendo Switch, que não fizeram jus ao potencial da região de Sinnoh. Mas quando tudo parecia perdido, Pokémon Legends: Arceus surge como uma luz divina mostrando o caminho da salvação.

Será que uma divergência tão brusca do padrão era o que a franquia realmente precisava para voltar aos trilhos? É o que vamos discutir nesta crítica.

FICHA TÉCNICA

https://www.youtube.com/watch?v=DRvUctYj8Jw

Título: Pokémon Legends: Arceus

 

Desenvolvedora: GameFreak

 

Distribuidora: Nintendo

 

Plataformas: Nintendo Switch

 

Lançamento: 28 de janeiro de 2022

 

Gênero: Ação e Aventura, Action RPG, Exploração

 

Idioma: Inglês, Espanhol, Francês, Italiano, Alemão, Chinês, Japonês e Coreano

 

Legendas em Português: Não

Uma nova fronteira Pokémon

Mundo do jogo tem um quê de Breath of the Wild.

Para encontrar seu futuro, Pokémon Legends: Arceus olha para o passado e apresenta uma região de Sinnoh muito antiga, ainda chamada de Hisui, em uma época em que a tecnologia era bastante limitada. No pequeno vilarejo de Jubilife, pouco se sabia sobre os Pokémon e, como bem sabemos, as pessoas temem aquilo que não conhecem. Assim, surge uma nobre missão que vai precisar de muita coragem para ser cumprida — a criação da primeira Pokédex.

Realocar o pilar da experiência das batalhas para as capturas, assim como sempre pregou o slogan da franquia, foi um tiro certeiro. Um acerto crítico, por assim dizer. Afinal, com este novo olhar, o game conseguiu repensar e atualizar diversas mecânicas que tornaram a experiência mais dinâmica, fluida e convidativa.

O modo que os jogadores interagem com o mundo, por exemplo, é completamente novo. Não tem como fugir — Pokémon Legends: Arceus é o Breath of the Wild da franquia. Apostando de vez na perspectiva em terceira pessoa, com total liberdade de controle da câmera, Legends: Arceus traz um série de mapas expansivos que dão a sensação de um mundo aberto sem perder sua estrutura. A implementação lembra a franquia Monster Hunter e facilita a transição para aqueles mais acostumados com experiências lineares.

No ritmo da nova geração

Capturar é a essência do jogo, como deve ser.

Outra mudança sutil na forma de interagir que faz muita diferença é a possibilidade de chamar seu Pokémon para fora da Pokébola à vontade. Os Pokémon realmente te ajudam e parecem parceiros em um sentido muito mais amplo que apenas combatentes. Depois de um tempo, é como se estas criaturinhas virassem uma extensão do jogador. Arremessando uma Pokébola onde bem entender, é possível tanto coletar recursos como iniciar batalhas.

Com esta nova dinâmica, batalhas podem acontecer a qualquer momento. Esqueça encontros aleatórios ou ser teleportado a uma tela à parte sempre que iniciar um novo confronto. Desta vez, as batalhas acontecem no próprio mundo do game, tornando a experiência mais imersiva e fluida. O jogador não perde mais tempo com transições inúteis contra o mais bobo dos Pokémon — tudo é resolvido o mais rápido possível.

O mesmo pode ser dito do sistema de capturas, fortemente inspirado pelo sucesso de Pokémon Go. Para capturar Pokémon, o jogador precisa simplesmente mirar a pokébola com precisão e fazer o seu melhor arremesso. Outros fatores podem influenciar suas chances de captura, como o tipo de Pokébola e seu posicionamento, mas em essência capturar Pokémon está mais simples e imersivo do que nunca, especialmente quando são aplicados os controles de movimento.

Furtividade é a maior aliada na hora da caça.

Além de aproveitar a lógica dos jogos de tiro em terceira pessoa, Pokémon Legends: Arceus também incorpora sistemas de outro gênero inusitado para encorpar o seu sistema de captura — o stealth. As infames gramas altas dos jogos anteriores se tornam grandes aliadas na hora de esconder sua presença. Muitos Pokémon exigem que o jogador aplique técnicas de furtividade para aumentar suas chances de captura, adicionando camadas de profundidade.

Outro sistema que ganhou um necessário reforço de complexidade foi o próprio sistema de batalhas. Para combinar com a jogabilidade dinâmica do novo título, o sistema de turnos precisou se reinventar implementando uma linha do tempo, que dita quem será o próximo a atacar. Esta relação é muito mais fluida, quebrando aquele ritmo estático das batalhas, onde um treinador esperava sempre o turno do outro.

Desta vez, a velocidade do Pokémon pode mudar quem joga, assim como os status, que foram completamente retrabalhados para interferir de forma menos intrusiva no ritmo das batalhas. Mas o grande trunfo desta renovação foi a introdução dos diferentes estilos de combate. A cada turno, o jogador pode optar por atacar no Strong Style ou Agile Style, escolhendo se prefere ataques mais poderosos ou mais turnos para atacar. Com isto, os turnos se tornam mais uma dimensão a ser considerada na hora de formular estratégias, tornando as batalhas mais interessantes.

Batalhas estão mais estratégicas, diretas e divertidas.

Um conto sobre tempo e espaço, céu e inferno

Além das batalhas tradicionais, o título apresenta lutas contra chefes que perderam completamente o controle: os Lordes Pokémon. Para derrotá-los, os jogadores precisam dominar tanto o sistema de captura quanto de batalha, unindo de forma orgânica os dois principais pilares do game em desafios que vão fazer até os veteranos da franquia suarem a camisa, tudo enquanto avança a história de Legends: Arceus.

Desde Pokémon Black & White (2011) e suas sequências, a franquia não via um enredo tão bem contado. A história de Pokémon Legends: Arceus é impressionante! O novo game aproveita cada pequeno detalhe da mitologia de Sinnoh para construir uma história que consegue falar de física, multiverso e religiosidade sem deixar de explorar seus personagens de maneira muito satisfatória.

Claro que a maioria do elenco ainda é bastante caricato, mas é através das relações que eles cativam o público. Adaman e Irida, por exemplo, estão sempre se bicando, mas acabam cooperando para evitar uma guerra entre seus clãs, Diamante e Pérola. Palina acaba sendo a mais interessante, por trazer muitas camadas. Além da sua rivalidade com Irida, ela também esconde um relacionamento com Iscan e é uma peça central no drama do adorável Growlithe.

Além de servirem batalhas desafiadoras, os Lordes se encaixam bem na narrativa.

Falando em Growlithe, o cuidado com os detalhes merecem aplausos: neste jogo, os Pokémon parecem de verdade! Cada criatura traz uma abundância de informações e animações que transportam as criaturas das telas para nossos corações. Parece que tudo que já foi escrito na Pokédex finalmente ganhou vida.

Um exemplo que eu gosto de mencionar é como uma Blissey selvagem vai se aproximar do jogador caso ele esteja ferido, aparentemente acelerando sua recuperação. Sua descrição em Pokémon Omega Ruby e Alpha Sapphire diz o seguinte: “Blissey sente tristeza com seu fofinho casaco de pelos. Se sentir, esse Pokémon vai correr para a pessoa triste, não importa o quão longe esteja, para compartilhar um ovo da sorte que traz sorrisos a qualquer um.” Exatamente como neste jogo.

Outro caso que me impressionou foi em um mapa do jogo, Coronet Highlands, onde uma história do anime ganhou vida. Há uma cachoeira neste lugar em que o topo está infestado de Gyarados, enquanto a base tem um lago cheio de Magikarps. Na primeira temporada do anime, descobrimos uma lenda que diz que Magikarps fortes o suficiente para subir uma cachoeira conseguem evoluir, exatamente como esta área de Legends: Arceus sugere. O próprio mapa esconde segredos, como a história de origem de Florama, mas os Pokémon conseguem impressionar ainda mais. E não só estes casos maiores — o jeito como cada Pokémon anda e reage a aproximação dos humanos é bem único e ajuda a vender a ideia de criaturas que poderiam existir na vida real.

Pokémon se comportam exatamente como deveriam.

A atenção aos detalhes é memorável e acaba refletindo também na abundância de atividades disponíveis aos jogadores. Tanto os requests quanto as atividades sugeridas da Pokédex oferecem micro-objetivos que exploram novas facetas dos Pokémon e de quebra garantem que os jogadores sempre terão algo de novo a descobrir nestes mapas. Assim, o mundo semi-aberto nunca parece vazio. Sempre tem alguma coisa interessante para se fazer neste jogo.

Mesmo quando a história principal termina, Pokémon Legends: Arceus nunca deixa de impressionar. Diferente dos últimos jogos da franquia, o pós-jogo está recheado de coisas novas a se descobrir. Além da árdua tarefa de completar a Pokédex por inteiro, estudando ao máximo cada criatura, novos Pokémon lendários e míticos surgem como missões bônus. E tudo culmina em uma grande reviravolta para a história principal que vai te deixar boquiaberto.

Nem tudo que reluz é shiny…

Pokémon Legends: Arceus consegue ser bem bonito quando quer. Ele só não costuma estar no clima.

Só um pequeno grande detalhe incomoda nesta experiência: o visual. Mesmo que a direção de arte tenha acertado ao apostar em uma estética cartunesca, a execução é inconstante. Em um momento o jogador encontra um gramado belíssimo em uma floresta, em outro está em colinas completamente carecas com texturas pobríssimas. Considerando que este é o mesmo console capaz de rodar The Legend of Zelda: Breath of the Wild, Dragon Quest XI e Xenoblade Chronicles 3, não tem cabimento um acabamento estético tão inconsistente.

Para piorar, a versão final do jogo ainda apresenta alguns problemas de estabilidade. Na minha experiência, o programa travou ao menos três vezes, me fazendo perder progresso devido ao salvamento automático nada confiável. Não é algo que arruinou completamente minha experiência, mas é algo que não deveria ocorrer. Mas nem esses detalhes conseguem apagar o brilho do jogo.

Nota: 9.5/10

Pokémon Legends: Arceus é uma carta de amor aos fãs e estabelece um novo patamar de qualidade na franquia. Esta é a experiência definitiva de Pokémon, finalmente entregando uma experiência próxima dos sonhos mais insanos dos fãs. Redefinindo o sistema de captura e de batalha, o game conseguiu entregar uma experiência mais ágil, alinhada com jogos mais modernos, que faz jus a excelente história apresentada.

 

Enquanto Pokémon Brilliant Diamond e Shining Pearl surgem para atrair os jogadores mais jovens, Pokémon Legends: Arceus prova que Pokémon também pode funcionar para gente grande. Mesmo com leves tropeços, que devem ser corrigidos em futuros jogos da franquia, esta é uma das experiências mais agradáveis do Nintendo Switch. Por este motivo, Pokémon Legends: Arceus ganha um 9.5/10 da Legião.

E aí, o que você achou de Pokémon Legends: Arceus? Não esqueça de comentar!

Veja agora nossa lista sobre os lançamentos de 2022 da Nintendo: