Mulher-Hulk 1×03 – O Povo contra Emil Blonsky
Mulher-Hulk 1×03 – O Povo contra Emil Blonsky
E Jennifer Walters contra o “nerd médio”
Depois de algum tempo discutindo cultura pop, noticiando eventos nerds e tratando de lançamentos e boicotes, algumas coisas caem no campo do esperado. E, certas reações, se tornam óbvias. Como o olhar torto para a Capitã Marvel no Universo Cinematográfico da Marvel, o incômodo com a criação de Kamala Khan em 2013 e as reclamações diante de modificações que alguns uniformes sofreram para saírem do “male gaze”, ou “olhar masculino” em algumas traduções.
Invariavelmente, frases como “Estão mudando todos os meus heróis”, “Minha infância está destruída” e “Na minha época não era assim” ficam mais do que recorrentes. Se tornam, praticamente, um rito de passagem que te diz: “Olá, essa é a internet e você está falando de cultura pop”.
Mas, entre bundas balançando, a careta de Megan Thee Stallion que é praticamente a sua marca registrada e piadas com o próprio Universo Marvel, a série da Mulher-Hulk consegue transmitir esse mesmo ambiente tóxico e maravilhoso que é a internet.
Com seu humor ácido, mas nem tanto, adentramos a cabeça de uma mulher em meio a uma posição que não pediu para estar. Um dos pontos altos de Mulher-Hulk: Defensora de Heróis não é sua narrativa leve e nem ter abraçado o “ser bobo” sem culpa, mas sim colocar Jennifer para enfrentar o mesmo que atrizes têm se deparado durante anos em Hollywood.
Em outras palavras, os famosos “ismos” que estamos cansados de falar. Porém, se na vida real é necessário criar movimentos como o #MeToo e matérias longas explicando toda a problemática de se perguntar que roupa uma mulher está vestindo durante o Emmy; nesse universo, Jennifer fica verde e vai embora com toda sua classe.
E essa é uma atitude que resume muito bem os quadrinhos da heroína. Nesse terceiro episódio, mais focado em tramas jurídicas, vemos a Jenn sarcástica que adora zombar das histórias dadas a ela que pode ser encontrada nas edições escritas por John Byrne.
Assim como a escrita de Byrne foi um frescor no mercado dos quadrinhos na época, mostrando que metalinguagem e comédia podiam funcionar com super-heróis, é um alívio ver uma Tatiana Maslany confortável em seu papel, conversando com o público como se estivesse sentada ao seu lado.
Pela riqueza de assuntos que a personagem tratou nos quadrinhos, tinha minhas dúvidas sobre como conseguiriam trabalhar a falta de uma identidade secreta para a Mulher-Hulk somado as tramas judiciais e atos heróicos que Jennifer teria que enfrentar.
Felizmente, a escolha narrativa sabe lidar bem com o acumulado de temas. A apresentação de programas jornalísticos e a repercussão da mídia se destaca nesse quesito. No mundo da Marvel, raramente temos a construção dos eventos, pois, na maioria das vezes, encontramos pura consequência e caos que os heróis irão lidar.
Ao colocarem redes sociais, mídia tradicional e a narrativa da série como dados importantes para nos contar uma história, não apenas estamos consumindo, mas é como se estivéssemos participando.
Mesmo com a energia “pé no chão” de Falcão e Soldado Invernal, Mulher-Hulk parece ser a série da Marvel com a Disney+ que melhor trabalha sua construção de mundo. As decisões dos personagens parecem palpáveis e não apenas gotas de água sumindo no mar. Não soam como situações que podem ser apagadas em um futuro filme como aconteceu com Wandavision e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura.
Mas, a verdade é que nenhuma dessas indagações e pensamentos importam, pois tivemos Mulher-Hulk dançando até o chão ao lado de Megan Thee Stallion. E isso não tem preço. Ao menos se você é a pessoa que paga a mensalidade do streaming, nesse caso sim, haverá um preço.
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