Review Ms. Marvel 1×04: De volta às origens
Review Ms. Marvel 1×04: De volta às origens
Ms. Marvel, uma série que não tem medo de ser uma série.
Ms. Marvel prova que diferente do esquema de pirâmides formado pelas outras produções do MCU para o Disney+, essa é uma série que sabe que é uma série, age como tal, utiliza-se da melhor forma possível do formato e ainda por cima traz elementos novos para esse universo com uma história simples, divertida e tão importante quanto Kamala Khan merece.
Em “De volta às origens” acompanhamos Kamala e sua mãe viajando para Karachi, e lá ela acaba descobrindo mais sobre as origens de sua família, seus poderes e dos Clandestinos. Esse é um clássico episódio de transição, servindo para avançar a trama ao mesmo tempo em que entrega várias das respostas que ainda pairavam no ar – tudo isso no meio de uma viagem.
E é aqui que Ms. Marvel me ganhou completamente. Todas essas respostas poderiam ter sido dadas em uma conversa de celular com a avó da jovem, ou de alguma outra forma que certamente faria sentido, mas a série aproveita a oportunidade para ser e fazer muito mais do que apenas outra história de super-heróis.
Em nenhum outro local do MCU seria possível falar de uma maneira tão direta e simples sobre a Partição da Índia, como esse evento moldou e é importante para tantas pessoas até hoje, sem falar em uma belíssima trama sobre relações entre três gerações de mulheres completamente diferentes da mesma família.
Sim, o episódio mostrou poderes, teve uma cena de perseguição excelente e com qualidade no meio de um mercado de rua que deixaria qualquer pessoa que trabalhou na produção de Cavaleiro da Lua chocada e também apresentou personagens novos e importantes, tudo isso em um simples episódio fechado e “clichê”.
É aqui também que já conhecemos o Adaga Vermelha, ou os Adagas Vermelhas, que explicam mais para Kamala sobre os poderes dela e sobre os planos dos Clandestinos; os vilões aparecem apenas para lutar e entregam cenas muito boas, com ótimas coreografias e momentos divertidíssimos. O grupo, contudo, está com um membro a menos, já que Najma, a líder, deixou Kamran nos Estados Unidos depois deles conseguirem escapar do Controle de Danos.
Quando falamos de séries de TV, um elemento muito importante e pouco compreendido é a necessidade de tropos narrativos que formam os ditos episódios. Todo episódio tem um começo, meio e fim (e o final pode ou não ter um gancho para o seguinte), mas até Ms. Marvel as séries da Marvel Studios no Disney+ simplesmente não entendem o formato de série… não entendiam.
Se isso vai continuar ou não, aí é algo para o futuro, mas no presente meu conselho é aproveitar semanalmente essa série que não esconde que é um seriado e nem tenta ser algo que não é. Aqui tivemos todos os tropos que boas séries adolescentes trabalham em um momento ou outro: dramas familiares, viagens de autodescoberta e até mesmo um inimigo que acaba se tornando um aliado (ou até algo a mais).
Enquanto os tropos não são considerados clichês, muitas pessoas confundem esses conceitos, porém em Ms. Marvel fica claro que Bisha K. Ali sabe exatamente o que está fazendo com tudo isso: uma história de super-herói adolescente que não tem medo de ser teen. Toda essa trama também funciona muito bem como uma apresentação simples, direta e bastante pontual de Kamala Khan nesse grande universo cheio de personagens diferentes.
Contrária aos outros heróis “adolescentes” apresentados até agora no MCU, Kamala não surge já sabendo tudo ou lutando contra o Capitão América na Alemanha no meio de uma briga de rua cheia de super-heróis. E mesmo em seu “episódio clichê” de viagem e autodescoberta, a produção entrega exatamente aquilo que foi prometido – é nos momentos em que está comendo balas com sua mãe ou aproveitando uma fogueira e violão na praia que a personagem tem tempo e um respiro para mostrar que ela é mais do que uma máquina de lutar com duas cenas cômicas enfiadas no meio.
Com dois episódios para o final, a sensação que fica após esse quarto capítulo não é que não vai dar tempo de concluir tudo, nem de que enrolaram a trama para caber em um padrão pré-determinado – cada momento que está sendo mostrado, cada uma das tramas e dos eventos individuais de cada episódio serve para adicionar ainda mais à personagem.
Desde a primeira metade de Wandavision, Ms. Marvel é a única que consegue passar a sensação de que realmente estamos vendo uma série e não um filme que foi picotado em partes e remendado, fingindo que é um seriado. Acredito, principalmente, que isso se deve ao quão simples e isolada toda a história da jovem está sendo.
Sim, mesmo com uma grande explosão e a destruição de todo o mundo sendo um perigo iminente, a trama aqui é sobre a Kamala, que é uma fangirl dos Vingadores e possui poderes, não a de “Kamala que está no Universo Cinematográfico da Marvel e em breve irá encontrar a Capitã Marvel, mas antes disso você deve assistir à série dela para entender o que os Kree tem de ligação com essa outra raça que conhece os Skrull e séculos atrás foi ligada aos celestiais através de um ser Nexus e também de Howard, o Pato”.
Obviamente, esse é o Universo Cinematográfico e tudo está ligado – não que isso seja ruim, mas é fácil notar o quão limitador é para vários desses criadores ter que fazer histórias que estão tão conectadas a coisas que vão ocorrer apenas daqui a três ou cinco anos – mas (até o momento), Ms. Marvel consegue fugir muito bem dessa maldição; ao mesmo tempo em que a produção é cheia de referências, imagens, pôsteres e citações, ela nunca fica presa apenas a isso e consegue construir sua própria história em um canto completamente ignorado do MCU até esse momento: uma aventura adolescente confortável.
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