Review: Mario Strikers: Battle League tenta demais acertar, mas é uma bola fora no quesito conteúdo

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Review: Mario Strikers: Battle League tenta demais acertar, mas é uma bola fora no quesito conteúdo

Por Gabriel Mattos

Mario Strikers: Battle League é o mais novo derivado esportivo de Super Mario para o Nintendo Switch. Desta vez, a empresa decidiu retomar suas investidas em futebol, mirando em uma experiência divertida e descompromissada para todas as idades, mas acertando em um título tão complexo quanto FIFA que não justifica sua própria existência.

Ficha Técnica

Título: Mario Strikers: Battle League

Desenvolvedora: Next Level Games

Distribuidora: Nintendo

Plataforma: Nintendo Switch

Lançamento: 10 de junho de 2022

Gênero: Esporte, futebol

Tradução para o Português: Sim

Modos: Single-player, multiplayer online e local

Mario Strikers traz um futebol emocionante com suas próprias regras.

Embora Mario tenha feito sua carreira nos esportes apostando em tênis e golfe, o faz-tudo mais querido dos jogos não é um estranho à competição mais popular do Brasil. Na verdade, o último jogo de futebol estrelando os heróis do Reino do Cogumelo foi Mario Strikers Charged em 2007 para Nintendo Wii.

A ideia permanece a mesma — transformar a monotonia tradicional dos esportes em algo mais divertido, afrouxando as regras e injetando uma dose saudável da alegria dos jogos de Mario à fórmula. Como era comum entre jogos de Wii, quanto mais casual melhor, tanto que haviam chutes especiais que usavam controles de movimento. Porém, dessa vez, o estúdio queria um jogo mais justo, mais técnico e a coisa desandou completamente.

Mario Strikers: Battle League não faz a menor ideia do que quer ser. Por um lado, seus gráficos cartunescos e sua apresentação geral trazem uma atmosfera despojada e cheia de personalidade, que reforça a natureza descompromissada da franquia. Por outro, a jogabilidade tenta trazer opções estratégicas milimetricamente pensadas para serem justas, agradando os jogadores mais hardcore, mas afastando completamente o público menos fissurado em ganhar.

Jogo é um 7×1 para o público casual, mas um golaço para os fanáticos por esportes.

Além dos movimentos básicos que não podiam faltar em um jogo de futebol — como passar a bola, dar carrinho e chutar ao gol — Battle League traz uma série de técnicas mais avançadas que se mostram essenciais para determinar o vencedor. O tempo certo para chutar ao gol, por exemplo, aumenta muito suas chances de pontuar.

Cada nova ferramenta em seu arsenal é rivalizada por um jeito de neutralizar as investidas do seu adversário, exigindo um grande domínio de todas as opções que o jogo oferece para se dar bem nos modos online. Até o chute especial ao gol, próprio de cada personagem, foi suavizado para balancear a experiência. É mais fácil impedi-lo do que acertá-lo, tornando o bom e velho gol uma opção muito mais confiável de pontuar.

Tanta dedicação em garantir que as partidas sejam o mais justas possíveis — matando qualquer possibilidade de uma estratégia dominante surgir em nome da glorificação da habilidade — acaba sufocando a própria ideia do jogo. Enquanto se vende como um “futebol sem regras”, como Fifa Street foi um dia, Mario Strikers: Battle League é um futebol estufado com muita regra. Elas só são diferentes das tradicionais.

Especial perde o impacto em um jogo tão rígido

A diversão ainda está ali, para qualquer pessoa decidida a curtir o que o jogo tem a oferecer, mas não é um encanto tão instantâneo quanto as versões esportivas de Mario costumam oferecer. Não é o tipo de jogo que qualquer um pode pegar o controle para jogar uma partida casualmente na casa de um amigo. É preciso algum tempo para entender o que está acontecendo ou muita familiaridade em jogos de futebol como FIFA.

A jogabilidade inconsequente de Charged não funcionaria tão bem nos dias de hoje, só que a tentativa de modernizar a experiência acabou sacrificando o espírito livre que tornava Mario Strikers único. A dose de estratégia que deveria tornar o esporte mais dinâmico, como em Mario Tennis Aces, veio em excesso e atrapalhou a diversão.

Ainda é possível curtir algumas partidas locais ou as limitadas opções para um jogador, mas o único lugar que o jogo verdadeiramente brilha é no modo online. Certamente, o objetivo de um polimento tão exagerado era adequar a franquia ao mundo dos jogos online, um território ainda delicado para a Nintendo.

Vencer os campeonatos do modo single-player é ridiculamente fácil. Só existe alguma dificuldade no modo galático.

Afinal, se for para assumir o compromisso de encarar uma série de partidas repetitivas, os jogadores preferem uma jogabilidade que recompensem seu esforço. Não é legal perder tempo em jogos online que são decididos na sorte. E todo esse esforço para trazer complexidade ao mundo de Mario Strikers compensa nas partidas online.

O problema é que, mesmo que as partidas em si funcionem, Mario Strikers: Battle League não traz conteúdo suficiente para prender os jogadores por muito tempo. Não tem um passe de batalha, variedade de skins ou de personagens, campos a desbloquear ou comprar. Tudo isso ficou para o futuro, na promessa de atualizações gratuitas sem previsão para chegar.

O primeiro deles foi adicionado hoje (20), na forma do campeonato por temporadas. A proposta era expandir o conteúdo online com uma competição sazonal, que incentivaria a permanência dos jogadores no cenário competitivo. Porém a execução, que não é muito diferente do modo online padrão, comprova que o jogo não está preparado para a tendência de “jogos como serviço“, pecando em opções de personalização robustas que garantiram a longevidade de sucessos como Fortnite e Splatoon.

Cuidado para tornar cada personagem único não compensa a falta de conteúdo gritante.

Felizmente, o mínimo conteúdo que o jogo traz é muito caprichado. Os 10 personagens incluídos no elenco exalam vida e personalidade, com animações criativas e que celebram a história de cada ícone ao longo da franquia Mario. Waluigi é o galanteador esquisito de sempre e Rosalina mantém a leveza e elegância que traz desde Mario Galaxy. A ideia de combinar cenários em cada partida também ajuda a mascarar a pobreza de opções, mas não tem como fugir da triste realidade.

A verdade é que, no momento atual, o jogo não traz uma justificativa muito forte para continuar jogando — seja online ou offline. A impressão é que todos os recursos de desenvolvimento foram gastos para trazer um jogo de futebol mais polido possível, o que foi alcançado. Mas na hora de produzir mais variedade para o jogo, a equipe de produção deixou a desejar. Quase como um acesso antecipado com preço de jogo completo.

Pelo menos é possível notar o comprometimento da Nintendo em fazer o jogo acontecer no Brasil. Além da tradução completa em português do Brasil, uma raridade em jogos exclusivos do Nintendo Switch, o game ainda conta com um servidor dedicado na América do Sul, o que ajuda a trazer partidas mais estáveis. A base do jogo está bem boa, resta saber se no futuro será lançado conteúdo o suficiente para satisfazer o público.

Nota: 7/10

Como um jogo de futebol, Mario Strikers: Battle League é muito competente e pode conquistar os jogadores que sentem a falta de um bom FIFA no Nintendo Switch. Com a devida insistência, o jogo se revela deveras divertido. Porém, em uma tentativa atrapalhada de ganhar o mundo online, o game acaba afastando o público mais fiel da franquia Mario — os jogadores casuais.

As crianças ainda vão adorar ver personagens do Mario correndo atrás de uma bola por aí, mas em questão custo-benefício, a biblioteca do Switch tem uma infinidade de opções melhores e mais completas para gastar seu dinheiro. No final das contas, Battle League não tem conteúdo o suficiente para justificar seu preço no momento, mas no futuro pode se tornar uma experiência mais satisfatória. Resta esperar para ver se um dia esse jogo valerá a pena.

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