Review: Final Fantasy XIV Endwalker é a conclusão perfeita para anos de história
Review: Final Fantasy XIV Endwalker é a conclusão perfeita para anos de história
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Nos últimos anos, Final Fantasy XIV teve um aumento imenso de popularidade, atraindo tanto novatos no mundo dos MMOs quanto jogadores familiares com outros games do gênero. Isso, porém, foi levado ao máximo com a expansão mais recente do jogo, Endwalker, que reuniu tanta gente que levou o jogo a parar de ser vendido temporariamente, já que os servidores não comportavam tamanho número de pessoas.
Mais do que o número de jogadores, porém, a expansão mais recente do jogo tinha uma tarefa extraordinariamente difícil: concluir uma história iniciada em 2010, com o falho lançamento do MMO, bem como as grandes tramas desenvolvidas desde o renascimento do game em 2014. Isso se torna ainda mais complexo diante da ideia de que, apesar de ter apresentado ótimas histórias até então, nenhuma delas tinha o propósito de finalizar um capítulo.
Com esse ambicioso objetivo, chegou Endwalker – cumprindo não só essa meta, mas levantando questionamentos bastante profundos.
Ficha Técnica
Título: Final Fantasy XIV: Endwalker
Desenvolvedora: Square Enix
Distribuidora: Square Enix
Plataformas: PlayStation 4, PlayStation 5 e Windows
Idiomas: Inglês, Francês, Japonês e Alemão
Tradução para o Português: Não
Lançamento: 7 de dezembro de 2021
Gênero: MMORPG
Requisitos mínimos
Sistema operacional: Windows 8.1 64 bit, Windows 10 64 bit
CPU: Intel Core i5 2.4GHz ou melhor
Memória: 4GB ou mais
Espaço disponível em HD ou SSD: 80GB ou mais
Placa de vídeo: NVIDIA Geforce GTX750 ou melhor / AMD Radeon R7 260X ou melhor
Resolução de tela: 1280×720
Internet: Conexão Banda larga
DirectX: DirectX 11
Configurações utilizadas para a review:
Sistema operacional: Windows 10 64 bit
CPU: Intel Core i7-8565U CPU @ 1.80GHz 2.0 GHz
Memória: 8.00 GB
Placa de vídeo: NVIDIA Geforce MX230
Resolução de tela: 1920×1080
DirectX: DirectX 12
A caminho do fim
Endwalker é a quarta expansão de Final Fantasy XIV: A Realm Reborn, e dá continuidade aos eventos apresentados anteriormente na trama. Assim, a história tem início bem onde os patchs finais de Shadowbringers pararam: tendo retornado a seu mundo e trazido seus amigos de volta após impedir que o primeiro dos fragmentos do mundo fosse consumido, o Guerreiro da Luz precisa lidar com novas ameaças, que dessa vez podem levar ao fim de todo o universo com a chegada dos Final Days (ou Fim dos Tempos, em tradução livre).
Mais que apresentar uma história nova e outra aventura com problemas que só o protagonista pode resolver, a nova expansão tem como objetivo resolver tudo que ainda estava em aberto até agora. Enquanto alguns dos elementos mais antigos do MMORPG da Square Enix já foram fechados em outras expansões, como foi o caso dos vilanescos Ascians em Shadowbringers, muito ainda permanecia, desde Zenos e sua sede por batalha contra o herói, à enorme ameaça de Zodiark, aparente fonte de todos os problemas com os Ascians.
Conectar passado e presente para apresentar justificativas e resoluções não é tarefa fácil, e seria simples para a narrativa se perder em meio a isso. O resultado em Endwalker, porém, é o oposto. Não são feitas ligações desnecessárias, e tudo que é apresentado tem uma razão, servindo para completar a enorme tapeçaria tecida em mais de dez anos de história.
Talvez os jogadores mais recentes nem imaginem diante do sucesso atual do game, mas FFXIV teve uma história conturbada, sendo lançado originalmente em 2010 como um grande fiasco. Apenas dois anos depois, os servidores do MMO foram desligados, e foi apenas em 2014 que o game foi relançado na versão atual, A Realm Reborn (Um Reino Renascido, em tradução livre). Ao invés de ignorar essa história, o game se deu ao trabalho de construir em cima dela, expandindo e melhorando as bases apresentadas na mal recebida versão original.
Aqui, o resultado disso é uma grande vitória, mas uma que só pode ser atingida pelo trabalho cuidadoso que os desenvolvedores tiveram com o game ao longo dos anos. Endwalker é o fim de um capítulo dessa jornada, mas também a grande prova da volta por cima, provada mais uma vez por meio de uma narrativa de qualidade acompanhada de uma das melhores jogabilidades dos MMOs.
Herdeiros da alvorada
Como não poderia deixar de ser, o protagonista é acompanhado nesta aventura por seus leais companheiros, os outros Scions of the Seventh Dawn. Nesse ponto da trama, muitos deles já passaram por enormes desenvolvimentos, que certamente contribuem para sua construção atual e para o apego do jogador aos personagens. Ainda assim, alguns tem momentos onde realmente brilham e mostram o quanto cresceram – com um dos maiores destaques nesse sentido sendo Urianger, que finalmente supera sua tendência ao mistério e segredo justamente em favor de seus companheiros.
É com o elenco principal que a narrativa consegue intercalar momentos de descontração (e até fofos) com a seriedade e peso que a história deve ter. Sem a ligação estabelecida entre o jogador e seus companions, o game não seria nem de longe tão bem sucedido em construir tensão em determinados pontos, ou emocionar ao ponto das lágrimas, principalmente na reta final.
Todos eles têm papel vital em tornar a história mais interessante e próxima do jogador. E, ciente disso, o jogo utiliza essa vantagem ao máximo, principalmente por meio da introdução de novos formatos de missões, onde o jogador é acompanhado pelos NPCs relevantes ao invés de só encontrá-los em determinado ponto. Ao colocá-los para caminhar com você e possibilitar conversas nem sempre relacionadas diretamente com o objetivo de missões e salvar o mundo, fica claro que o game sabe como é importante estabelecer a conexão entre seus companheiros e o jogador, algo que funciona muito bem na prática.
Se a mecânica parece inspirada em RPGs mais tradicionais, como os jogos da Bioware onde as relações com NPCs também são centrais, é porque esse parece mesmo ser o caso. Cada vez mais, o décimo quarto Final Fantasy parece dedicado a ser um RPG com elementos de MMO e não o contrário.
O foco narrativo do jogo sempre passou essa ideia, mas Endwalker oferece a chance de deixar de lado mesmo as partes mais tradicionais do “jogar junto com outras pessoas” que é característico do multiplayer online massivo. Além das quests, é possível notar isso no sistema de Trust, que foi introduzido na expansão anterior, mas é expandido aqui – e permite não só que as dungeons sejam feitas inteiramente com um grupo de NPCs ao invés de se juntando a outros jogadores, mas até uma trial.
Tudo isso contribui para a trama, que consegue dosar a presença de seus personagens sem roubar o destaque do protagonista. E, ainda que os Scions sejam o grande foco, a verdade é que o game está repleto de personagens (novos ou apenas retornando) que conseguem roubar a cena, como Hythlodaeus, que logo se tornou um favorito dos fãs. Cada um deles é único e interessante, indo muito além de antagonista genérico ou herói do bem – todos, com a exceção de Zenos.
Pessoalmente, antes do lançamento da expansão, os antagonistas eram meu maior medo em relação a Endwalker. FFXIV nem sempre teve inimigos ótimos (há um motivo para Gaius van Baelsar ser alvo de tantos memes por seu papel em Praetorium), mas toda expansão apresenta pelo menos um bom antagonista. Seja Thordan em Heavensward, Yotsuyu em Stormblood, ou o melhor deles, Emet-Selch em Shadowbringers, as tramas se dão ao trabalho de introduzir personagens que podem ser ameaçadores, mas tem propósitos, passados, personalidades, convicções e objetivos tão próprios e característicos que é impossível dizer que eles são personagens rasos.
Para mim, o ponto fora da curva sempre foi Zenos que, apesar de amado por boa parte do público, não passa de um personagem vazio que vive apenas para o combate. É justamente por ele ter menos destaque em Endwalker do que o conteúdo anterior sugeria que a história funciona tão bem, já que se sustentar em um antagonista fraco como ele certamente teria sido para o pior.
Fandaniel, o outro vilão da expansão indicado anteriormente, acaba se saindo bem melhor. Embora também não me interessasse em ver um vilão que quer apenas ver o mundo pegar fogo após a complexidade de Emet-Selch, e temesse originalmente que nenhum dos antagonistas da vez fossem se sair bem, a trama conseguiu dar profundidade a Fandaniel, revelando seu passado, origem e motivos. Foi uma surpresa do melhor tipo que, mesmo em um ponto que poderia ter sido muito fraco, a narrativa de Endwalker conseguiu dar a volta por cima e construir algo notável.
O que torna a vida valiosa
Não contente em apresentar uma história bem construída, que fecha todos os pontos principais que permaneciam em aberto, emociona, diverte e desenvolve personagens com louvor, Endwalker levanta uma discussão que parece particularmente pertinente agora – mas que, no fundo, é pertinente sempre. Um dos principais temas da expansão é a investigação da resposta para o questionamento: O que torna a vida valiosa, se todos sabemos que ela vai acabar?
É fácil abandonar a esperança em um mundo cheio de tragédias, e o clima em meio a uma pandemia que tomou a vida de inúmeras pessoas só aumenta esse sentimento. Quem enfrenta depressão, ansiedade e outros transtornos semelhantes sabe com certeza que sentir que não vale a pena continuar não é algo tão distante da realidade quanto alguns possam imaginar. E, frente a frente com esses sentimentos, Endwalker apresenta como grande inimigo um personagem que personifica o nihilismo nascido da percepção do quão difícil a vida pode ser, bem como da inevitabilidade do fim.
A conclusão do jogo, é claro, é bem mais positiva que a de seu antagonista. Por mais que seja clichê, Final Fantasy reconhece o mérito da jornada, dos amigos que fizemos pelo caminho, dos momentos que nos deram alegria ou que nos fizeram crescer. Tudo acaba, sim, e a vida nem sempre é fácil – mas cada momento tem mérito por si só, e é isso que importa, não a errônea ideia de que a vida precisa ter um significado.
Pode parecer pretensioso até, que um jogo queira discutir esse tipo de coisa. Mas a verdade é que jogos são uma forma de contar histórias tão válida quanto todas as outras, e às vezes mesmo um MMORPG cheio de personagens que parecem saídos de animes pode tocar profundamente quem o experiencia.
A jogabilidade em si é divertida na nova expansão, cheia de momentos desafiadores, dungeons divertidas e trials icônicas. A qualidade da trilha sonora marcante e cenários belíssimos é mantida, e até supera alguns dos melhores elementos de expansões anteriores. Mas o que faz Endwalker realmente brilhar é seu elenco de personagens e sua trama, em grande parte por não se contentar em ser só um conto de aventura divertido.
Com uma história brilhante que consegue concluir um capítulo de mais de dez anos sem deixar pontas soltas ou recorrer aos retcons, ao mesmo tempo em que apresenta temas e discussões sérios e relevantes, Final Fantasy XIV: Endwalker se consagra não só como um dos melhores MMOs, como um dos melhores RPGs no geral. E, por isso, a nova expansão de FFXIV leva 10/10 da Legião.
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