Review: Dying Light 2 entrega um profundo apocalipse acrobático com leves tropeços
Review: Dying Light 2 entrega um profundo apocalipse acrobático com leves tropeços
Game chega perto de ser a experiência definitiva do gênero, se não fossem alguns problemas irritantes
Dying Light 2: Stay Human, novo jogo da Techland, é o resultado de uma fórmula aprimorada por anos a fio. Com o inesperado sucesso de Assassin’s Creed, o mundo dos jogos foi invadido pela febre do parkour. Mirror’s Edge, Sunset Overdrive… A movimentação fluida caiu no gosto dos jogadores e os desenvolvedores começaram a experimentar combinações cada vez mais ousadas de gênero. Assim surgiu o primeiro Dying Light, unindo zumbis e parkour.
A aguardada sequência amadurece esta mistura inusitada a última potência — entregando uma viciante liberdade na movimentação por seu extenso mundo aberto. Entretanto, quando a questão é o combate ou pequenos detalhes mais técnicos, fica a sensação que temos outro lançamento prematuro.
FICHA TÉCNICA
Título: Dying Light 2: Stay Human
Desenvolvedora: Techland
Plataformas: PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series S|X, Nintendo Switch e PC
Lançamento: 4 de Fevereiro de 2022
Gênero: Plataforma, Stealth, Ação e Aventura, Mundo Aberto, RPG
EQUILÍBRIO NO APOCALIPSE
O jeito mais fácil de explicar a sensação de jogar Dying Light 2 é como um The Last of Us em mundo aberto que deu certo.
Existem diversos paralelos com o maior sucesso da temática zumbi. A história acontece em um apocalipse de infectados, mas a verdadeira ameaça é a natureza traiçoeira dos humanos. Para encarar os monstros, stealth é a melhor estratégia. E coletar recursos não pode ser ignorado, pois criar ferramentas é essencial para a sobrevivência.
Depois do estrondoso sucesso da duologia da Sony, a comparação acaba se tornando inevitável. Ao invés de lutar contra a correnteza, o game usa as mecânicas favoritas dos fãs do gênero para construir uma base sólida para sua jogabilidade. Mas tudo é repensado para servir ao novo contexto de mundo aberto, resultando em uma sinergia incrivelmente imersiva.
Dying Light 2 faz um malabarismo constante entre os seus diferentes estilos de jogabilidade, sem nunca deixar a bola cair. Enquanto o jogador explora os telhados da cidade, o game se comporta como um desafiador jogo de plataforma, onde o objetivo é conectar seus movimentos de parkour com perfeição enquanto estuda a melhor rota para chegar no seu destino. Mas quando adentra algum ambiente fechado, por exemplo, a coisa muda de figura.
Dentro das inúmeras casas do jogo é onde os infectados descansam, esperando pelo anoitecer. Como estas casas são recheadas de tesouros, é difícil resistir a tentação de não invadi-las mesmo sabendo do perigo. E neste momento, o jogo funciona como uma refinada experiência de stealth, onde a discrição é sua maior aliada.
Estes ciclos, que compõem a grande essência da jogabilidade de Dying Light 2, são altamente divertidos e viciantes, se completando de uma forma muito curiosa. Enquanto o parkour pede movimento constante, a furtividade pede calma, mas ambos exigem um exercício constante de saber se movimentar com estratégia e consciência. Uma sacada genial que poderia ficar repetitiva ao longo das centenas de horas de jogabilidade, se o jogo não aplicasse estratégias interessantes para te tirar da zona de conforto.
O PRAZER DO DESCONFORTO
Para começar, o ciclo de noite e dia muda completamente a abordagem, não só da jogabilidade, como também das missões. Os zumbis são mais frágeis de dia, o que facilita a exploração do parkour. Porém à noite, por saírem para caça, as zonas de stealth contam com menos inimigos. O mero avanço do tempo te incentiva a não depender apenas de uma atividade do jogo.
E a cereja do bolo é uma sacada genial do roteiro: em Dying Light 2, todos os humanos já estão infectados. Bem The Walking Dead, mas funciona de um jeito bem melhor. A trama acontece anos após o surto de uma doença infecciosa perigosa, que começou em uma cidade isolada (Dying Light) e acabou se espalhando por todo o planeta. Os únicos sobreviventes se isolaram na cidade de Villador, que aprendeu a evitar que as pessoas se transformem.
Legal, mas como isso influencia na jogabilidade? Simples. Aiden, o protagonista, precisa de raios UV para não se transformar em um infectado. Sempre que escurece, seja pelo anoitecer ou por alguma sala mal iluminada, começa uma contagem regressiva mostrando quanto tempo falta para a transformação. Se o tempo esgotar, é fim de jogo. Game over.
Com este cronômetro, o parkour noturno ganha uma sensação de urgência, que também acompanha todos os segmentos stealth do jogo. Não dá para jogar com segurança, calculando perfeitamente todos os movimentos. É preciso correr contra o tempo e esse gerenciamento extra era o tempero que faltava para trazer dinamismo até aos segmentos mais lentos.
AS CORES DA CIDADE
O dinamismo que vemos na jogabilidade também se reflete na história, mesmo que a trama não comece da forma mais original. Como Ethan Winters, de Resident Evil VII, você também está procurando uma Mia envolvida com experimentos nada éticos. Batido, mas ignorando esta motivação preguiçosa, as coisas até que fluem bem.
O enredo demora para engatar, muito devido ao exagero de exposição nas horas iniciais. As coisas começam a melhorar graças ao charme dos personagens. O rico elenco de coadjuvantes exala tanto carisma que você acaba se afeiçoando até as pessoas mais traiçoeiras possíveis, de quem você sabe que não deveria esperar muita coisa. E é exatamente por isso que funciona tão bem.
Parte das mecânicas de mundo aberto, intrinsecamente ligadas à história, pedem para que o jogador escolha um lado entre os Pacificadores — uma força paramilitar de ordem — e os Sobreviventes — pessoas que prezam a liberdade. Independente de suas convicções ideológicas, a conexão com os personagens torna cada decisão entre os dois lados muito mais difícil. Especialmente porque os benefícios são igualmente interessantes.
A maior surpresa fica para as missões secundárias, que sempre presenteiam o jogador com um pequeno conto sobre a vida em Villador. Como em The Witcher 3: Wild Hunt, até a menor das tarefas esconde um conto envolvente. No final, junto dos visuais caprichados, são estas histórias que tornam Villador tão viva.
Por outro lado, a história principal traz tantas reviravoltas narrativas que é fácil perceber que, por vezes, a história empaca sem um motivo válido. O jogo quer que o jogador interaja mais com seu elenco, mas não consegue alinhar muito bem com as motivações mais urgentes do protagonista. Não é o suficiente para quebrar a imersão, mas é apenas um exemplo de como a história principal tem problemas de ritmo. Tem o seu mérito por entregar soluções inesperadas ao mistério, só tropeça na execução.
LAMENTÁVEL DESLEIXO
Execução, por sua vez, que é o maior problema do jogo. Enquanto as coisas parecem se encaixar muito bem na grande escala, analisando de perto ficam evidentes uma séries de problemas técnicos. Clipping (quando objetos atravessam paredes), falha na inteligência artificial e outros incômodos acontecem com uma frequência inconstante, mas grande demais para não poder ser ignorado.
Em uma ocasião específica, por exemplo, zumbis atravessaram uma casa escura para a luz do sol mantendo a sua programação agressiva da escuridão. Em outra, surgiram dentro da parede de um elevador, impedindo a interação com o próprio elevador. A impressão é que o jogo precisava de mais tempo de polimento, mesmo tendo sido adiado por anos.
Poderia dizer que o combate é outra grande decepção, mas para isso eu precisaria primeiro esperar alguma coisa. Há uma tentativa de incorporar o parkour nos encontros com inimigos, mas a execução não é das melhores.
Os comandos não colaboram e parece que não houve muito esforço em deixar esta parte divertida. Ignorando os ataques de parkour, inclusive, o que resta é o sistema mais básico possível de combate. Não passa de um meio para um fim. Em um jogo com mecânicas tão interconectadas, este desleixo se destaca como uma placa neon.
A decisão de restringir movimentos bem básicos do parkour, como deslizar e correr em paredes, por trás de uma árvore de habilidades é um tanto frustrante. Em um jogo onde a liberdade se torna um elemento tão central, o gosto de se sentir restringido por uma decisão arbitrária é amargo e tira o jogador da imersão quase perfeita conquistada pelo resto da obra. São essas pequenas decisões contestáveis que mancham a experiência final, do que poderia ter se tornado uma das melhores experiências do gênero.
Dying Light 2: Stay Human tem os ingredientes certos para ser considerado uma das melhores experiências de mundo aberto da geração, mas seus tropeços amargos mancham tudo o que suas mecânicas refinadas constroem. Todos os elementos do jogo trabalham em harmonia para tirar o jogador da zona de conforto, criando um ambiente de tensão dificilmente visto em outros jogos. Não fossem seus problemas, este jogo conseguiria uma nota quase perfeita, mas diante de tudo que foi dito, ele recebe um 8/10 da Legião.
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