Review: Cult of the Lamb é a mistura perfeita de roguelike e gerenciamento
Review: Cult of the Lamb é a mistura perfeita de roguelike e gerenciamento
Jogo da Massive Monster é uma aventura viciante que sabe dosar todas as suas partes em uma receita para o sucesso
Os roguelikes não são um gênero recente, mas vem conquistando um público ainda maior com a mescla de outros elementos. Enquanto Hades utilizava seu formato para explorar a narrativa, Cult of the Lamb traz uma mistura envolvente de roguelike e gerenciamento, com uma pitada de fofo e sinistro na medida certa.
Tive a oportunidade de conferir o jogo para a LH, e posso dizer com tranquilidade que gastar várias horas no novo título publicado pela Devolver é um pacto do qual não dá para se arrepender.
Ficha Técnica
Título: Cult of the Lamb
Desenvolvedora: Massive Monster
Distribuidora: Devolver Digital
Plataformas: PC (Windows), PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch
Lançamento: 11 de agosto de 2022
Gênero: Roguelike, gerenciamento
Tradução para o Português: Sim
Modos: Single-player
Requisitos mínimos:
Requer um processador e sistema operacional de 64 bits
Sistema Operacional: Windows 7 ou mais recente
Processador: Intel Core i3-3240 (2 * 3400); AMD FX-4300 (4 * 3800)
Memória: 4 GB de RAM
Placa de vídeo: GeForce GTX 560 Ti (1024 VRAM); Radeon HD 7750 (1024 VRAM)
Armazenamento: 4 GB de espaço disponível
Configurações utilizadas para a review:
Sistema Operacional: Windows 11
Processador: Intel Core i7-11800H @ 2.30GHz 2.30 GHz
Memória: 16 GB de RAM
Placa de vídeo: GeForce RTX 3060
Quando estar na pele do Cordeiro Sacrificial não é sacrifício algum
Cult of the Lamb se inicia com uma premissa simples: o jogador é colocado na pele de um cordeirinho puro e inocente, seguindo para o abate. Ele não escapa da morte, mas esta o leva a encontrar Aquele Que Espera – uma entidade sombria e aprisionada, que devolve a vida ao protagonista e dá a ele poder para se voltar contra aqueles que o mataram e aprisionaram seu novo mestre.
Esse acordo, que tem tudo de um pacto diabólico sem citar o diabo, é um dos inúmeros exemplos de como um jogo encantador pode ter um lado sinistro, em uma mistura peculiar e extremamente carismática. Além de passar por salas geradas proceduralmente com benefícios, desafios, armas e poderes especiais aleatórios, o Cordeiro começa a conquistar seguidores, criar abrigos, plantações, um templo, e tudo mais para construir um culto à altura da chamada Coroa Vermelha.
Isso tudo traz interações divertidas de modo um tanto obscuro, possibilitando que você molde o “evangelho” do seu culto da forma que quiser – seja para torná-lo canibal, estabelecer que idosos devem morrer, ou adotar que o perdão deve ser valorizado. Essa customização também é refletida na aparência dos seguidores ou mesmo nos terrenos do culto, que podem seguir temáticas diferentes e utilizar as várias decorações para ficarem a cara do jogador.
Com uma arte belíssima e animais fofos, o jogo quase parece um “o que aconteceria se os bichinhos de Animal Crossing fizessem um culto” – mas com progresso muito mais dinâmico, combate interessante e uma história misteriosa que vai se revelando conforme cada um dos chamados Bispos que defendem as leis antigas. Mais do que descobrir o passado por trás de quem te colocou nessa posição, o game está interessado em colocar o jogador na posição de fazer sua própria história, te colocando nesse lugar de poder e, por vezes, questionando o que você decide fazer com ele.
Tudo isso dá uma personalidade única ao game da Massive Monster, que se destaca não só pela arte mas como por suas mecânicas. Se todas essas possibilidades tornam a parte do culto e do gerenciamento muito interessantes, o roguelike não fica para trás. Simples no início e ganhando cada vez mais complexidade, não só por seus inimigos mas com as armas e poderes desbloqueados, o jogo não tenta reinventar a roda, sem trazer nada de muito inovador, mas cumprindo com primor tudo a que se propõe.
São quatro áreas muito únicas, cada uma com uma temática refletida não só nos cenários, como também nos inimigos encontrados. E, precisando completar algumas vezes o caminho para liberar o próximo, o jogo proporciona horas de entretenimento viciante, facilmente prendendo no ciclo de uma rodada de combate intercalada com cuidar da sua base.
Outro destaque é a possibilidade de escolher o nível de dificuldade, fator nem sempre presente em jogos do tipo. Entre fácil, médio (a opção recomendada), e duas dificuldades mais desafiadoras, há opções para os mais variados jogadores aproveitarem a experiência como desejarem.
Acima de tudo, algo que merece elogios é a forma como as duas partes do game conversam entre si. O que poderia facilmente se tornar uma situação com duas jogabilidades muito diferentes colocadas em um mesmo jogo mas sem se complementarem, aqui não acontece. Em momento algum uma das duas partes se torna uma obrigação cansativa, uma ajudando no progresso da outra sem tomar tempo demais.
As diversas adições secundárias deixam tudo ainda mais profundo e interessante. Sejam os buffs por meio de cartas de tarô que você encontra na parte de combate, as missões secundárias em áreas desbloqueadas com o avanço na história, ou minigames como o Jogo da Bugalha, tudo é simples e divertido, além de funcionar muito bem em conjunto.
Vez ou outra, o jogo apresenta um bug ou probleminha que exigem que o jogador volte ao menu principal para prosseguir. O salvamento automático, no entanto, garantiu que nem isso se tornasse algo frustrante, nunca impactando o progresso no game.
Além de o formato roguelike contribuir para que o jogador possa jogar aos pouquinhos (uma vantagem para quem não tem muitas horas seguidas para dedicar aos jogos), com cerca de 20 horas é possível liberar todas as melhorias, e praticamente todos os cosméticos do game. Isso, é claro, depende do ritmo de cada um — mas esse não é um jogo que te apresenta nada como “obrigação”, e as várias horas que consome são puramente o resultado da vontade de jogar cada vez mais que ele provoca.
No geral, o trabalho no jogo é de altíssima qualidade, em todos os aspectos. A trilha sonora acompanha e contribui para a criação das atmosferas, o visual tem uma identidade muito própria, a história é interessante, o gerenciamento é divertido e o combate é viciante. Mesmo com expectativas altas, o game não decepciona.
Cult of the Lamb é um daqueles jogos indies que chamam a atenção de um público grande por uma característica marcante, no caso, a arte bonitinha combinada a uma temática sinistra. Mas o jogo da Massive Monster publicado pela Devolver Digital consegue se provar e ir além, entregando uma mistura viciante de gerenciamento e roguelike.
As horas passam voando entre expandir seu culto, criar suas doutrinas e derrotar hereges. Em um ano com competidores de peso de desenvolvedoras muito maiores e bem estabelecidas na indústria, o game facilmente se coloca como uma obra original e cheia de personalidade sem precisar de um orçamento gigantesco para isso – e, pessoalmente, entra como um forte candidato como melhor jogo do ano na minha lista.
Com isso, é claro que Cult of the Lamb não poderia ganhar nada menos que um 10 para a Legião dos Heróis.
E aí, o que está esperando para dar início ao seu culto?
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