Review com spoilers: A Casa do Dragão 1×07 Driftmark
Review com spoilers: A Casa do Dragão 1×07 Driftmark
Rinha de criança!
A Casa do Dragão atingiu seu sétimo episódio no último domingo (2) com o lançamento de Driftmark. Iniciando com o funeral de Laena Velaryon (Nanna Blondell), a trama ganha força com o momento mais alto de tensão entre os personagens até agora, além de dar destaque aos novos personagens – mas peca tecnicamente com uma edição que não só deixa a série sem vida, como difícil de ser assistida.
A produção da HBO continua fazendo um bom trabalho de mostrar culturas diferentes em Westeros, algo abordado com o funeral de Laena. Falado em valiriano pelo tio da personagem, Vaemond (Wil Johnson), a personagem é enviada ao mar de acordo com os costumes de sua Casa, em um momento que seria emocionante, se não fosse tão repleto de tensão entre os Targaryens, Velaryons e Hightowers presentes.
Que fique claro que isso não é uma crítica – muito pelo contrário, essa é uma apresentação brilhante para as desavenças criadas entre eles e que se tornam cada vez mais palpáveis com o passar dos episódios. Seja a provocação de Vaemond sobre os filhos de Rhaenyra (Emma D’Arcy) não serem Velaryons verdadeiros, Daemon (Matt Smith) rindo no funeral da própria esposa, ou os filhos de Alicent (Olivia Cooke) com a maior cara de quem não está nem aí, nem em um momento de perda o respeito e a união imperam, deixando muito claro quão ruim a situação é.
Essa tensão é muito bem construída, além de ser apresentada de modo muito humano. Os problemas não desaparecem mesmo em um momento assim, e as questões de cada um desses personagens também ficam evidentes. O pequeno Jacaerys (Leo Hart), que precisa lidar não só com o luto pela morte de Ser Harwin (Ryan Corr) como fazê-lo em segredo por conta dos rumores, tem uma cena muito boa ao questionar a mãe sobre o porquê de não poder demonstrar seus sentimentos diante da perda daquele que realmente era seu pai.
Por sua vez, apesar de lembrar carinhosamente do personagem ao longo do episódio, Rhaenyra mostra que Daemon é quem realmente tem seu interesse, e não perde tempo em ir atrás do tio. A química entre Emma D’Arcy e Matt Smith até começa bem, embora nem sempre seja muito convincente. O momento dos dois, quando finalmente tem seu casamento valiriano, é o melhor deles como casal, mas fica a dúvida se isso não se deve mais ao que veio antes, nas interações com Milly Alcock e a construção do relacionamento como um todo, do que na cena em si.
Apesar disso, este é outro momento que se destaca por tornar o mundo mais interessante e detalhado, mostrando mais da cultura valiriana e do que os Targaryen herdaram da terra de onde vieram. Um detalhe sem muita importância mas bem interessante é o quão rápido os dois ficam juntos, pouco depois do fim de seus casamentos anteriores – e as carinhas tristes dos filhos de cada um deles assistindo à cerimônia.
Rhaenys (Eve Best) também permanece incrível, sem medo de falar as coisas como elas são. A personagem traz um certo alívio entre tantas pessoas sedentas por poder, justamente por ter se conformado com sua chance perdida e não querer se meter numa briga na qual eles só tem a perder. É claro que isso causa tensão entre ela e o marido, Corlys (Steve Toussaint), que claramente não pensa igual – e que, a sua própria maneira, também apresenta perspectivas não só ambiciosas mas claras em seu entendimento de como o mundo funciona.
O “craque do jogo” dessa vez, porém, é o príncipe Aemond (Leo Ashton). Depois de humilhado pelo irmão e pelos sobrinhos, o garoto permanece determinado a conseguir seu dragão. A cena que mostra ele indo até Vhagar, enfrentando o perigo de ficar cara a cara com a dragão mais antiga e poderosa da época, e a luta para permanecer na cela quando ela voa, constrói um momento incrível de se assistir conforme o medo se torna euforia e o príncipe atinge seu objetivo.
Nesse episódio, é impossível não defendê-lo. Leo Ashton convence tanto no momento em que quase se aproxima de Jacaerys, com um olhar que parece indicar que ele considera por um momento ser amigável diante da dor do outro, quanto no desprezo que demonstra após conquistar o dragão mais poderoso para si. A arrogância do personagem é inegável, mas vê-lo vir da raiva após a humilhação no episódio anterior para ser quem provoca os outros é interessante – assim como perceber a enorme influência das gerações mais velhas nas desavenças que se formam entre os mais jovens.
A briga deixa isso claro, com as coisas facilmente saindo de controle e deixando o âmbito do que seria “crianças sendo crianças” para alguém ameaçar os outros de morte e sair com um olho a menos. É um mundo violento e a infância não é exceção, e vemos no episódio anterior como ela foi até mesmo instigada por aqueles que deveriam estar ensinando e protegendo os jovens príncipes.
Outra cena marcante é quando a “lavação de roupa suja” começa no meio do salão de Derivamarca, com diversos espectadores assistindo. Ninguém fica em silêncio até Viserys (Paddy Considine) finalmente se mostrar mais firme – e levar o prêmio de pai com favoritismo mais óbvio de todos os tempos, já que mal se importa com o que levou Aemond a perder um olho, mas questiona o garoto sobre onde foi que ele ouviu que os filhos de Rhaenyra eram bastardos.
A dinâmica dos verdes se sobressai, e é ótimo ver que Aemond tem noção o suficiente para não prejudicar a própria mãe (colocar a culpa no irmão é apenas natural, não é mesmo?). Alicent claramente fica muito preocupada em ter a traição descoberta, mas não o suficiente para que isso a impeça de não querer vingança pelo olho perdido do filho. Por mais que o discurso seja de justiça, a perda de controle da personagem mostra que o problema é muito maior, trazendo à tona tudo que a incomoda e que ela inveja em Rhaenyra.
Ainda que seja uma exposição bem direta, é um bom momento em relação ao desenvolvimento da personagem, tornado ainda mais notável pela atuação brilhante de Olivia Cooke. A atriz se sobressai em relação a todo o restante do elenco, seja em demonstrar raiva, frustração ou preocupação. Mais que nunca, Alicent está ciente de que só ela e os filhos lutarão por eles mesmos, e o medo e paranoia da personagem tendem somente a se tornar mais intensos.
Isso não quer dizer que a série não tenha seus problemas com a construção da trama. Apesar de ser um bom momento para o desenvolvimento de Alicent, o fato de ela questionar o rei abertamente, repetidas vezes, e agir contra o que ele ordenou ainda assim sem ser punida parece mais um exagero da série. Isso mantém o desequilíbrio entre o que é punível ou não, o que pode deixar difícil de acreditar em certas coisas depois, assim como aconteceu com Ser Criston (Fabien Frankel) e Ser Harwin anteriormente.
Uma mudança positiva, no entanto, foi o fim dado para Laenor Velaryon (John MacMillan). A decisão também tem o problema de mais uma vez impedir que Rhaenyra suje as mãos e tome atitudes controversas, ou mesmo que aqueles associados a ela, como Daemon, o façam. A produção da HBO parece ter um claro lado certo, sem querer demonstrar que não há bondade ou maldade absolutas em nenhum dos dois lados – o que, pessoalmente, considero ser uma perda, tanto para os personagens que são impedidos de sujar as mãos, quanto para a história como um todo.
Ainda assim, não consigo dizer que foi uma decisão ruim. Laenor morre nos livros, é verdade, e a situação na série cria um problema em relação ao futuro do dragão Seasmoke. Ainda assim, foi um alívio não ter que ver mais um personagem gay morrer violentamente, e a reviravolta em como isso foi apresentado foi bem satisfatória. Finalmente um gay dando golpe para viver feliz, longe de toda a ambição e conflitos nos quais ele nunca teve interesse.
Para além da trama, o episódio peca na parte visual. Fica bem óbvio que, apesar de gravadas durante o dia, as cenas foram editadas para se passarem à noite, algo comprovado pelas imagens promocionais divulgadas anteriormente. O resultado é um filtro azul estranho, que deixa tudo difícil de ver. A decisão de escurecer o episódio na pós-produção é terrível, e deixa o episódio sem vida, difícil de enxergar, e bem menos bonito do que poderia ser.
Não é o suficiente para tornar o episódio péssimo, mas certamente prejudica sua qualidade. Essa não é a primeira vez que o diretor Miguel Sapochnik recebe críticas nesse aspecto, e acredito que há ainda mais a ser criticado sobre sua direção. Se Claire Kilner brilhou com a cena de sexo entre Rhaenyra e Ser Criston, o momento de Rhaenyra e Daemon é tão sem vida quanto a paleta de cores do episódio. O voo de Aemond em Vhagar até é bem feito, considerando o quanto da cena é CGI, mas não compensa pelo episódio como um todo.
É uma pena que ao invés de continuar a dar esses momentos de desenvolvimento mais orgânico para os personagens, deixando que as coisas aconteçam e permitindo que vejamos as consequências disso, a série vai passar por outro grande salto temporal no próximo episódio. Principalmente com a adição das crianças e do quanto elas se destacam aqui, é triste não ter mais tempo para as conhecermos vermos as dinâmicas entre elas ainda melhor antes de vê-los como adultos porque a correria não pode parar a não ser para os momentos violentos.
No fim, é um bom episódio apesar de tudo, e certamente deixa a empolgação para o futuro. Por maiores que seus defeitos sejam até o momento, HotD não precisa fazer esforço para ser absolutamente interessante, algo que deve em grande parte a seus personagens, sejam eles amáveis ou detestáveis. Tomara que a série perceba isso e passe a focar mais neles do que no que precisa acontecer no futuro.
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