Review: Chocobo GP é uma tentativa triste de reproduzir jogos melhores
Review: Chocobo GP é uma tentativa triste de reproduzir jogos melhores
Ausência de diversão ou originalidade levam esse competidor a terminar a corrida em último lugar
Os games de corrida baseados em personagens populares são um sucesso há anos. Com pistas divertidas que retratam cenários relacionados ao universo equivalente, bonequinhos peculiares colocados em carrinhos que refletem sua estética, além de poderes especiais para deixar a competição mais acirrada, esse parece ser um gênero no qual é difícil algo dar realmente errado.
Provando que toda regra tem uma exceção, no entanto, vem Chocobo GP. O jogo de corrida arcade inspirado pela franquia Final Fantasy consegue ser desinteressante, deixando a desejar na diversão e na personalidade, enquanto busca reproduzir títulos melhores ao invés de se apoiar nas forças de sua franquia.
Ficha técnica
Título: Chocobo GP
Desenvolvedora: Arika
Distribuidora: Square Enix
Plataforma: Nintendo Switch
Lançamento: 10 de março de 2022
Gênero: Corrida de kart
Tradução para o Português: Não
Modos: Single-player, multiplayer (local e online)
Uma largada cheia de microtransações
A primeira coisa que se destaca em Chocobo GP é sua semelhança com títulos gratuitos para jogar em plataformas mobile. Embora essa característica não seja por si só algo negativo, é difícil não encarar esse aspecto como pejorativo quando se discute um jogo de console que, além de ser pago, está longe de ser um título barato.
Ao abrir o game, você logo se depara com recompensas de login, três tipos diferentes de moedas, bem como um passe de batalha. Existem meios de adquirir as moedas apenas ao jogar, embora coletar um número significativo de qualquer coisa além dos tickets não seja tarefa fácil, e mesmo estes exijam inúmeras partidas para que você consiga obter mais que um ou dois personagens. O que não faltam são incentivos para microtransações, que parecem determinadas a fazer o jogador gastar ainda mais dinheiro com o game.
Os próprios corredores são disponibilizados de maneira confusa e, de muitas formas, decepcionante. Enquanto alguns dos personagens da história são liberados ao avançar na campanha, outros simplesmente ficam disponíveis para compra. Apesar de contar com um elenco carismático, incluindo personagens como Vivi, de Final Fantasy IX, os maiores nomes da franquia da Square Enix são reservados para a loja: Cloud Strife, do sétimo jogo, só pode ser adquirido por meio de um passe que precisa ser comprado, exigindo ainda partidas online para o avanço nas recompensas, algo que só pode ser acessado com a assinatura do Nintendo Online. Da mesma forma, Squall Leonhart, do oitavo Final Fantasy, precisa ser comprado com Gil – que também exige que se jogue online para ser ganho por meio do já mencionado passe ou de desafios semanais e diários.
A semelhança com o formato de jogos gratuitos para celular é tamanha que, ao jogar, é difícil não esperar que em algum momento você vai dar de cara com uma limitação de capítulos diários, a oferta de compra de mais “energia” ou algo semelhante. Felizmente, isso não se concretiza – mas o formato parece terrivelmente inadequado para um game que supostamente competiria com franquias como Mario Kart ou Crash Team Racing.
O desperdício de uma franquia icônica em um game dedicado a copiar
Falar nos títulos do mesmo gênero, inclusive, é inevitável. Isso porque, quando não tenta ser um jogo mobile, Chocobo GP tenta ser Mario Kart de forma deprimente e sem qualidade, desperdiçando seus laços com a franquia Final Fantasy em favor de releituras óbvias e pioradas da série da Nintendo.
Pode parecer exagero, mas o fato é que os cenários lembram uma versão triste de algo que Mario Kart faz melhor – óbvias o bastante para que as inspirações fiquem claras imediatamente para qualquer um que jogue ambos os títulos.
O novo game apresenta locais extremamente derivativos, como é o caso com a pista do Gold Saucer, por exemplo. O cenário icônico de Final Fantasy VII foi transformado em um circuito que simplesmente recria a Rainbow Road de Mario Kart, resultando em enorme potencial desperdiçado. É decepcionante que, ao invés de se utilizar de suas forças, criando algo interessante com o conceito ou mesmo se baseando nas pistas de seu antecessor do PS1, Chocobo Racing, a escolha aqui seja de imitar algo feito muito melhor por outro jogo.
A jogabilidade em si não ajuda a tornar a experiência melhor. Os diferentes terrenos pouco fazem diferença na sensação de pilotar, assim como a mudança de personagem só altera seus poderes únicos (alguns dos quais parecem simplesmente inúteis quando utilizados). Nem mesmo a chuva faz diferença nos controles, que não conseguem passar a ideia de velocidade na maior parte do tempo.
Para piorar, as habilidades especiais conseguidas ao se passar por certos itens nas pistas também não são um ponto positivo. Algumas versões do Magicite fazem pouca diferença, enquanto outras se mostram extremamente fortes. No fim, parece que a sorte em garantir poderes bons e não ser atingido por nada forte demais influencia mais no resultado de uma corrida do que qualquer tipo de habilidade, podendo resultar em uma experiência frustrante em um título que não deveria depender apenas de sorte.
Quando a fofura de moogles e chocobos não é o bastante
Assim como outros títulos do gênero, Chocobo GP conta com uma campanha de história bem curta, por meio da qual o jogador pode liberar mais personagens e pistas para os outros modos. O game inclui ainda um modo cooperativo local, disputas de tempo e, é claro, competições online em torneios contra outros jogadores.
Quando se trata da história, já é de se esperar que o game não apresente nada demais, mas a experiência ainda assim consegue se tornar maçante. Curtas horas parecem se alongar enquanto as mesmas piadas são repetidas exatamente da mesma forma ao longo de todos os capítulos. Vez ou outra, isso é piorado com humor datado, como uma situação em que os protagonistas fazem piada sobre a mulher de casal ser quem “usa as calças” na relação. No fim, o game não conta nem como uma história bobinha que entretém – só vários capítulos exaustivamente semelhantes que se tornam cansativos muito rápido.
Final Fantasy sabe que seus mascotes convencem na fofura, e além dos já esperados chocobos, o game de corrida não falha em incluir também os moogles no game. Mas nem a fofura dos mascotes, nem os modelos bem feitos de todo o elenco de corredores são o bastante para compensar por um game sem vida, que sequer demonstra interesse em fazer algo minimamente original ou divertido.
Chocobo GP funciona como deveria, e apresenta personagens com designs legais e modelos bem feitos, mas esses são os únicos elogios que podem ser feitos ao game. Deixando de lado qualquer criatividade e buscando apenas emular outros jogos do gênero, o título é uma experiência maçante, com uma história tão sem vida quanto suas pistas. Se estiver interessado em experimentar, é melhor se ater a versão gratuita.
A jogabilidade é mais um ponto negativo, com os controles e mesmo a mudança de terreno tendo impacto mínimo, e levando a uma experiência onde a sorte parece ser o único definidor de quem vence uma corrida. Parecendo mais um jogo mobile que visa emular grandes títulos como Mario Kart, este é um título que não se justifica como sequência, derivado, ou mesmo um título de console com preço cheio.
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