Review: Call of Duty Modern Warfare 2 é um excelente estimulante de dopamina
Review: Call of Duty Modern Warfare 2 é um excelente estimulante de dopamina
Será que a campanha e multiplayer do remake desse clássico dos jogos de tiro honra o original?
Call of Duty é mais um nome de peso na corrida dos remakes. Agora, chegou a vez do título de 2009, Modern Warfare II, ganhar uma carinha repaginada para a nova geração de consoles.
Ficha Técnica
Título: Call of Duty: Modern Warfare II
Desenvolvedora: Infinity Ward
Distribuidora: Activision-Blizzard
Plataformas: Xbox One, Xbox Series X | S, PC, PlayStation 4, PlayStation 5
Lançamento: 28 de outubro de 2022
Gênero: Jogo de Tiro em Primeira Pessoa
Modo: Single-Player, Multiplayer competitivo online, Multiplayer cooperativo online
Como o remake se compara ao original?
Para muita gente, o prato principal aqui é o multiplayer acelerado pelo qual a franquia CoD é reconhecida. No entanto, é difícil desvencilhar Modern Warfare de uma boa história. A trilogia original causou um impacto tremendo durante seu percurso de lançamento e, junto do multiplayer, as guinadas da trama no modo campanha ficaram cravadas na mente dos jogadores junto de personagens memoráveis e vilões inesquecíveis.
O remake de Modern Warfare II segue com o elenco de personagens já queridos pelos fãs. Soap, Price, Ghost – a banda está reunida novamente. O teor da apresentação narrativa agora é menos alucinado, vale apontar. Tudo ainda é calcado no mito do operador — um soldado de elite com armas de ponta e tecnologia de ponta maior ainda para lidar com o tiroteio de uma maneira mais estratégica e fria.
Alguns anos de cultura pop transcorreram de 2009 até aqui e Modern Warfare II Remake chega numa pegada mais Sicario (2015) do que Falcão Negro em Perigo (2001).
A campanha de Call of Duty Modern Warfare 2 (2022)
A última campanha de CoD que me surpreendeu mesmo foi a de Advanced Warfare (2014), onde você tinha todo o gameplay característico da franquia — avance e atire e veja coisas explodirem ao seu redor—, mas com alguma (ainda que leve) ousadia no level design. CoD sempre foi um corredor cinematográfico de adrenalina, mas alguma pretensão de mudar as coisas deu as caras em AW. De repente você tinha mais controle do que o usual no desenrolar da missão e podia optar por rotas ou táticas diferenciadas em alguns mapas.
Depois, essa pretensão sumiu nos jogos seguintes — CoD voltou a servir o mesmo sabor de sempre, ao ponto das campanhas ficarem para trás até no marketing e o multiplayer assumir de forma muito mais imponente o local de destaque nesses jogos. Será que o remake de Modern Warfare II consegue resgatar a glória prévia da franquia?
Na verdade, essa reimaginação de Modern Warfare II surpreende um pouco além do que a própria campanha de Advanced Warfare. O corredor de tiros cinematográficos ainda está aqui, não se engane. Mas algumas missões pedem por um ritmo mais tático. Vasculhe bem os corredores, avance com cuidado.
Não é só na cadência mais calculista que MW II surpreende — as missões adicionam mecânicas e até elementos de física que variam muito bem o andar da carruagem. Em uma missão, por exemplo, você atira contra inimigos enquanto batalha contra a turbulenta correnteza de um rio. Em outra, ao invadir um navio no meio de uma tempestade, você troca tiros enquanto contêineres gigantescos deslizam no convés e podem muito bem te esmagar.
Já outra missão te tira tudo que te empodera nesses jogos — as armas e gadgets de ponta, até mesmo a sua faca, e te joga num mapa em puro modo de sobrevivência. Você precisa até craftar equipamentos de guerrilha, dando um contraste bem legal com o padrão da franquia, o já supracitado corredor de tiros cinematográfico.
A inovação está aí, ainda que em doses parcas, sendo o suficiente para a campanha de MW 2 Remake não ser um mero mais do mesmo. Uma das missões me lembrou até de Hitman, guardadas as devidas proporções.
A história envolve mísseis roubados por um terrorista, cartéis mexicanos e uma boa dose de conspiração. Em uma das missões você fica de ponta cabeça no meio de uma perseguição veicular, tornando CoD algo quase equivalente a um Missão Impossível dos games. Quem curte a campanha desses jogos se amarra justamente nesse tipo de sequência insana.
O gráfico de Call of Duty: Modern Warfare II é bom?
Visualmente, tudo é espetacular — de uma Amsterdã pulsante em plena luz do dia (sério, a introdução dessa missão é quase uma fatia de turismo digital) até as partículas de chuva e lonas que são arrancadas de contêineres durante uma tempestade. Modern Warfare II é bonito pra caramba.
O problema aqui são alguns bugs (tive de reiniciar uma missão porque o jogo não reconhecia que eu tinha cumprido um objetivo) e o sistema de checkpoint e respawn, especialmente nas últimas missões.
Às vezes você morre logo depois de um checkpoint e quando volta já está com um pé na cova novamente, com algum inimigo descarregando uma escopeta na sua cara. E não se engane, até no modo médio MW 2 Remake é meio inclemente: você morre surpreendentemente fácil se não tiver agilidade.
Em termos de campanha, MW2 oferece uma aventura que referencia o jogo clássico, resgata seus personagens icônicos e até mesmo experimenta em ritmo e gameplay sem sacrificar a fórmula que consagrou tudo isso. Vale a pena você gastar umas horas aqui, mesmo que elas estejam acompanhadas de alguns bugzinhos e um sistema de checkpoints duvidoso.
No recorte político em que vivemos, CoD é uma coisa complicada de se abordar. Jogos como Cold War abraçaram um propagandismo militar e revisionismo histórico absurdos e um tanto difíceis de engolir, dependendo da sua sensibilidade. E não se engane, Modern Warfare II não é inocente, mas pelo menos as palavras “crimes de guerra” são proferidas aqui se referindo aos supostos mocinhos que controlamos.
Em termos de tom, Modern Warfare II parece mais uma fantasia de operadores à lá G.I. Joe do que uma pérfida propaganda militar.
O multiplayer de Modern Warfare II
O louco de Call of Duty é como o jogo parece artesanalmente feito para fritar os seus receptores de dopamina. O núcleo da jogabilidade — mirar em silhuetas e sentar o dado no R2 enquanto seu inimigo se torna uma névoa de sangue digital — é muito recompensador. Especialmente no multiplayer, onde você ganha recompensas por isso e números pipocam na tela pra te incentivar.
É tudo feito pra ser prazeroso e estimulante aos sentidos. CoD sempre foi muito bom em afogar o jogador numa cacofonia de caos e estilhaços e, mais importante que tudo isso, dopamina.
Rodando o jogo num PS5, testei alguns dos modos multiplayer, que incluem clássicos como o Team Deathmatch, Domination e Kill Confirmed. Tudo rodou relativamente liso, sem lags ou falha de servidores.
O principal diferencial aqui se dá em termos de escala: as já tradicionais partidas em mapas menores para modos de jogo como Team Deathmatch são frenéticas, mas o modo Ground War transporta a ação para um ambiente bem maior, em que o ritmo da jogatina é mais devagar, algo comparável a Battlefield, franquia rival de CoD.
Em termos de progressão, você é muito bem incentivado a seguir jogando para liberar melhorias ao seu armamento.
Fazia um tempinho que eu não jogava CoD e de vez em quando me surge a necessidade de ver números amarelos pipocando na minha tela. Esses dias joguei e fiz um triple kill. Foi uma boa sensação que eu quero perseguir novamente.
É importante destacar que eu costumo ser extremamente mediano no multiplayer desses jogos e basicamente ligo o Play na esperança de ver números amarelos confirmando que eu acabei com a diversão de algum jogador, afinal, dopamina é o hormônio da felicidade e CoD é particularmente bom em fazer com o que o seu cérebro libere esse hormônio e justifique as incontáveis horas que você passa no multiplayer.
Às vezes o jogo parece me confrontar, especialmente quando eu me sinto particularmente bom nele, e aí sou jogado contra um time de pro-players que basicamente me humilham e fazem com que meu KDR (kill death ratio, a porcentagem das mortes que você causou vs. as que você sofreu) seja algo risível. Solto o controle e penso qual é a moral desse joguinho de tiro, para então largar tudo e ir lavar a louça. Nesse sentido, CoD pode ser uma experiência deprimente.
Mas se você curte competitividade e games de tiro em primeira pessoa, bom, provavelmente Modern Warfare 2 é uma compra certa no seu calendário de aquisições e você está lendo isso para confirmar aquilo que já esperava.
A nota final para Call of Duty: Modern Warfare 2 (2022) é um belo 8/10. Um bom jogo caso você precise de dopamina urgente, e esse é um daqueles CoDs em que, pelo menos, a campanha também vale a pena.
Call of Duty: Modern Warfare II está disponível no Xbox One, PlayStation 4, PC, Xbox Series X | S e PlayStation 5. A review foi feita com base na versão de PS5.
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