Review: A Casa do Dragão 1×04 – O Rei do Mar Estreito
Review: A Casa do Dragão 1×04 – O Rei do Mar Estreito
O episódio que mais passa a sensação da obra literária até agora!
Se aproximando da metade de sua primeira temporada, A Casa do Dragão não só mantém o interesse como consegue demonstrar que grandes batalhas não são necessárias para contar uma grande história. Sabendo manter o passo, a série apresenta em seu quarto episódio uma das melhores adaptações da obra de Martin para as telinhas, indo além em comparação até mesmo com os episódios iniciais de Game of Thrones.
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Até agora, quem está acompanhando as reviews do site já sabe que a intriga política foi o que mais me cativou no início da série, mas é preciso reforçar quão bem isso é apresentado no episódio O Rei do Mar Estreito. Não é só fofoca e frases de efeito: é todo o clima do episódio, do ar conspiratório do Otto Hightower de Rhys Ifans aos personagens agindo cada vez mais diretamente um contra o outro para alcançar seus objetivos.
Por mais que certas ações sejam consideradas “burras” pelo público dadas as posições dos personagens, nada foge ao que foi construído com eles em tela até agora – e seus erros servem para torná-los mais humanos, principalmente quando se trata de Rhaenyra, seu aborrecimento diante das injustiças de como é tratada e suas decisões impulsivas que colocam sua posição ainda mais em risco.
A princesa é impetuosa, impulsiva, e ao menos para mim, muito cativante. Mas, mais que vê-la agindo de acordo com seus desejos, o que cementa Rhaenyra como uma personagem marcante é ver isso pareado ao fato de que ela não é completamente ignorante de sua situação. Uma das ações dela no episódio, ainda que movida em parte por seus sentimentos, acaba sendo uma jogada importante para livrá-la de um adversário no jogo dos tronos – ainda que, provavelmente, acabe conquistando outra, ainda pior.
Não é a princesa individualmente, porém, que faz o episódio brilhar. É Otto esperando um momento de acusá-la de algo e insistir em outro herdeiro, Alicent percebendo a prisão que vem com sua posição como rainha, Daemon agindo para conseguir o que quer mesmo que isso levante questões sobre a reputação de sua sobrinha.
É ver que as ações dos personagens também são percebidas por aqueles não vistos ao redor deles, como os servos que sabem da “fugidinha” da princesa. É ver as passagens secretas e disfarces ganharem vida, enquanto os personagens exploram a dualidade entre sua vida na Fortaleza Vermelha e o que existe lá fora, nas ruas de Porto Real.
Tudo isso contribui para uma atmosfera muito semelhante à dos livros de Martin, e bem diferente do choque gratuito, batalhas intermináveis e falta de construção coerente de Game of Thrones. A série tem suas divergências do livro, claro, mas no quarto episódio mais que nos anteriores, parece entender o material fonte bem o suficiente para transmitir em tela um clima parecido com a obra na qual se baseia.
Vale destacar, também, que apesar da nudez e sexualidade presentes no episódio, tudo é abordado de forma surpreendentemente delicada para uma franquia com enorme histórico de violência em tela. A cena entre Viserys e Alicent é dolorida de ver justamente porque tem foco nela; mesmo o momento de Criston Cole com Rhaenyra é cercado de sensibilidade, tanto pela euforia da princesa quanto pela solenidade do cavaleiro ao se comprometer em quebrar seus votos. Até as cenas em um bordel não são tão gratuitamente explícitas com corpos femininos quanto várias outras em na franquia da HBO.
Quanto disso é benefício do episódio ser dirigido por uma mulher, Clare Kilner, é difícil afirmar, mas a impressão que fica certamente é de que as duas coisas não estão dissociadas. O foco nas personagens mulheres e em seus sentimentos definitivamente contribui, não só para desenvolvê-las como personagens, mas também para garantir que elas não sejam apenas objetificadas nestes momentos, e até seu sofrimento não seja gratuito como as cenas de Sansa na temporada cinco de GoT. Se o episódio anterior falhou com o ponto de vista feminino, este certamente corrigiu o curso.
De forma sutil, o quarto capítulo da primeira temporada mostra que seus personagens tem desejos para além do Trono de Ferro, sejam eles carnais ou ideais de felicidade que, muitas vezes, estão além do seu alcance. É mais fácil desgostar de alguns que de outros, mas a maioria deles possuem falhas e características ou circunstâncias redentoras, os tornando mais interessantes com cada nova adição à história.
A série, porém, não é sem seus defeitos. É preciso admitir que embora os saltos temporais contribuam para o ritmo da trama, às vezes fica a sensação de que algo poderia ter sido melhor explorado, mais aprofundado, preenchendo espaços que o livro, em formato de crônica histórica, nem sempre se preocupa em mencionar.
Além disso, um fato recorrente que não deixa de incomodar é a violência gratuita no universo da série. Se o primeiro episódio tinha lordes se matando em um duelo e ninguém parecia ligar, o mais novo torna isso ainda pior logo no começo. A obra de Martin nunca foi livre de violência, mas não faz sentido algum que senhores de casas nobres saiam assassinando um ao outro livre de consequências, sem nem mesmo estarem em um período de guerra ou conflito. De tudo que é apresentado na série, isso é de longe o que parece mais gratuito e deslocado, e ainda que não seja um problema do tipo que acaba com toda a produção, certamente a prejudica.
As falhas certamente não conseguem apagar todos os acertos, e o episódio quatro facilmente conquista o posto de favorito da nova série até agora. Ainda é cedo para dar um voto definitivo nesse aspecto, no entanto – principalmente quando a próxima semana promete um casamento histórico.
House of the Dragon ganha novos episódios aos domingos, às 22 horas, na HBO e HBO Max.
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