Review: A Casa do Dragão 1×03 – O Segundo de seu Nome
Review: A Casa do Dragão 1×03 – O Segundo de seu Nome
Mais um episódio com Daemon roubando a cena!
Com três episódios lançados, a trama de A Casa do Dragão toma forma, entre alianças, desavenças e conflitos de interesses. Esse tempo não foi o bastante para tornar todos os personagens memoráveis, claro, mas solidifica cada vez mais que alguns deles vieram para conquistar o coração do público – e ninguém brilha mais que Daemon Targaryen nesse sentido.
Há outros destaques, claro, e é impossível não citar o Viserys de Paddy Considine como um dos pontos mais altos do episódio. Por mais irritante que possa ser ver o rei Targaryen criando problemas ao se recusar a lidar com eles, existe algo muito interessante em ver essa figura decadente em um trono que claramente não deseja.
Mais ainda quando suas decisões são constantemente influenciadas por outros, mesmo que ele não se dê conta disso. As cenas são por vezes caricatas ao deixar clara a decadência do rei, que ainda assim não perde a oportunidade de lembrar aos outros que quem manda ali é ele – mesmo que quem cace, prepare o alvo, entregue uma lança nas mãos dele e indique exatamente onde apontá-la sejam outros.
Isso é contraposto à princesa que, em seu desejo de mudança, encontra dificuldades e precisa colocar a mão na massa. O terceiro episódio dá grande destaque ao fato de, na primeira oportunidade, os lordes do reino estão prontos para tirar qualquer possibilidade de poder das mãos de Rhaenyra, tal como Rhaenys avisou anteriormente.
Curiosamente, porém, essa discussão não vem com destaque para as personagens femininas, que acabam tendo menos espaço no episódio, exceto por tentativas exageradas de dar ao público todos os sinais de que a princesa é a herdeira correta – sem confiar, parece, no fato de que a injustiça de seu tratamento por ser mulher seja o suficiente para torná-la completamente digna da torcida dos fãs (ou abrir espaço para que o público se relacione com a questão da forma que bem entender, inclusive sem tomar partido e simplesmente aproveitando a história em si).
Talvez isso seja efeito do distanciamento de Rhaenyra e Alicent em tela, já que o momento em que as duas contracenam no bosque apresenta uma dinâmica de poder bem interessante. Seja por sua personalidade ou falta de ambição, porém, a Alicent de Emily Carey fica apagada ao lado de atores como Considine ou o intérprete de Otto Hightower, Rhys Ifans.
Ao mesmo tempo, Milly Alcock passa tanto tempo emburrada pelas coisas não serem como ela quer que é difícil Rhaenyra se destacar nesse episódio, ainda que boa parte dele seja ocupada por várias discussões sobre o direito dela ao trono. Mesmo as críticas à ideia da vida que ela deve levar por ser mulher acabam sendo melhor abordadas em cenas em que ela própria não está presente, como o confronto entre Jason Lannister e o rei.
Há de se dar o benefício da dúvida à série, porém, que ainda está no início e não falhou com suas personagens anteriormente. Fica a esperança de que veremos a princesa e a rainha ganhando cada vez mais espaço, e se tornando o centro dos holofotes do conflito que virá, assim como elas devem ser
No fim, o grande destaque fica mesmo é para o conflito nos Degraus. Não graças a seu “vilão”, Craghas Drahar, que oferece pouca ameaça e presença, e tem como único elemento marcante seu visual (e aí está a resposta para meu questionamento anterior do porquê esse visual era necessário, bem como a comprovação de que ele não acrescenta nada em substância). Quem brilha aqui é Daemon, mais uma vez – mas acompanhado por Laenor Velaryon e seu dragão.
A atuação de Matt Smith como o príncipe rebelde rouba a cena sempre que ele está em tela, seja sorrindo como se fosse dizer algo agradável ou descontando a raiva em um mensageiro. Ele é um personagem complexo, cheio de falhas, e o ator consegue retratar isso ao mesmo tempo em que o torna muito carismático. Daemon pode até não estar tomando as atitudes “certas”, mas é difícil não torcer por ele quando ele vence uma guerra que vinha sendo perdida puramente na força do ódio e desejo de se provar.
Também não dá para não falar de Laenor Velaryon, vivido por Theo Nate. O personagem mal aparece no episódio, é verdade, mas isso não o impede de já chegar cheio de promessa. Não só seus comentários críticos, como também seu talento para estratégia são mostrados nos poucos momentos que ele tem, e fica a vontade de ver mais do jovem (e em outras circunstâncias, principalmente em meio à corte).
Diferente do segundo episódio, não há uma grande preparação de peças aqui, e sim o desenvolvimento do que já havia sido estabelecido antes. Ainda assim, House of the Dragon não perde o ritmo, e fecha o episódio em seu ponto alto, ao mesmo tempo em que não impede a história de progredir nas cenas anteriores.
Este era um problema que Game of Thrones, principalmente em sua segunda metade, frequentemente tinha: episódios que se alongavam em núcleos inúteis para guardar grandes acontecimentos para o fim. A sucessora continua evitando refazer todos os passos da primeira série da HBO nesse universo, acertando em manter o que lembra da qualidade inicial de GoT ao mesmo tempo em que se afasta de erros como esse.
Com uma temporada de dez episódios, o caminho até o grande final ainda levará algum tempo. Até agora, porém, a série vem fazendo por merecer os elogios, e não dá indicação de que isso irá mudar. A produção pode até não contar com todo o orçamento e qualidade de CGI de outras do mesmo gênero, mas mostra que, mais que isso, é essencial ter uma trama sólida e um elenco e personagens cativantes.
House of the Dragon ganha novos episódios aos domingos, às 22 horas, na HBO e HBO Max.
Veja também: