Review: A Casa do Dragão 1×02 – O Príncipe Canalha
Review: A Casa do Dragão 1×02 – O Príncipe Canalha
Não dá para esperar uma tempestade chegar!
O segundo episódio de A Casa do Dragão trouxe o que a franquia iniciada na HBO por Game of Thrones faz de melhor: complexidade para seus personagens e muita intriga política. Este é mais um acerto para a série, que continua no caminho certo para entregar uma grande história.
Com um breve salto temporal de seis meses, a série mexe com algumas das dinâmicas apresentadas em seu episódio inicial. Se a proximidade entre Rhaenyra e Alicent permanece forte, as desavenças de Daemon com o restante da família crescem, assim como as ambições de Corlys Velaryon.
Mais uma vez, os novos personagens conquistam seu espaço, sem deixar margem para saudades dos protagonistas da série de antes. Isso tudo é completado por uma construção muitas vezes sutil, mas que os aprofunda sem precisar explicar demais.
Tudo está lá nos detalhes, como as mãos machucadas de Alicent dando vazão aos sentimentos que ela não pôde expressar por conta de sua posição e das expectativas que a cercam. É uma maneira deliciosa de aprender mais sobre esse novo elenco, mostrando também o cuidado que a série tem com seus personagens até agora.
É nesse aspecto que o segundo episódio brilha: desenvolver seus personagens. Seja mostrando lados diferentes deles conforme eles interagem com pessoas diferentes, seja mostrando o que provoca neles reações como raiva e o que os acalma, bem como o que os motiva, o elenco principal da série se torna mais interessante e complicado, tanto pela construção individual quanto pelos relacionamentos explorados.
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Mais que dar mais camadas aos personagens, House of the Dragon já inicia a preparação do tabuleiro para o que vem aí, criando uma intriga cada vez mais complexa, seja por meio de suas alianças ou dos óbvios conflitos que surgem.
Esse é outro ponto alto do segundo episódio. Mesmo que Game of Thrones tenha suas batalhas memoráveis, e A Casa do Dragão certamente chegará a esse ponto também, o conflito principal não é somente um espetáculo da guerra. A obra de George R. R. Martin se destaca por abordar a disputa por poder muito além de empunhar uma espada, e é este o foco neste momento da série – algo de que, pessoalmente, eu estava com saudades após o fim da série anterior da HBO tratar esse lado da trama com tanto descaso.
Para além do ótimo trabalho que a série faz ao colocar seus personagens no centro da história, vale destacar também como a ambientação consegue ser primorosa. Não dá para deixar passar batido o clima da cena (sem spoilers!) em Pedra do Dragão, com uma atmosfera que contribui para a tensão ao mesmo tempo em que resulta em um panorama muito bonito e uma ambientação que de fato remete a uma ilha vulcânica em meio ao oceano.
O local também aparece em Game of Thrones, mas nunca se destacou tanto simplesmente pela construção do ambiente, o que torna ainda mais digno de elogio o trabalho de A Casa do Dragão. Mais que ser uma continuação digna do legado da série anterior, a nova produção da HBO mostra ter um rosto próprio, e conseguir explorar caminhos semelhantes de uma ótica interessante e cheia de frescor.
Também vale o elogio aos atores. O Daemon Targaryen de Matt Smith rouba a cena sempre que está em tela, e mesmo que não apareça tanto quanto o nome do episódio sugere, sua presença é tamanha que isso não é sentido.
Nesse episódio, Paddy Considine também se destaca, dando mais camadas ao rei Viserys I, personagem bem menos “gostável” e carismático que seu irmão. Ainda assim, entre seu luto, seu desgosto com o que precisa ser feito, sua relação com Rhaenyra e a dinâmica com Alicent e o Pequeno Conselho, ele se torna muito mais do que apenas um rei fraco.
Steve Toussaint também mostra toda sua presença e o motivo pelo qual foi escolhido para o papel de Corlys Velaryon. E que bom que ele foi, apesar de toda a polêmica e críticas racistas. O ator demonstra muito apenas com seu olhar, e facilmente se coloca como uma presença muito imponente, por vezes até ameaçadora.
As cenas criadas para criar desconforto continuam presentes, e a apresentação de Craghas Drahar como uma ameaça chega até a ser caricata em meio a isso (por que optar por aquele visual ao invés de deixá-lo ser apenas um humano?). Mas a série mostra que há mais para criar desconforto que o sangue e violência nos quais D.B. Weiss e David Benioff se apoiaram em GoT – bem como a possibilidade de levantar críticas sobre o tratamento das mulheres nessa sociedade sem forçar os espectadores a assistirem inúmeras cenas de estupro.
Se no episódio 1 a violência contra Aemma na cena do parto se destaca, o choque aqui não requer sangue: requer apenas que uma garotinha de 12 anos seja oferecida como esposa para um homem que tem uma filha bem mais velha que a garota com quem querem que ele se case. A produção não tem medo de ser adulta e provocar ao apresentar essa crítica, sem precisar falar sobre ela de modo expositivo ou se deleitar com a violência contra as mulheres.
No fim, como Corlys Velaryon adverte Viserys, é possível passar por uma tempestade ou contorná-la, mas não dá para esperar ela chegar. No entanto, é exatamente isso que o público terá que fazer: aguardar ansiosamente pelo resultado de todos os acontecimentos do segundo episódio, que dão um gostinho delicioso da tempestade arrasadora que vem por aí agora que certas peças começam a se posicionar para o confronto central da narrativa.
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