[Opinião] Afinal, para onde a Fase 4 do Universo Cinematográfico da Marvel está indo?
[Opinião] Afinal, para onde a Fase 4 do Universo Cinematográfico da Marvel está indo?
Após um épico crossover, a Marvel Studios precisa preparar seus próximos grandes eventos… mas será que está funcionando?
Desde 2008, o Universo Cinematográfico da Marvel fez algo que se considerava impossível: levantar o interesse em personagens dos quadrinhos através de uma franquia multimídia compartilhada, com todos os filmes seguindo um modelo episódio não muito distante das séries de televisão, com cada “episódio” deixando ganchos para o próximo.
Isso começou lá com o primeiro Homem de Ferro, mas se estendeu por mais de uma década – e o resultado foi a culminação que chegou com Vingadores: Guerra Infinita e sua sequência, Ultimato. No entanto, após essas empreitadas gigantescas, a Marvel Studios percebeu que precisava dar uma desacelerada, e o resultado disso nós estamos vendo na Fase 4.
Iniciada no ano passado, com WandaVision e o filme solo da Viúva Negra, a nova “fase” do MCU está sendo um grande alvo de críticas por parte dos fãs, já que boa parte dos projetos não parece ter uma direção clara e ninguém sabe ainda qual será o grande evento que virá no futuro. Mas será que há algo errado ou as expectativas dos fãs estão fora da realidade? Aqui, iremos discutir sobre o que a Marvel tem construído e o que ainda podemos esperar!
Uma fase de transição?
Não há como negar, a Saga do Infinito foi uma das maiores e mais grandiosas construções cinematográficas que vimos nos últimos anos. Ao todo, mais de vinte filmes interconectados unidos em prol de um grande espetáculo que nos atingiu em cheio em Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato. De lá para cá, o cenário do cinema mudou e ficamos cada vez mais famintos por algo que seja tão grandiloquente e poderoso.
Porém, para a Marvel, a Fase 4 é delicada por precisar fechar algumas pontas soltas. Nesse universo, não há mais o Homem de Ferro, a Viúva Negra e o Capitão América – ao menos, não os que conhecemos. Porém, muitos dos heróis que já haviam sido apresentados anteriormente careciam de um desenvolvimento melhor e mais profundo, e foi assim que começamos essa nova leva de lançamentos.
No campo das séries, WandaVision, Falcão e o Soldado Invernal, Loki e Gavião Arqueiro são justamente uma forma de trabalhar em cima de personagens que sempre ficaram à sombra dos “protagonistas”. Por isso, é mais do que compreensível que figuras como a Feiticeira Escarlate tenham passado por mudanças bruscas em pouco tempo – é uma forma de dizer “esses personagens agora são importantes e precisam ser desenvolvidos”.
Nos cinemas, isso veio de forma póstuma em Viúva Negra, uma vez que Natasha nunca teve um filme solo antes de sua morte em Ultimato. Porém, é curioso notar como, tanto em Viúva quanto em Gavião, há uma preocupação para inserir uma “nova geração de heróis”, algo representado tanto em Yelena Belova quanto em Kate Bishop.
Novos começos
Não dá para se viver de Vingadores para sempre, e a Marvel sabe da necessidade de sempre oferecer conteúdo e personagens novos para o público. Nesse sentido, a Fase 4 chegou com três projetos – dois no cinema, um na rede de streaming – para introduzir figuras obscuras dos quadrinhos que podem ter participação importante no futuro da franquia.
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis foi, sem dúvidas, o mais bem-sucedido desses projetos, tendo arrecadado mais de US$ 430 milhões nas bilheterias – um feito impressionante, levando em conta que o filme foi lançado na época em que a pandemia estava começando a afrouxar e o público estava indo aos poucos para as salas de cinema. Como obra cinematográfica, ele tenta replicar o sucesso de Pantera Negra, dessa vez mirando no público asiático.
Claro, o filme nem sequer chegou a estrear na China, mas oferece o bastante para que os fãs considerem todas as possibilidades de uso do herói no futuro. O mesmo, no entanto, não pode ser dito de Eternos. O primeiro filme da Marvel Studios com nota negativa no Rotten Tomatoes, é um projeto ambicioso e criativo, que traz à tona uma raça de super-seres deveras desconhecidos das HQs.
Por mais que eu tenha gostado de Eternos, sei que esse não é o consenso do público. E as coisas ficam mais densas quando pensamos que todo seu terceiro ato grandiloquente, que envolve o despertar de um Celestial na Terra, nem mesmo é citado nos outros filmes. É uma pena, pois é uma franquia que tem muito potencial e futuro, mas resta esperar para saber se a Marvel de fato dará continuidade a esse projeto.
No Disney+, recentemente tivemos a estreia de Cavaleiro da Lua, que traz alguns dos “problemas” de Eternos de uma forma ainda mais gritante. A série parece totalmente desconectada do Universo Cinematográfico da Marvel e é até difícil teorizar quando o personagem vai dar as caras novamente.
A saga do Multiverso
Porém, uma coisa que ficou muito clara nessa Fase 4 é que a Marvel está disposta a trabalhar em cima de núcleos bem específicos – e talvez essa seja a origem das reclamações dos fãs. Muitos se lembram nostalgicamente da Fase 1 desse universo, que começou apresentando Homem de Ferro, Thor, Capitão América e Hulk para, só depois, inseri-los em um grande crossover que foi Os Vingadores.
O que temos na Fase 4 é razoavelmente diferente. Em vez de várias histórias colidindo em um único projeto maior, a Marvel Studios começou a desenvolver projetos que fazem parte de “universos” particulares e que vão seguir, em sua grande maioria, rumos muito diferentes. Por exemplo, Falcão e o Soldado Invernal está muito mais preocupado em introduzir o novo Capitão América que, de fato, explorar a próxima grande ameaça que está por vir.
Eternos, Shang-Chi, Cavaleiro da Lua, Gavião Arqueiro, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa e até mesmo Viúva Negra também seguem esse princípio, com tramas próprias que não estão se encaminhando – até agora, óbvio – para o épico crossover que muitos esperavam já no fim dessa fase. E não é para menos, já que é a primeira das fases que não possui um filme dos Vingadores em seu clímax.
Porém, aos poucos, vemos uma narrativa sendo construída – e muito provavelmente, seus frutos só serão colhidos na Fase 5 ou 6, daqui a alguns anos. A Saga do Multiverso, como muitos fãs apontam, está entrelaçando diversas produções e está apenas mostrando suas primeiras cartas, seja através de Loki, What If…? ou Doutor Estranho no Multiverso da Loucura.
Okay, agora sabemos que existem mais realidades por aí e os heróis podem “transitar” entre elas – mas como isso será abordado, ainda é um mistério. A grande expectativa é que tudo culmine em uma adaptação das Guerras Secretas de 2015, mas ainda é muito cedo para dizer se isso realmente vai acontecer. De qualquer modo, Kang também está despontando como o possível “grande vilão” por trás disso tudo.
Maior, mais explosivo, mais grandioso
Quando analisamos friamente a cultura pop e, mais precisamente, o consumo dela pelo público, notamos mudanças significativas no comportamento dos fãs. Se, há alguns anos, prezava-se por histórias contidas e com uma bagagem atrelada aos quadrinhos, hoje todos querem que um Vingadores: Ultimato estreie três vezes por ano. Ninguém está mais disposto a ver aventuras “pequenas”, e a Marvel está perigosamente se inclinando a essa vontade.
Agora, com a brecha do Multiverso aberta, temos uma possibilidade ainda mais gritante, que são os retornos e várias participações especiais de atores e personagens de franquias que antecedem o MCU. Ou seja, lembra daquela versão terrível do Demolidor vivida pelo Ben Affleck? As pessoas colocaram na cabeça que querem vê-lo aqui de novo. O Motoqueiro Fantasma do Nicolas Cage? O Quarteto Fantástico de 2005? Podem colocá-los no pacote!
Isso se torna perigoso porque é a carta branca para a decepção do fandom. Basta analisar a recepção de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, que trouxe de volta Tobey Maguire e Andrew Garfield (além de diversos vilões de suas franquias) e foi ovacionado pelo público – ainda que deixe muito a desejar como filme em si. Porém, analise a reação tida com Doutor Estranho no Multiverso da Loucura e o problema se torna ainda maior.
Não é que fazer fanservice seja errado ou proibido, mas o público está cada vez mais acostumado em ter todas as suas vontades realizadas. Quando isso não acontece – vide os Illuminati e seu destino trágico no filme – e aí nós temos um sentimento de derrota, quando na verdade, precisamos entender que participações especiais e easter-eggs deviam ser apenas uma sobremesa, e não o prato principal.
Porém, o futuro parece ainda mais sombrio nesse quesito. Thor: Amor e Trovão está chegando em breve, e logo mais teremos filmes como The Marvels e até Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, todos produzidos como “grandes eventos” no nível de Ultimato. Não há mais espaço para aventuras simples, contidas e que evoluem seus personagens – ao menos, não em um mundo onde todos querem mais e mais grandiloquência e megalomania.
Ainda não acabou!
Nesse sentido, a Fase 4 muda os ares do Universo Cinematográfico da Marvel de uma forma diferente do que nós estávamos acostumados pelos últimos dez anos. Não quer dizer que é melhor ou pior do que o que veio antes, apenas é… diferente. Percebe-se nitidamente a necessidade de separar ainda mais esses personagens e focar em núcleos que possam se estender em seus próprios eventos e crossovers.
Claro, ainda não acabou e, se seguirmos os rumores recentes, ainda temos mais duas produções para fechar essa nova leva de lançamentos. No mês que vem, teremos Ms. Marvel, que promete ser uma celebração dos fãs, já que sua protagonista é uma aficionada por super-heróis que, um dia, acaba conquistando seus próprios poderes. E como já está bem claro, a série também deixará ganchos para The Marvels, onde Kamala já foi confirmada.
Quanto a Thor: Amor e Trovão, que chega aos cinemas em julho, temos outro “evento grandioso” preparado a caminho. Claro, os trailers são empolgantes e prometem trazer um dos vilões mais tenebrosos dos quadrinhos – mas ainda fica um gostinho de que a Marvel está tentando criar grandes crossovers para não perder a atenção de seu público, vide a presença dos Guardiões da Galáxia no filme.
Tudo isso para dizer: ainda é muito cedo para imaginar o que vai acontecer no futuro do MCU. Por ora, a Fase 4 parece muito mais uma “fase de transição” para o que está por vir, em vez de oferecer seus próprios clímaces e finalizar arcos já construídos. Talvez, a saída para a decepção seja abolir de vez o conceito de “fase” na franquia, ainda mais agora que ficou claro que os núcleos – galáctico, místico, urbano – são muito mais importantes.
O próximo lançamento do MCU é Ms. Marvel, que estreia no dia 8 de junho no Disney+.
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