Massacre da Serra Elétrica, Pânico ou Halloween: Qual teve o melhor filme revival?
Massacre da Serra Elétrica, Pânico ou Halloween: Qual teve o melhor filme revival?
Trilogias clássicas do terror retornaram, mas de formas bastante diferentes – e até contraditórias
Hollywood vive na era da nostalgia, constantemente cutucando seus clássicos na esperança de encontrar uma franquia para resgatar, lustrar e continuar como algo novo. No gênero do horror, o maior representante da tendência é Halloween, que voltou em peso em 2018 na forma da sequência-legado. De lá para cá, outras séries icônicas do horror seguiram o exemplo, e só em 2022 já tivemos a retoma de Pânico e de O Massacre da Serra Elétrica.
Com três exemplos tão grandes assim, é natural que exista um pouco de comparação. É bastante válido se perguntar: qual franquia teve o melhor revival? A resposta, porém, é um pouco complexa, já que Halloween, Pânico e O Massacre da Serra Elétrica representam três abordagens distintas ao conceito de sequência-legado e nostalgia.
Halloween: o pioneiro (que joga seguro)
Trauma é um dos elementos mais explorados dentro do horror, mas só uma franquia com mais de 40 anos de história realmente poderia abordar dignamente o conceito de trauma geracional. Halloween de 2018 apagou toda a continuidade da saga, para manter o foco em suas figuras centrais: o assassino Michael Myers, e a sobrevivente Laurie Strode (Jamie Lee Curtis).
O longa retrata Strode como alguém cuja vida foi moldada pelos horrores que viveu na fatídica noite de Halloween em 1978, e que passou as quatro décadas seguintes se preparando para enfrentar O Vulto caso ele retornasse – o que realmente acontece.
O filme funciona pela por sua execução perfeita, que acerta na tensão, trilha sonora, na grandeza de Jamie Lee Curtis, e pela ameaça violenta da volta de Michael Myers, mas dificilmente sua abordagem é ousada ou original até para 2018. Naquela época, franquias como Tron, Star Wars e Jurassic World já haviam ensinado o caminho das pedras: traga personagens clássicos de volta como mentores para uma nova geração que vai vivenciar os mesmos acontecimentos que eles.
O longa refaz muitos momentos memoráveis da obra-prima de John Carpenter, com pequenas modificações e mudanças de perspectiva. Dessa forma, há uma mistura de nostalgia e novidade para os fãs experientes, que podem usar a novidade para introduzir a franquia do coração para os novatos. É uma experiência moderna com a alma do clássico.
Halloween também é o único entre os três que ganhou continuação até o momento, e Halloween Kills (2021) já prova como as sequências-legado vivem do equilíbrio entre nostalgia e novidade. A sequência tem sim muitos problemas, mas constrói algo verdadeiramente original ao invés de viver na sombra da obra de 1978, como faz o antecessor. O resultado não satisfez, com o capítulo do meio da trilogia recebendo críticas mornas (mas ainda brilhando na bilheteria).
Pânico: faça o que eu digo, não faça o que eu faço
Os slashers, filmes de maníacos assassinos, brilharam nas décadas de 70 e 80 – ao ponto da saturação. Quem deu sobrevida ao subgênero nos anos 90 foi Wes Craven, criador de A Hora do Pesadelo, que se aliou com o roteirista Kevin Williamson (Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado) para criar uma obra bastante ácida sobre todos os clichês do terror. Pânico nasceu em 1996 e se tornou um dos maiores sucessos do subgênero que zoa.
Em 2022, mais de uma década após o quarto e último filme, o longa ganhou vida nova em uma sequência-legado que, pela primeira vez na franquia, foi dirigida e escrita por gente além de Craven e Williamson. O quinto capítulo, confusamente batizado apenas de Pânico, tinha muita pressão desde o início, mas parece ter tirado a tarefa de letra ao entender o espírito da saga com um filme igualmente divertido e sangrento.
Diferente de Halloween, a volta de Pânico reconhece todos os eventos anteriores, e mostra uma nova onda de assassinatos na cidade de Woodsboro quando uma garota chamada Tara Carpenter (Jenna Ortega) é atacada por um maníaco vestindo a máscara do Ghostface. Sua irmã mais velha, Sam Carpenter (Melissa Barrera), se vê desesperada ao ponto de pedir ajuda para os únicos que sabem como lidar a situação: os sobreviventes Sidney Prescott (Neve Campbell), Dewey Riley (David Arquette) e Gale Weathers (Courteney Cox).
Mantendo o bom humor da franquia, o filme é recheado de metalinguagem, incluindo um grande monólogo sobre como Hollywood só começou a fazer sequências-legado porque os fãs são chorões demais para aceitar algo realmente novo. Essa postura anti-fã é o cerne do novo longa, que coloca os assassinos como o típico comentarista de internet que reclama sobre infâncias destruídas e o suposto descaso dos estúdios com o público.
É uma abordagem divertida, mas cuja ousadia – de realmente enfiar o dedo na ferida – é ofuscada pelo fato de que o longa é conduzido de forma tão segura quanto o que critica. Assim como Halloween, é executado com perfeição, mas a hipocrisia pode incomodar.
Mensagem e ação são coisas diferentes, e Pânico faz tudo que fala contra. Ainda que o filme tenha sido muito bem recebido na crítica e na bilheteria, muitos apontaram que muito de sua premissa é altamente derivativa, seja pelos personagens com conexões ao nomes antigos ou pelos momentos finais, que reencenam a conclusão da trama original no mesmo cenário que o clássico.
O Massacre da Serra Elétrica: um cuspe na cara da nostalgia
O mais recente caso de retomada foi O Massacre da Serra Elétrica. O filme original de Tobe Hooper chocou o mundo em 1974, e foi o pontapé definitivo para a febre do slasher, mas desde então foi bastante explorada por Hollywood, tendo ganhado continuações, remakes, prequels, reboots e até mesmo prequels e continuações para os remakes e reboots.
O novo filme, que lá fora se chama apenas O Massacre da Serra Elétrica mas que ganhou o subtítulo de O Retorno de Leatherface no Brasil, se propõe a seguir a fórmula de Halloween.
A ideia é descartar todos os eventos das continuações (e dos prequels), e levar em conta apenas os eventos do clássico. A trama acompanha um grupo de jovens descolados que querem modernizar uma cidade no interior do Texas, mas que acabam descobrindo que Leatherface se esconde por lá. Ao mesmo tempo, Sally Hardesty – a única sobrevivente do maníaco canibal – se tornou uma patrulheira na região, se preparando para enfrentar seu inimigo mais uma vez.
Quando o primeiro trailer foi divulgado, a reação do público deixou claro: ninguém aguenta mais outra sequência-legado com uma protagonista vingativa. Já quando o filme estreou o público se surpreendeu ao descobrir que O Retorno de Leatherface nunca teve a intenção de ser como Halloween – na verdade, seu propósito é justamente nadar contra essa fórmula nostálgica.
O novo Massacre da Serra Elétrica não se importa com nostalgia. Nenhum dos novos personagens é ligado aos eventos ou rostos clássicos. Na verdade, a nova onda de assassinatos acontece quase que por acidente, resgatando apenas a essência do original de uma situação horrenda de violência gratuita, do medo de ser a pessoa errada no local errado. O filme todo é marcado por um humor sombrio e ácido, que apenas exalta a crueldade pela qual a franquia sempre foi conhecida.
Mas o maior ato de provocação que irritou justamente acontece com Sally Hardesty. Assim como Laurie Strode, a sobrevivente passou por um arco a lá Sarah Connor e se tornou uma badass, pronta para enfrentar aquele que lhe traumatizou para sempre e que tirou a vida de seus amigos e família. Ao enfim confrontar Leatherface, há uma grande descoberta: o maníaco sequer sabe quem é a sobrevivente, e não nutre nenhum tipo de sentimento por ela. A motivação do canibal para caçar Sally e seus amigos nunca foi nada especial. Apenas maldade pura.
O Retorno de Leatherface até toca em pontos do original, em especial nos momentos finais, mas reutiliza trechos memoráveis para dar novos sentidos. A conclusão, por exemplo, com a icônica cena de fuga no carro enquanto o canibal dança com sua serra, aqui é usada para despertar pânico da brutalidade ao invés da catarse da sobrevivência.
De todos os três, esse é o filme que teve uma recepção mais divisiva. Talvez não seja o melhor, e muito pode ser discutido sobre seu roteiro, ritmo e atuações, mas O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface com certeza é a sequência-legado mais ousada dentre as demais. É um longa bastante honesto, mas cuja execução pode deixar a desejar.
O veredito
Se for avaliar de forma bastante objetiva, Halloween (2018) é quem se sai melhor, com a maior média crítica tanto no Rotten Tomatoes (79%) quanto no Metacritic (67/100). Mas mesmo assim essa liderança é tomada por apenas alguns pontos, e a recepção de todos os três foi mais ou menos parecida em termos de avaliações e bilheteria (com exceção de Massacre da Serra Elétrica, que foi lançado direto no streaming).
Mas honestamente não é justo escolher um como ‘melhor’ pois os três trazem abordagens bastante distintas à uma sequencia-legado: uma honesta, uma ácida e uma antagônica. Portanto, os filmes servem questionam o espectador da sua própria relação com essas franquias, com o estado atual de Hollywood, e com nostalgia. Em todos os casos, há algo de valor em todos os filmes.
Qual é o seu ranking pessoal entre Halloween (2018), Pânico (2022) e O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface? Deixe nos comentários abaixo – mas sem esquecer os bons modos, né?
Aproveite e confira também: