Massacre da Serra Elétrica: Entenda a bizarra cronologia da franquia de terror
Massacre da Serra Elétrica: Entenda a bizarra cronologia da franquia de terror
Em quase 50 anos, Leatherface já protagonizou sequências, remakes, reboots e mais
O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface estreou na Netflix prometendo trazer o maníaco canibal de volta em um filme que segue a cartilha de Halloween. Isso significa ignorar décadas e décadas de continuações, para dar sequência apenas ao clássico atemporal de Tobe Hooper, que chocou o público e mudou para sempre o gênero em 1974.
Acontece que essa não é a primeira vez que a franquia recebe esse tratamento. Na verdade, dos anos 70 até aqui, Leatherface já protagonizou sequências, reboots, remakes, sequências para os remakes, prequels para os reboots e todo tipo de tendência que Hollywood gosta de tentar para extrair o máximo de grana de uma marca.
Com a chegada do novo filme, vale tirar um momento para apreciar a bizarra história de O Massacre da Serra Elétrica nos cinemas!
A cronologia clássica
Em 1974, Tobe Hooper mostrou um visão crua, sádica e brutal do terror ao mostrar uma viagem entre amigos que se torna um pesadelo quando os jovens são perseguidos por uma família de canibais no interior do Texas. Todo mundo conhece o legado de O Massacre da Serra Elétrica: o filme ajudou a impulsionar uma violenta virada para o horror, e inspirou o popular subgênero do slasher. Esses filmes de maníacos assassinos têm a reputação de perderem a essência nas continuações, que ficam cada vez mais absurdas e apelativas. O mesmo até pode ser dito aqui, mas a franquia tem um diferencial: a mudança de tom foi feita pelo próprio criador, ao invés de ser fruto de outros diretores amadores e de produtores gananciosos.
O Massacre da Serra Elétrica II foi lançado mais de uma década depois do original, em 1986, e é um verdadeiro surto. O longa, dirigido e coroteirizado por Hooper, abraça a galhofa oitentista com momentos de humor pastelão e uma aura de estranheza de fazer inveja para David Lynch.
Produzido pela Cannon Films, a produtor mais proeminente das porcarias oitentistas, a continuação tem Leatherface se apaixonando por uma apresentadora de rádio, um torneio de chilli com carne humana, Dennis Hooper entregando uma atuação digna de Nicolas Cage (é um elogio), e também uma grande briga de motosserras. Hooper queria mesmo descaracterizar o original, mas a paródia não caiu no gosto de muita gente. Mas honestamente quem espera seriedade de um filme cuja capa são os canibais da Família Sawyer refazendo o pôster de O Clube dos Cinco?
Infelizmente, esse momento de surto durou pouco. Em 1990, o diretor Jeff Burr assumiu a direção da franquia, e O Massacre da Serra Elétrica 3 resultou em uma obra muito mais convencional para os padrões do gênero. Na trama, um casal viaja de carro para a Califórnia, mas acaba cruzando o caminho dos canibais texanos. É um filme bastante morno, sem a brutalidade do primeiro e nem a deliciosa estranheza do segundo, mas que vale por ter Ken Foree (Madrugada dos Mortos, Kenan & Kel) como um sobrevivencialista badass, e Viggo Mortensen (O Senhor dos Anéis) como um dos caipiras loucos.
A quadrilogia – e a cronologia – original chega ao fim em uma estranha combinação dos dois primeiros filmes. O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno (1994) marca a volta de Kim Henkel, roteirista do longa original, em seu único trabalho como diretor. O resultado é algo que consegue ser tão sujo e sádico quanto o clássico, ao mesmo tempo em que atinge um patamar de bizarrice inimaginável.
É um filme que sugere que a família de canibais – que não se chama Sawyer – é um grupo de alienígenas canibais, além de ter um Leatherface de drag que grita constantemente. Ah, e a trama é protagonizada por Renée Zellweger (O Diário de Bridget Jones), com um antagonista vivido por Matthew McConaughey (True Detective).
Por mais que a sabedoria popular seja ignorar as continuações de filmes de terror, geralmente são os capítulos mais estranhos que mostram mais personalidade. Com Massacre da Serra Elétrica não é diferente, e todos os quatro filmes originais valem a pena – por motivos ridiculamente diferentes.
Os remakes
Salvo pela década de hiato entre o original e a primeira continuação, Massacre da Serra Elétrica nunca ficou muito tempo sem um novo filme, e sempre ajudou a lançar ou popularizar tendências no gênero. Em 2003, os direitos da série caíram nas mãos de Michael Bay – sim, o de Transformers -, através da sua produtora Platinum Dunes. Uma notícia dessas assustaria muita gente hoje em dia, mas naquela época o produtor teve a visão de que a saga podia voltar a relevância com um capítulo mais sério, sombrio e sangrento, combinando com as sensibilidades cada vez mais exageradas do público da época.
O remake de O Massacre da Serra Elétrica foi comandado pelo alemão Marcus Nispel, um proeminente diretor de videoclipes, e reconta toda a trama do clássico de 1974 com novos personagens e uma produção de orçamento maior. Ainda que o sadismo da obra de Tobe Hooper tenha aterrorizado gerações, o diretor criou pesadelos sem precisar mostrar a matança em detalhes.
Já a nova versão apela sem medo para a violência gráfica e faz jus ao título. O público da época amou, e a partir disso se deu início à tendência de remakes de clássicos que dominou a primeira década dos anos 2000, com modernizações de A Casa de Cera (2005), Viagem Maldita (2006), Halloween (2007), Sexta-Feira 13 (2009), Doce Vingança (2010), A Hora do Pesadelo (2010), entre muitos outros.
Michael Bay conseguiu reviver a franquia com uma nova e sangrenta versão, que foi bem aceita pelo público e crítica. Isso significa produzir uma continuação, certo? Não exatamente. Ao invés de uma sequência, o remake ganhou um prequel em 2006, aptamente batizado de O Massacre da Serra Elétrica: O Início (2006). O filme, que foi comandado pelo sul africano Jonathan Liebesman (As Tartarugas Ninja), manteve o mesmo nível de violência do antecessor (ou sucessor?), mas apresenta uma história de origem para a família Hewitt, os canibais do remake.
Por mais que o filme tenha tido bom desempenho financeiro, a crítica já não ficou tão convencida quanto a ideia de um prequel de um remake, e o filme foi massacrado nas avaliações. Esse poderia ser o fim de O Massacre da Serra Elétrica, com quatro clássicos, uma reinterpretação e um prólogo da nova versão, mas as coisas só ficaram progressivamente mais estranhas a partir daí.
A primeira reinterpretação
Depois da curta vida dos remakes, a franquia decidiu seguir os passos de Halloween e passar a limpo a bagunça que as sequências fizeram na continuidade clássica. Na verdade, prevendo até mesmo a tendência de “continuações-legado” que atormenta o cinema hoje em dia, o filme até mesmo resgatou atores da obra original, com o retorno de Gunnar Hansen (o primeiro Leatherface) e Marilyn Burns (a sobrevivente Sally) de volta para seus respectivos papéis finais antes de falecerem. Infelizmente, o filme é um dos piores de toda a franquia.
O Massacre da Serra Elétrica 3D: A Lenda Continua saiu em 2013 – 39 anos após o original – e acompanha uma descendente da família Sawyer voltando ao local do crime, após misteriosamente herdar uma casa no Texas. O longa é protagonizado por Alexandra Daddario (Percy Jackson), e foi um fracasso gigantesco de bilheteria e de crítica, apesar de ter um pequeno grupo de fãs que apreciam o sadismo e breguice do longa.
Esse não foi o prego no caixão da franquia. Se um reboot, depois de sete filmes ao longo de quatro décadas, ainda não fosse o bastante, o último capítulo dessa bagunçada franquia aconteceu recentemente, em 2017 – e foi um prequel para o original de 1974.
Chamado apenas de Leatherface (ou Massacre no Texas no Brasil), o filme mostra a origem do lendário maníaco canibal ao mostrar um grupo de jovens que raptam uma enfermeira e parte em uma série de assassinatos e crimes. A ideia é não só se conectar com o clássico, mas também com a sequência de 2013.
Há algumas boas surpresas, mas o longa também apanhou bastante nas críticas por ser derivativo demais para ter qualquer tipo de valor, além de ter feito pouco mais de US$1,5 milhão na bilheteria.
A segunda – e atual – reinterpretação
Novamente seguindo os passos de Halloween, que emplacou uma segunda reinterpretação de sucesso nos cinemas em 2008, O Massacre da Serra Elétrica passou a borracha de novo na própria continuidade, e passou a ignorar tudo que veio depois (ou antes, no caso dos vários prequels) da obra de 1974.
Assim, 48 anos depois do início da franquia, O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface chega à Netflix em fevereiro de 2022, trazendo a versão original do assassino e da sobrevivente Sally para se enfrentarem mais uma vez quando um grupo de jovens acaba perturbando Leatherface em sua cidade abandonada no Texas.
O filme já está disponível no catálogo do streaming. Para entendê-lo, basta apenas assistir ao original, de 1974. Mas acredite: o legado de O Massacre da Serra Elétrica vive em sua despretensão com continuidade ou mitologia. Não importa o talento dos cineastas, a presença de atores clássicos ou a quantidade de sangue derramado. Em algum lugar do Texas, sempre haverá um maníaco canibal para te perseguir com uma motosserra em mãos.
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