Liga da Justiça de Zack Snyder: Apoio ao filme nas redes sociais foi alimentado por bots, revela relatório
Liga da Justiça de Zack Snyder: Apoio ao filme nas redes sociais foi alimentado por bots, revela relatório
Jornalista investiga relatórios de empresas de segurança digital encomendados pela Warner, e descobre movimentações suspeitas na campanha dos fãs – com ligação direta ao diretor
Um dos maiores fenômenos da cultura pop nos últimos anos foi, sem dúvidas, o movimento em prol do Snyder Cut, a versão do diretor de Liga da Justiça (2017) que Zack Snyder não tinha conseguido terminar antes de deixar o projeto por motivos pessoais. Esse sonho foi realizado no catálogo da HBO Max, mas só depois de uma longa e barulhenta campanha de fãs – e parece que uma fatia considerável desse movimento eram bots.
A jornalista Tatiana Siegel, em extensa matéria para a Rolling Stone, teve acesso à relatórios que a WarnerMedia solicitou para três firmas externas de segurança digital. As empresas descobriram que cerca de 13% dos usuários que tuitavam na hashtag principal – #ReleaseTheSnyderCut – eram perfis falsos e automatizados. Segundo especialistas e dados do próprio Twitter, uma porcentagem comum é na casa de 3% e 5% de bots em qualquer assunto de destaque.
O artigo da jornalista, que conta com dados do relatório, relatos de fontes anônimas e também respostas do próprio cineasta, pinta a imagem de que o próprio Zack Snyder que ajudou a amplificar artificialmente esse movimento ao supostamente contratar agências de publicidade, que prometiam trazer alcance e buzz orgânico. Essa relação, segundo a matéria, começou quando Batman vs. Superman (2016), se tornou um fracasso de crítica, e se intensificou quando o diretor percebeu que sua ambiciosa versão de Liga da Justiça não estava sendo bem recebida internamente.
Essa relação com a agência de publicidade se torna um pouco mais óbvia quando se lembra de certos momentos da campanha dos fãs, como quando foi alugado um telão na Times Square (cujo aluguel fica na casa dos US$50 mil/dia), ou então quando um banner com a tag #ReleaseTheSnyderCut sobrevoou a San Diego Comic-Con. Segundo fontes ouvidas pela matéria original, é curioso que ninguém questionou quem estava pagando a conta desses atos custosos: “Quando rolou uma arrecadação comunitária? Por que nunca vimos sequer uma página de Kickstarter pelos fãs?”, indagou um dos insiders.
As análises das firmas de segurança digital traçam não só um padrão artificial por trás do hype do Snyder Cut, como um grande volume de contas criadas no mesmo período, de países remotos e com mensagens muito similares, mas também uma queda gigantesca no interesse na tag #ReleaseTheSnyderCut em questão de apenas um dia após o lançamento de Liga da Justiça de Zack Snyder na HBO Max.
Os especialistas afirmam que, em assuntos orgânicos, a redução no interesse é mais cadenciada. Um exemplo citado é o de Fiona Zheng, uma das principais personalidades por trás do movimento que tuitou intensamente entre 2016 e 2021, liderando o movimento. Do lançamento até aqui, o perfil apenas fez outros dois tuítes em pouco mais de um ano.
O movimento pró-Snyder Cut já pintado como um dos exemplos mais tóxicos de fandom da internet, por conta das inúmeras ameaças de morte que disparou para executivos da Warner Bros.. Um exemplo citado na matéria é uma conta que fez artes em que o produtor Geoff Johns, o presidente da DC Films Walter Hamada, e o executivo Toby Emmerich apareciam decapitados – e várias contas marcavam os perfis dos filhos desses executivos nas postagens. Segundo a matéria da Rolling Stone, o movimento era orquestrado por Snyder como forma de atacar e desmoralizar qualquer executivo que entrasse no caminho de sua versão do filme.
A imagem que a matéria pinta é bastante sombria, já que traz até as várias acusações de Ray Fisher como ferramentas para essa campanha, alegando até uma parceria entre o ator (que, antes de Liga da Justiça, era desconhecido) e Zack Snyder. Relatos citados no texto apontam uma estranha coincidência nos alvos do ator com os executivos que contestavam o movimento em prol do Snyder Cut. Diferente do diretor, o ator do Ciborgue se recusou a responder às perguntas da Rolling Stone.
A matéria original toca ainda em muitos outros pontos, como Zack Snyder ter contornado proibições para inserir o Caçador de Marte no Snyder Cut mesmo quando a Warner já tinha planos para o personagem, ou então de ter gravado extensas cenas adicionais para o projeto em seu quintal, ignorando medidas de segurança contra Covid-19 e também furando o acordo de que a obra seria apenas uma nova versão editada do material que ele tinha rodado em 2016.
Além disso, o artigo menciona outros cineastas que foram atacados apenas por proximidade, como Adam Wingard, cujo Godzilla vs. Kong (2021) foi lançado na HBO Max apenas duas semanas após o Snyder Cut e teve audiência muito melhor, o que os fãs acreditaram ser uma afronta, já que o filme dos monstros supostamente roubou a atenção da nova versão de Liga da Justiça.
Zack Snyder marca grande presença no artigo, e aparece se defendendo de cada uma das alegações feitas pela jornalista. O cineasta nega qualquer tipo de perigosa desavença com executivos da Warner Bros., ainda que assume ter feito campanha para tirar o nome dos produtores Geoff Johns e Jon Berg dos créditos. Ele também negou a relação do seu fandom com bots ou agências de publicidade, e afirmou não ter controle das opiniões e atitudes de seus seguidores.
Atualmente, há um movimento para restaurar o SnyderVerso, mas é improvável que aconteça visto que os filmes sem maiores conexões, como Coringa (2019) e Batman (2022), se provaram sucessos absurdos de crítica, público e bilheteria. Além disso, Zack Snyder hoje tem parceria com a Netflix, onde realizou o terror Invasão em Las Vegas: Army of the Dead (2021), e prepara o épico de ficção científica Rebel Moon.
Seja como for, Zack Snyder e seus fãs conseguiram o que queriam, e Liga da Justiça de Zack Snyder segue disponível no catálogo da HBO Max, com quatro horas de duração.
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