Stanley Kubrick encenou a viagem do homem à lua? Entenda a teoria da conspiração por trás da história
Stanley Kubrick encenou a viagem do homem à lua? Entenda a teoria da conspiração por trás da história
Diretor de 2001: Uma Odisseia no Espaço é figura central em uma das mais famosas conspirações
Vamos ser honestos: todo mundo acredita em alguma teoria da conspiração. Entre todas as incertezas da vida moderna, da política global ou mesmo da natureza do nosso universo, às vezes as respostas mais fáceis e emocionantes soam mais convincentes do que a ciência e a lógica. O melhor exemplo pode ser visto na teoria ligada ao pouso na lua.
Quando a dupla de astronautas Buzz Aldrin e Neil Armstrong caminhou pela superfície lunar em 20 de julho de 1969, o evento foi transmitido na televisão para a euforia geral, um verdadeiro marco da humanidade. Nos anos seguintes, porém, tudo foi revisitado com dúvidas e tentativas de explicar algo tão grandioso.
Todo esse ceticismo se tornou a base para uma das teorias conspiratórias mais famosas da história, que envolve uma missão de fachada, férias em Las Vegas e o diretor Stanley Kubrick.
Como surgiu a teoria de que o pouso na lua foi forjado?
Normalmente, teorias da conspiração não têm autores esclarecidos. Claro, há figuras proeminentes que são conhecidas por espalhar desinformação, mas mesmo essas pegam ideias já recorrentes entre os conspiracionistas e apenas as transmitem para um público maior. Não é o caso da conspiração do pouso lunar.
O pai da teoria – e talvez até do movimento conspiracionista que resultou na era das fake news e pós-verdade – foi Bill Kaysing. Ele tinha bastante proximidade com a corrida espacial na década de 60, já que era funcionário da Rocketdyne, empresa que fabricou os motores dos foguetes usados no programa espacial da NASA.
Desde aquela época ele já era cético. Kaysing deixou seu cargo em 1963, mas seguiu acompanhando os desenvolvimentos das missões espaciais de perto, completamente descrente de qualquer avanço. O pouso lunar de 1969 não foi capaz de virar sua opinião, e nem mesmo nenhuma das outras cinco missões de sucesso que também colocaram pessoas para caminhar na lua realizadas até 1972.
Em 1976, Kaysing manifestou toda a sua descrença em forma um livro autopublicado, carinhosamente chamado de We Never Went to the Moon: America’s Thirty Billion Dollar Swindle (ou então Nos Nuncas Fomos para a Lua: O Golpe dos EUA de Trinta Bilhões de Dólares). A obra é a base definitiva para toda a conspiração, popular até hoje.
Como aponta o autor Rich Cohen em matéria para o Paris Review, o livro de Kaysing gira em torno de cinco pontos: no vácuo do espaço, a bandeira norte-americana não deveria tremular; A imagem do pouso lunar tem iluminação inconsistente, com mais de uma fonte de luz; O pouso lunar não deixou nenhuma marca de aterrissagem ou dos propulsores; Não há estrelas no espaço; e, por último, quem montou a câmera que gravou Neil Armstrong andando pela superfície lunar?
De cara, parecem dúvidas sólidas, mas que são respondidas de forma lógica e científica com facilidade. Como ferramenta de manutenção para a teoria, a conspiração fica cada vez mais grandiosa quando encontra “justificativas” para continuar a existir.
É preciso entender algo: os anos 70 foram uma década complicada nos Estados Unidos. O otimismo da década anterior, que via o pouso lunar com o início de uma nova era na humanidade, rapidamente desapareceu no país.
Violência urbana, conflitos raciais, os crimes da família Manson, a controversa Guerra do Vietnã, o escândalo de Watergate. Pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os estadunidenses lentamente percebiam que sua sociedade não era a utopia do Sonho Americano que acreditavam ser.
Logo, um sentimento de descrença ao próximo e ao governo começou a se espalhar rapidamente, e a conspiração apenas reflete isso: o fim da fé no Estado e nas instituições. Para ter uma noção de como esse era o cenário ideal para a disseminação de conspirações, uma pesquisa conduzida pela empresa Gallup, e publicada no jornal Daily Record em abril de 1977, aponta que 28% dos norte-americanos já acreditavam que o pouso lunar havia sido encenado (via Rolling Stone).
Assim, sem aquele olhar de vencer todas as adversidades, alguns olharam para o feito e passaram a se questionar como o país arranjou financiamento para o programa espacial. A resposta mais simples era que não conseguiu, mas que decidiu apostar na propaganda para “vencer” a União Soviética na corrida espacial.
Como Stanley Kubrick se encaixa na teoria da conspiração do pouso lunar?
Em 1968, um ano antes do pouso lunar, o cineasta Stanley Kubrick lançou sua obra-prima da ficção científica: 2001: Uma Odisseia no Espaço. Baseado em uma obra de Arthur C. Clarke, o longa narra como a humanidade foi ao espaço em busca de sua própria origem.
Mesmo após décadas de blockbusters feitos com computadores infinitamente mais potentes do que qualquer coisa disponível nos anos 60, os efeitos visuais do clássico seguem atemporais. A imensidão do espaço, a sensação de baixa gravidade, a tecnologia de ponta. Parecia que Kubrick simplesmente registrou o futuro em forma de filme.
Quando as dúvidas sobre a veracidade do pouso lunar começaram a tomar conta, o cinema foi a resposta óbvia. Afinal, Hollywood era indisputável em termos de criar fantasias no mundo real, e os Estados Unidos – especialmente na época da Guerra Fria – era uma verdadeira máquina de propaganda. Era só questão de tempo até ambos se encontrarem.
Não foi Bill Kaysing que puxou o nome de Stanley Kubrick para a teoria, mas seus argumentos sutilmente indicavam que o pouso lunar havia sido gravado em um estúdio. O nome do cineasta só se tornou a escolha mais lógica para prosseguir com a insanidade. A capacidade do diretor de retratar o espaço em toda a sua glória já estava demonstrada, antes mesmo de acontecer na vida real.
Como uma criatura que não para de evoluir, a conspiração então apontava que, no último momento antes do lançamento, os astronautas foram retirados do foguete da Apollo 11, que foi disparado vazio aos céus. A partir disso, eles foram levados para Nevada, onde encenaram a coisa toda em um estúdio de cinema, com o olhar perfeccionista de Stanley Kubrick guiando cada passo.
Assim como há gente que jura que já viu Elvis Presley andando por aí, ou então Michael Jackson escondido no Brasil após forjar sua morte, não demorou para os boatos começarem a circular. Supostos relatos dizem que Neil Armstrong e Buzz Aldrin foram vistos em hotéis em Las Vegas, curtindo a boa vida com apostas e mulheres, antes de serem levados para o Havaí para encenar a reentrada na Terra.
Já em um lado mais artístico da conspiração, alguns apontam que O Iluminado (1980) é, na verdade, um pedido de socorro de Stanley Kubrick. A teoria diz que o cineasta modificou a obra original de Stephen King para refletir a própria angústia de ter participado da mentira.
Em uma verdadeira aula de semiótica, essa versão coloca o Hotel Overlook para representar os Estados Unidos, com todo tipo de simbolismo relacionado à missão espacial.
O quarto em que todas as desgraças acontecem, que no livro é a suíte 217, no filme se tornou o Quarto 237 – sendo que a lua fica a 237 mil milhas da Terra, aproximadamente. As garotinhas gêmeas? Uma alusão ao programa que antecedeu o projeto Apollo, chamado de Gemini (ou Gêmeos, em tradução livre). Para fechar com chave de ouro, o garotinho Danny Torrance ainda é visto usando um suéter da Apollo 11.
Toda teoria da conspiração é feita de uma junção de coincidências costuradas com desculpas e contextos fajutos. Claro, é possível interpretar O Iluminado por esse viés, simplesmente porque parte da mesma abordagem de criar uma narrativa a partir de “caçar” significados obscuros.
A teoria do falso pouso lunar cresceu, virou piada em filmes como 007: Diamantes São Eternos (1971), inspirou obras como Capricórnio Um (1977) e Moonwalkers – Rumo à Lua (2015), e também ganhou o mundo – até os dias de hoje. Segundo um levantamento do Datafolha de 2019, no aniversário de 50 anos do pouso lunar, um em cada quatro brasileiros (ou 26% dos 2.086 entrevistados) acredita que o evento foi forjado.
No fim das contas, assim como o cinema nos conquista com seus mundos fantásticos, as teorias da conspiração trazem um pouco dessa emoção para a vida real. Como coloca Rich Cohen, há grande proximidade entre o entretenimento e o conspiracionismo:
“Algo disso é real? Claro que não. É como ver rostos nas nuvens. Mas pode soa mais real que a realidade, como se você estivesse vendo algo que sempre esteve escondido. Essa é a emoção das teorias da conspiração, e o motivo delas se tornarem uma obsessão e um estilo de vida. Elas são uma forma mais interessante de consumir a realidade. É uma análise literária que não está direcionada a nenhum texto mas sim ao mundo, que por si só é como um texto. Permite ao leitor entender o seu mundo de uma forma inédita.”
2001: Uma Odisséia no Espaço, com seus efeitos especiais que bagunçaram a cabeça de muita gente, está disponível no catálogo da HBO Max.
Aproveite e confira: