A história real de O Código Da Vinci: O que é fato e o que é falso?
A história real de O Código Da Vinci: O que é fato e o que é falso?
História criada por Dan Brown continua dando o que falar…
Anos se passaram desde que O Código Da Vinci, de Dan Brown, chegou ao mundo. O livro foi publicado em 2003, fazendo sucesso na mesma medida em que causava polêmica. Com o filme, lançado em 2006, o fenômeno se repetiu. O fato é que, até hoje, a história continua extremamente popular com pessoas se perguntando exatamente o que é fato e o que é ficção na história.
Qual é a história de O Código da Vinci?
A trama de O Código Da Vinci é relativamente simples: Após um assassinato no museu do Louvre, Robert Langdon, especialista em simbologia e história, é convocado para auxiliar na investigação. É então que, após encontrar pistas em obras de Leonardo Da Vinci, ele acaba desvendando uma grande conspiração religiosa.
Entre rituais de uma sociedade secreta, uma Ordem Templária, Opus Dai com ritos de autoflagelo e planos de homicídio, e o suposto segredo oculto da Bíblia de que Jesus havia se casado com Maria Madalena — com quem teria filhos biológicos, em uma linhagem que perdura até os dias de hoje — O Código Da Vinci foi taxado de herético, anticatólico e um problema para os religiosos, que fizeram diversas campanhas para que cristãos não dessem atenção para esta obra.
E ainda assim fica a dúvida: afinal, há alguma verdade no livro?
O que é fato e o que é falso em O Código da Vinci?
Jesus Cristo era casado com Maria Madalena?
O principal ponto do livro é que, supostamente, haveria uma conspiração secreta que tentaria extirpar todos aqueles que conhecessem o segredo: Jesus se casou com Maria Madalena e teve um filho com ela. É através desta ideia que todos os eventos do livro — e do filme — se desenrolam.
Em uma entrevista para a ABC News, o estudioso Darrell Bock, autor de Quebrando o Código Da Vinci, afirma que não é bem assim:
“Não há um único texto, em lugar algum, que eu tenha conhecimento, que afirme que Jesus foi casado com alguém. Isso não está explícito em nenhum texto,” explica. “O máximo que você pode encontrar é como uma menção em dois textos, ambos de evangelhos apócrifos [textos considerados ilegítimos pelo Cristianismo], o de Felipe e o de Maria Madalena, textos do século II e III, e tudo que eles afirmam é que Jesus amou essa mulher mais do que ele amou os 12 [apóstolos].”
Bock também afirma que faltam evidências para a sugestão de que Jesus seria o pai biológico de alguma criança.
“Mais uma vez, não há evidência disso,” disse. “Em nenhum lugar, em nenhum lugar hpa alguma sugestão de que Jesus teve um filho.”
Os Cavaleiros Templários tinham relação com o Santo Graal?
O Código Da Vinci defende que o famoso Santo Graal — supostamente usado na Santa Seia — nunca foi, na verdade, um cálice mágico. Segundo o livro e o filme, tratava-se de Sangreal, ou seja, o Sangue Real, fazendo referência a linha secreta de Jesus e Maria Madalena. E o Sangue Real era protegido por Cavaleiros Templários conhecidos como O Priorado de Sião.
Historicamente, como cita o Screenrant, Os Cavaleiros Templários teriam sido fundado no século XII, em 1119, tendo relação direta com as Cruzadas e sendo responsável pela proteção dos Cristãos.
A primeira relação entre estre grupo e o Santo Graal só iria surgir um século depois, em Parzival, uma poesia épica escrita por Wolfram von Eschenbach, que traria um conto arturiano na busca do Santo Graal — aqui descrito como um cálice capaz de restaurar a vida daqueles que dele beberem.
Não há, no entanto, nenhuma relação entre o Priorado de Sião — ou os Cavaleiros Templários — com o Sangue Real de Jesus e Maria Madalena. Também não há nenhuma fonte histórica que indique que essa ordem secreta foi dizimada após ter descoberto o Santo Graal.
Aliás, o Priorado de Sião só foi surgir em 1956, sendo fundado por Pierre Plantard (o charlatão citado anteriormente). Somente através dessa fraternidade misteriosa é que temos registros de supostos documentos provando o romance de Jesus e Maria Madalena. Contudo, foi confirmado — por jornalistas e pesquisadores — que essas provas não passavam de uma mentira, elaboradas com base em fantasias esotéricas.
Opus Dai realmente pratica o autoflagelo?
Fundada em 1928 na Espanha, o Opus Dai foi criada por Josemaría Escrivá, um santo católico. Em O Código Da Vinci, a organização é representada sob uma ótica bastante terrível. Seus membros — aqui representados pelo assassino Silas — praticam o autoflagelo, se chicoteando até sangrar, enquanto repete que a dor é algo bom, e fazem tudo para proteger o segredo de Jesus e Maria Madalena.
Mas isso é realmente verdade? Sim. O autoflagelo e o sacrifício é parte do Opus Dei, mas não de uma forma tão extrema quanto o que foi retratado em O Código Da Vici.
Falando sobre o caso, Michael Barret, Sacerdote do Opus Dei, ressaltou que o filme — e o livro — são obras de ficção. Ainda que exista a Mortificação Corporal, não é nada terrível como o que foi retratado.
“As descrições sangrentas da mortificação corporal que há em O Código Da Vinci são exageros grotescos que não têm nada a ver com a realidade. Evidentemente, o filme procura impressionar, e o uso real que normalmente se faz do cilício e das disciplinas teria resultado demasiado banal. O mau estar que causam estes instrumentos é pouca coisa: pode-se comparar, por exemplo, ao que causa o jejum. Não produzem sangue, nem feridas, nem nada que prejudique a saúde pessoal ou que resulte traumático. Se provocassem danos, a Igreja não os permitiria,” disse em uma entrevista ao site oficial do Opus Dei.
Em O Código Da Vinci, Silas utiliza um Cilício, uma cinta com pregos que são cravados em sua coxa. Esta seria uma forma de penitência do Opus Dei. Barret confirma que isso é verdade, mas que, mais uma vez, não é tão extremo quando no filme.
“Alguns membros solteiros do Opus Dei usam cilício. Trata-se duma pequena cadeia de metal leve, com pontas, que se usa à volta da coxa. O cilício causa incomodidade –se não fosse assim, não teria razão de ser-, mas de modo nenhum perturba as atividades normais duma pessoa, nem muito menos acarreta derramamento de sangue,” explica.
Sobre o autoflagelo, ou seja, se chicotear em nome de uma penitência, Barret confessa que isso é feito semanalmente, mas não é um processo violento ou sangrento.
“[É] A mesma coisa que do cilício. Usam-nas alguns membros solteiros, geralmente uma vez por semana, durante um minuto ou dois. E [os golpes] não produzem sangue, nem prejuízo para a saúde, somente uma breve incomodidade,” aponta Barret. “Longe do que pode dar a entender a flagelação a duas mãos do monge alucinado de O Código Da Vinci, as disciplinas reais são de algodão entrançado e pesam menos de cinquenta gramas.”
Mas por qual motivo os membros do Opus Dei se submeteriam a este processo? Barret aponta que o sacrifício é parte inerente do Cristianismo, visto que Jesus Cristo é simbolo máximo disso.
“A mortificação ajuda-nos a resistir à nossa tendência natural para a comodidade pessoal, que tantas vezes nos impede de responder à chamada cristã para amar a Deus e para servir ao próximo por amor de Deus. Além disso, esses incómodos voluntariamente aceites unem o cristão com Jesus Cristo e com os sofrimentos que voluntariamente aceitou para nos redimir do pecado,” ressalta.
Assim, o papel do autoflagelo seria secundário no Opus Dei, bem longe de ser uma exigência ou um prazer masoquista compartilhado por seus membros. “O Opus Dei realça os pequenos sacrifícios, mais do que os grandes: continuar a trabalhar quando se está cansado, ser pontual, prescindir de alguma coisa de que se goste na comida ou na bebida, não se queixar,” finaliza Barret.
Leonardo Da Vinci sabia sobre o Santo Graal, Jesus e Maria Madalena?
Ao longo da história de O Código Da Vinci, Robert Langdon e seus companheiros encontram diversas pistas nas obras de Leonardo Da Vinci. Isso porque, supostamente, o artista seria parte do Priorado de Sião e teria escondido inúmeros segredos em seus trabalhos, como menções à astronomia, geologia, arqueologia e magia.
A Super Interessante explica que, sim, Leonardo Da Vinci escondia segredos em suas obras, mas nada como descrito por Dan Brown. O que temos é, por exemplo, suas iniciais escritas na Monalisa.
O pesquisador Darrell Bock, também já citado anteriormente, defende que não há nenhuma realidade nas afirmações de Dan Brown sobre Da Vinci.
“Nada disso corresponde à realidade”, defende Bock. “Fatos avulsos relacionados à vida de Leonardo foram completamente tirados de contexto, ou mesmo alterados, para dar sentido à trama.”
O NY Times também ressalta a maneira que Dan Brown manipula os fatos para falar de Da Vinci. Desde incoerências históricas, (o nome de Da Vinci, que diferente do que é sugerido no livro, não era um sobrenome, mas uma referência da origem do pintor), até sobre incoerências artísticas (Monalisa não é Da Vinci de drag, Madona Entre as Rochas não foi pintado em uma tela, mas sim em madeira…).
“A compreensão do autor sobre o Leonardo histórico é instável.” afirma o jornal. “O Código Da Vinci é um entretenimento baseado no gênero da teoria da conspiração — neste caso, a busca pela verdadeira natureza do Santo Graal.”
O que diz Dan Brown?
Dan Brown afirma que seu livro é um trabalho de ficção, mas também indica que todas as referências históricas e documentos que são citados no livro são verdadeiros, ou baseados em uma evidência real, pelo menos.
Em uma entrevista para CNN, Brown disse:
“É 99% de verdade. Todas a arquitetura, a arte, os rituais secretos, a história, tudo isso é verdade. Os evangelhos apócrifos, tudo isso… tudo isso é ficção, é claro, é aí que surge o simbologista de Harvard, chamado de Robert Langdon, e tudo que ele faz é ficcionado. Mas o background [do livro] é tudo verdade,” afirmou.
Em seu site oficial, o escritor afirmou voltou a falar sobre isso:
“O Código Da Vinci é um romance, portanto é um trabalho de ficção. Enquanto os personagens e suas ações obviamente não são reais, as artes, arquitetura, documentos e rituais secretos descritos no livro existiram mesmo (por exemplo, as pinturas de Leonardo Da Vinci, os evangelhos gnósticos, a hierogamia, etc.). Todos esses elementos reais são interpretados e debatidos por personagens fictícios. Ainda que eu acredite que algumas dessas teorias têm méritos, cada leitor deve explorar as perspectivas desses personagens e chegar às próprias conclusões.”
Apesar disso, o The New York Times defende que tudo que é visto no livro, como as teorias de conspiração e os ataques a fé Cristã, é feito tendo como base nos boatos espalhados por Pierre Plantard, tido como um charlatão que fazia afirmações insubstanciais.
Tudo isso, portanto, se encaixa no gênero de Ficção Histórica. Ou seja, algo que utiliza figuras ou eventos históricos para ambientar uma história fictícia. Assim, ainda que haja uma tentativa de retratar uma época, eventos específicos ou certas pessoas, tudo não passa de fantasia e ficção e, portanto, não possui um compromisso com a realidade ou história.
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