Globo de Ouro: Entenda as polêmicas por trás da premiação

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Globo de Ouro: Entenda as polêmicas por trás da premiação

Por Jaqueline Sousa

Antes considerada uma das premiações mais importantes da indústria cinematográfica, o Globo de Ouro tornou-se alvo de inúmeras críticas e boicotes ao longo dos últimos anos. O evento, que serve como ponto de partida para a temporada de prêmios em Hollywood e é termômetro para o Oscar, vem enfrentando várias polêmicas envolvendo racismo e troca de favores em sua organização. 

São tantos problemas que a edição de 2022 não foi televisionada e nem ao menos houve uma cerimônia: a revelação dos vencedores aconteceu pela internet. O que fez então com que o Globo de Ouro perdesse sua relevância? Entenda aqui as polêmicas por trás da premiação!

A reputação do Globo de Ouro

A edição de 2021 do Globo de Ouro teve Tina Fey e Amy Poehler como apresentadoras.

O Globo de Ouro é uma premiação anual que seleciona o melhor do cinema e da televisão, funcionando quase como uma fusão entre o Oscar e o Emmy. Os vencedores são escolhidos pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, grupo de jornalistas estrangeiros que residem em Los Angeles.

O evento ficou famoso devido ao seu caráter mais descontraído e informal, contraste perceptível com a cerimônia do Oscar, por exemplo, que é mais séria e contida. Além disso, como dito anteriormente, o Globo de Ouro é um aquecimento para a premiação mais importante do cinema, ditando os favoritos do ano e contribuindo para o sucesso das produções que levam o troféu para casa.

Apesar da relevância histórica, o crescente envolvimento com polêmicas afetou a reputação da premiação, fazendo com que sua credibilidade despencasse nos últimos anos. Com membros envolvidos em esquemas corruptos e as críticas pertinentes sobre a falta de diversidade entre os votantes afetando a escolha dos vencedores, a premiação se viu diante de um fiasco iminente.

A falta de diversidade e o racismo

Ao longo dos anos, uma das críticas mais frequentes ao Globo de Ouro evidenciava a ausência de diversidade entre os membros da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood e nos nomes indicados na premiação. A polêmica só aumentou quando, em 2021, o jornal Los Angeles Times publicou uma reportagem expondo diversos problemas e esquemas corruptos envolvendo a organização do evento (via Vogue). Durante a investigação, o LA Times descobriu que não havia pessoas negras entre os 87 participantes da Associação, informação que foi confirmada por Meher Tatna, presidente do grupo no período (via Variety). Ainda em 2021, a edição foi duramente criticada por não incluir produções relevantes que eram lideradas por negros.

Após a revelação, a Associação resolveu agir, iniciando algumas mudanças em sua organização. Segundo o acordo proposto na época, 13% dos jornalistas participantes deveriam ser negros (via IndieWire). Mas o clima de mudança não durou muito, já que, pouco depois, o Deadline divulgou um e-mail do presidente anterior, Philip Berk, onde ele se referia ao movimento Black Lives Matter como um “grupo de ódio racista”. Berk foi demitido, mas era necessário que novas medidas fossem tomadas para aumentar a inclusão e a diversidade no Globo de Ouro.

A troca de favores

Segundo investigações do LA Times, ocorreram troca de favores entre alguns membros da AIEH e os produtores da série Emily in Paris.

A reportagem do Los Angeles Times também trouxe à tona outra polêmica que fragilizou ainda mais a reputação da premiação: alguns membros da Associação foram acusados de aceitarem presentes e viagens para favorecer determinadas produções nas indicações e nos ganhadores.

De acordo com o LA Times (via Newsweek), 30 integrantes ganharam viagens caríssimas para Paris após um acordo, em 2020, com os produtores da série Emily in Paris, da Netflix. A produção recebeu duas indicações ao Globo de Ouro em 2021, o que não foi bem-visto pelo público e pela crítica especializada. Além disso, a ausência da aclamada série I May Destroy You, da talentosíssima Michaela Coel, na premiação, causou ainda mais reações negativas na indústria. 

O boicote à edição de 2022

A edição de 2022 do Globo de Ouro não foi televisionada após sofrer boicotes da indústria.

O envolvimento em tantas polêmicas foi o que resultou o boicote ao Globo de Ouro de 2022. Em maio de 2021, a NBC, canal que transmite a cerimônia nos Estados Unidos, publicou uma nota cancelando a edição deste ano. A nota diz (via IndieWire):

“Nós continuamos acreditando que a AIEH [Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood] está comprometida em fazer reformas significativas. Entretanto, uma mudança de tal magnitude leva tempo e trabalho, e nós sentimos que a AIEH necessita de tempo para acertar as coisas. Assim, a NBC não vai transmitir a edição do Globo de Ouro de 2022. Assumindo que a organização execute seus planos [de mudança], nós estaremos dispostos a transmitir a edição de janeiro de 2023.”

Além do boicote da NBC, as celebridades também se recusaram a participar do evento. Apenas os membros da Associação acompanharam a cerimônia privada, que teve seus vencedores divulgados nas redes sociais no último domingo (9). Empresas como a Netflix, Amazon e WarnerMedia também aderiram ao boicote, afirmando que não vão apoiar a premiação até que mudanças sejam feitas (via Variety). Ava Duvernay, Sterling K. Brown, Mark Ruffalo e Tom Cruise são outros nomes que já declararam seu posicionamento contra a organização. Cruise chegou até mesmo a devolver seus três troféus.

Ao que tudo indica, a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood está comprometida a reparar os erros cometidos. O grupo está contando com o auxílio de orientadores para solucionar a crise, aprovando diversas medidas para aumentar a inclusão de diferentes etnias e garantir restrições a respeito da aceitação de presentes, por exemplo. Se essas medidas vão promover modificações reais na organização interna do Globo de Ouro, teremos que esperar para ver. 

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