Ghostbusters: Mais Além — Conversamos com os dubladores Flávio Dias e Luísa Viotti sobre a evolução da franquia
Ghostbusters: Mais Além — Conversamos com os dubladores Flávio Dias e Luísa Viotti sobre a evolução da franquia
Dubladores originais voltaram para reprisar seus papéis
Caça-Fantasmas foi um verdadeiro fenômeno em meados dos anos 80. Depois do sucesso nos cinemas, a música-tema não parava de tocar nas rádios, a animação se tornou um estrondo na televisão e os filmes sempre reprisavam no horário da tarde. Muita coisa mudou desde então e os fãs da franquia precisaram esperar anos a fio por uma sequência, até a chegada do surpreendente Ghostbusters: Mais Além.
Enquanto presta uma grande homenagem ao legado da franquia, o novo filme prepara o terreno para que esta história continue conquistando novas gerações. E para entender melhor como foi construída essa atmosfera de nostalgia, a Sony Pictures nos convidou para conversar com os dubladores do filme — Flávio Dias, o Caça-Fantasma original Ray Stantz, e Luísa Viotti, que dá voz à vilã Gozer.
Em Ghostbusters: Mais Além, os jovens netos de Egon Spengler precisam assumir o manto de Caça-Fantasmas para dar fim à grande ameaça de Gozer, que aparece pela primeira vez no longa original de 1984. Para concluir essa missão, eles contam com uma pequena, mas importante ajuda da equipe original dos Caça-Fantasmas, que no Brasil foi dublada pelos mesmos atores dos filmes clássicos.
Entre o elenco de dubladores que está retornando, temos o talentosíssimo Flávio Dias, que nutre memórias muito gostosas da experiência de participar da adaptação da franquia para o público brasileiro. “Na época, marcou. Foram 168 desenhos, meu caro,” comenta em referência aos episódios que dublou da série animada, “E dois longas. Muita coisa! Dublados pelo mesmo grupo, né?”
Antônio Moreno (Winston Zeddmore), Jorge Barcellos (Egon Spengler) e Ézio Ramos (Peter Venkman) completavam o núcleo principal, que, por incrível que pareça, começou trabalhando na animação. A chegada do filme, com os mesmos personagens, foi uma grata surpresa que rendeu muitos frutos para a equipe.
“Você tava fazendo um trabalho que tava explodindo. Foi pro programa da Xuxa, que era o auge na época, no comecinho dos 90. Era isso e um outro programa que tinha uma cachorra que apresentava” comenta, lembrando da TV Colosso, “O trabalho era muito intenso e abriu portas pra mim para outros trabalhos, né? Eu fui chamado para teste pro Beakman, por exemplo, porque eu tava trabalhando muito nos Caça-Fantasmas.”
Desde então, passaram-se quase 40 anos e muita coisa mudou no processo de dublagem. Luísa Viotti, que é uma das novas adições ao elenco de dublagem do filme interpretando a grande vilã, é uma das atrizes de nova geração que acompanhou estas mudanças mais de longe, mas Flávio esteve presente por todo este processo de modernização da dublagem.
“Eu tenho seis anos de dublagem,” explica Luisa, “então eu não peguei aquela história de dublarem juntos na bancada, que eles falavam que só tinha dois canais e aí eles dublavam juntos e tinha que ficar aquela dança do ‘junta e afasta’.”
Flávio confirma, com uma alegria nostálgica, que foi assim que os primeiros filmes ganharam suas vozes nacionais.“Eu tinha três pistas para dublar o filme, então os quatro atores principais trabalharam juntos na estante abraçados porque era o que tinha. Tinha um microfone e quatro atores em volta. Era assim. Era como se fazia radionovela.”
Desde que os filmes e séries passaram a ser dublados em cabines, com cada ator gravando suas falas separadamente em escalas, pouca coisa acabou mudando no processo de dublagem. A maior revolução aconteceu por pura necessidade durante o isolamento social que veio com a pandemia, forçando muitos dubladores a improvisarem estúdios dentro de suas próprias casas. O chamado home studio, segundo Luisa.
“Começou a pandemia, então todo mundo para um pouco até descobrir o que vai acontecer,” comenta a dubladora,“Os estúdios foram se adaptando, os dubladores se adaptaram, os clientes se adaptaram. Assim como, francamente, pandemia… Quem não se adaptou?”
E além do desgaste deste novo contexto, a atriz ainda precisou lidar com a questão de embarcar em uma franquia com anos de história. Mas Luísa acabou adotando uma atitude muito positiva, que explica o incrível resultado final que vemos no filme. “Se eu sinto a pressão, cê dá uma enlouquecida, então você sente o prazer.”
“Eu era muito fã dos filmes da época, então quando você vai fazer uma coisa que você era fã, aquilo já te dá uma alegria,” fala. Ela também evitou ao máximo simular o trabalho original de Isaura Gomes, que deu voz à primeira versão de Gozer, se atendo ao novo filme. “Clássicos são clássicos, acho que eles são meio intocáveis nesse sentido. É uma referência que tá ali, intocável, maravilhosa, e é isso.”
A atriz ainda revela que adorou fazer todo o trabalho gutural da personagem, que tem uma presença bastante intimidadora. Ela lembra que se empolgava tanto urrando como a vilã que o diretor de dublagem Manolo Rey precisava controlar o tom das gravações para não acabar saindo da proposta. Já para Flávio, a parte mais divertida de dublar o novo filme foi regravar os trechos dos anúncios do serviço dos Caça-Fantasmas, que acabam aparecendo no novo longa quando os netos de Spengler procuram entender quem era o seu avô.
“Todo mundo que viu [o filme] se emocionou pelo fato de ouvir as vozes originais dos caras que dublaram lá nos anos 80,” comenta. O comercial é um dos poucos momentos que reúne os Caça-Fantasmas originais, uma vez que o ator que interpretava Egon Spengler morreu em 2014, “Foi engraçado [a gente] tentando botar uma voz mais leve num filme que é lá dos anos 80. Então emocionou também, porque ele tinha pouco texto no longa.”
Flávio também confessa ter se emocionado quando recebeu a notícia que voltaria a dublar Ray Stantz mais uma vez. “Quando eu vi a imagem dele na tela, aí eu travei. Cara, que emoção. Que coisa linda! E que legal que respeitaram isso, das vozes originais dublarem os atores que tinham feito o trabalho [original],” declara.
Ao longo de sua carreira, Flávio ficou conhecido por dar voz a personagens marcantes como o Dinossauro Barney e o Patolino, dos Looney Tunes. Julian Solo, o Poseidon de Cavaleiro dos Zodíacos, foi um dos heróis que o dublador lembrou ao longo da entrevista com muito carinho, mas poucos acabaram se mostrando serem tão parecidos com ele quanto o próprio Ray. “Nos dois finais de filme, ele pergunta pros caras se eles estão bem. Era uma coisa minha. Eu chegava no final dos ensaios ‘E aí? Cê tá bem? Tudo bem?’ E no final dos dois filmes, o Ray fala exatamente isso,” comenta.
Para Luisa, é complicado desenvolver uma identificação a nível pessoal com seus personagens porque a maioria está entre o gutural e o cômico. Mesmo assim, a dubladora demonstrou um amor surpreendente pela bruxa Yennefer, de The Witcher, a qual defende de críticas com unhas e dentes.
“Ela é uma mulher que teve uma vida super difícil, muito virada do avesso, e isso foi fazendo dela uma mulher muito forte,” comenta Luisa, “Ela não é heroína de um lado ou de outro, ela é heroína da vida dela.”
Esta paixão que os dubladores demonstram por seus personagens é um dos motivos pelo qual a dublagem brasileira é considerada por muitos uma das melhores do mundo. Mas ainda existem críticos ao processo de dublagem, que vez ou outra atacam a prática nas redes sociais. Perguntados sobre esta perseguição à democratização do cinema, os dubladores trouxeram a sua visão.
“Eu sempre fui uma pessoa curiosa,” começa Luisa, “Então quando eu comecei na dublagem eu assistia os trechos que eu achava interessante… Eu ia lá na Netflix e colocava em todos os idiomas. Então assim, vou defender. A nossa dublagem realmente é das melhores do mundo, porque eu acho também que a gente consegue trazer a brasilidade pro negócio,” explica, “Tem uma coisa de cores nas frases e nas palavras que a gente consegue fazer, em geral, muito bem. Que fica gostoso de assistir.”
“Não muda absolutamente nada na qualidade geral, muda no entendimento disso ou daquilo,” defende Flávio sobre pequenas adaptações de texto. Aproveitando seu forte histórico no teatro, o dublador ainda reforça como o trabalho de atuação na dublagem pode ser exigente. “Eu dirijo os meus atores com a pegada de um diretor de teatro. Eu exijo muito mais da interpretação do que do sincronismo. O sincronismo, falar junto, é uma técnica que você aprende como ator. A interpretação, meu chapa, se não puxar pode ficar embutida.”
Por fim, perguntada sobre o motivo destes ataques a dublagem ainda acontecerem, Luísa responde de forma bem pragmática. “Não tem como agradar todo mundo. Paciência. Não gosta [beijinho], vai com Deus,” resume, “Você tem outras opções para assistir. Você pode assistir a dublagem em outro idioma, você pode assistir no idioma original. Não precisa ficar se desfazendo do negócio.”
Seja você do time que gosta de assistir dublado ou se você prefere assistir com o áudio original, Ghostbusters: Mais Além já está disponível para venda e aluguel nas plataformas digitais.
E se você ainda estiver sedento por mais histórias assustadoras com um elenco incrível de dubladores, o nosso ilustre Flávio Dias está com um podcast de áudio drama imperdível chamado O Cordeiro de Leon, com capítulos curtos de dez minutos com um clima tão denso que vai deixar você em pânico. A história pode ser ouvida gratuitamente no YouTube ou pelo Spotify.
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