Final Fantasy XVI: Diretor explica a falta de personagens negros, mas é rebatido por artista de Super Choque

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Final Fantasy XVI: Diretor explica a falta de personagens negros, mas é rebatido por artista de Super Choque

Por Gabriel Mattos

Final Fantasy XVI está entre os títulos da nova geração mais aguardados por todo mundo. Mas mesmo com seu apelo global, o game da Square Enix chama atenção nos trailers por não se preocupar em representar a diversidade étnica esperada por jogadores de todo o mundo. Em entrevista ao IGN, o diretor Naoki Yoshida comentou sobre a falta de personagens negros no jogo.

Por que não tem personagens negros em Final Fantasy XVI?

Ao site, Yoshida confirmou estar ciente do problema e da importância que diversidade vem tomando nas discussões sobre a indústria do entretenimento como um todo. Para justificar a decisão artística da equipe, o desenvolvedor lançou mão do argumento de “precisão histórica”, mesmo que a história aconteça em um universo fictício.

“Nosso conceito de design desde os estágios iniciais de desenvolvimento sempre envolveu a Europa medieval, incorporando padrões históricos, culturais, políticos e antropológicos que eram prevalentes na época. Quando estávamos decidindo que cenário combinava mais com a história que queríamos contar,” explica o diretor, “Sentimos que ao invés de criar algo de escala global, era necessário limitar o escopo para um único território — que fosse geograficamente e culturalmente isolado do resto do mundo em uma era sem aviões, televisão ou telefones.”

Ausência de personagens negros afeta diversos títulos japoneses recentes da Square Enix, como Octopath Traveler II e Star Ocean.

Inspiração em Game of Thrones

A explicação segue a mesma linha usada por outras produções medievais muito populares da cultura ocidental, como Game of Thrones e The Witcher. Questionado pelo jornalista, o diretor de localização Michael-Christopher Koji Fox confirmou a inspiração nessas obras, que julga ser inevitável.

“Tem muitos fãs de Game of Thrones no time de desenvolvimento, então você vai encontrar alguns pontos de similaridade nos temas da narrativa e design de personagem,” comenta.

Entretanto, a falta de representatividade dessas obras são apenas reflexo do momento em que foram produzidas, quando diversidade não era discutida tão amplamente na mídia. Tanto o recente derivado de Game of Thrones, A Casa do Dragão, quanto a série live-action de The Witcher, da Netflix, fizeram questão de incluir uma série de personagens negros, mostrando uma nova tendência da indústria nessa discussão.

Corroteirista de Super Choque responde

Artista e corroteirista de Super Choque, que é fã da franquia, não conseguiu se calar ao ouvir essa justificativa.

As falas de Yoshida repercutiram nas redes sociais e foram rebatidas por Nikolas Draper-Ivey, artista e corroteirista dos quadrinhos atuais de Super Choque. Além de revelar já ter tido ideias para um jogo de Final Fantasy completamente centrado na cultura negra, com orixás como summons, Nikolas apresentou uma rápida solução para a inclusão de personagens negros sem quebrar a sagrada “precisão histórica” tão defendida pela equipe.

“Fico chocado que eles nem pensaram em incorporar um único design sequer baseado nos mouros em um jogo de Final Fantasy. Quando eu olho para alguns trabalhos do [Yoshitaka] Amano, simplesmente grita isso pra mim,” pontua.

Os mouros, citados pelo artista, consistiam em um grupo de mercadores e mercenários negros do período medieval, famosos por terem dominado a Península Ibérica (Portugal e Espanha) por muitos anos. Assim, não dá para dizer que a não-inclusão de personagens negros valida uma precisão histórica em qualquer fantasia medieval. Resta esperar que os criadores da indústria do entretenimento façam direito o seu dever de casa.

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