Dragon Ball: Conheça a história clássica da literatura chinesa que inspirou obra de Akira Toriyama
Dragon Ball: Conheça a história clássica da literatura chinesa que inspirou obra de Akira Toriyama
Nada se cria, tudo se copia
Quando falamos em shonnen, Dragon Ball de Akira Toriyama parece ser a epítome da originalidade. Com seus arcos de torneio e personagens carismáticos, a produção pavimentou muito do que foi reproduzido em animes com a mesma demografia. Mas, a verdade é que a história de Goku é muito mais antiga do que parece e foi inspirada pela literatura chinesa.
E isso não é uma exclusividade de Dragon Ball. Pelo contrário, xxxHOLiC, da CLAMP utiliza de lendas japonesas para construir a narrativa de cada caso encontrado. Já Kimetsu no Yaiba se debruça sobre estilos artísticos para construir a sua estética, como na xilogravura A Grande Onda de Kanagawa, mas também em períodos históricos e lendas urbanas para compor seu mundo. O grande destaque da inspiração de Toriyama é ter desenvolvido sua história a partir de uma obra de quatro séculos atrás: o livro Jornada ao Oeste.
A inspiração de Dragon Ball
Publicado pela primeira em 1592, Jornada ao Oeste foi escrita por Wu Cheng’en e, por si só, não é um material original, pois se baseia na peregrinação do monge Xuanzang para a Índia, em busca de escrituras sagradas do budismo. O inovador no trabalho de Wu é manter o registro pessoal de Xuanzang, mas adicionando elementos do folclore, baladas antigas e invenções do autor.
Dentre algumas modificações, está o fato de Sidarta Gautama, popularmente conhecido como Buda, ser o responsável por encomendar a missão ao monge chinês e lhe fornece três protetores, os três sendo: o Sun Wukong, Zhu Baije e Sha Wujing.
O mais popular entre os três é o Sun Wukong, o famoso Rei Macaco. Entre adaptações para animações, games, filmes e outras mídias, os sete primeiros capítulos da obra são dedicados a contar sua história, sendo o único dos discípulos do monge a ter essa honraria.
Son Goku e Sun Wukong
E não é difícil notar as semelhanças entre Wukong e Goku, começando pela brincadeira de palavras feita por Akira. Entre semelhanças menos óbvias, temos o fato do Rei Macaco manter seu rabo quando em seu corpo humano. Além disso, ele chegou a Terra em uma “nave” de pedra similar a de Goku, possui um cajado que estica até qualquer comprimento e uma nuvem que utiliza para viajar pelos céus.
Bulma e Tang Sanzang
Já Bulma representa a figura de Tang Sanzang, o Sábio Monge. Sendo o líder do grupo no livro, é Sanzang quem recruta Wukong após o seu isolamento. Além de ser o pilar espiritual do time, ele era a cabeça por trás dos planos. Não muito diferente de Bulma, sempre preparada com alguma tecnologia da Corporação Cápsula, além de ser quem encontra e tira Goku de seu isolamento.
Yamcha e Oolong como Zhu Bajie e Sha Wujing
Mas, é importante acrescentar que, após um tempo, Dragon Ball acabou por se desvencilhar dessa história. Muitos dos personagens apresentados na primeira temporada caíram no esquecimento e a trama que o impulsiona muda drasticamente. Isso inclui dois personagens baseados no livro: Yamcha e Oolong.
Inspirados em Zhu Bajie e Sha Wujing, os dois são entidades celestiais que caíram em desgraça, se tornando “demônios”. No entanto, após conhecerem Sanzang e Wukong, ambos se juntam ao time em busca de se redimirem de seus pecados. A história e o passado vilanesco de Yamcha e Oolong é o que deixam as referências mais claras.
Rei Ox e Chi-Chi como o Rei Demônio Touro e a Princesa Leque de Ferro
Ainda sobre adversários, não foi todo mundo que ficou contente com a peregrinação de Sazang. Dentre eles, estava o Rei Demônio Touro e a Princesa Leque de Ferro, que junto de familiares e membros da corte, tentaram impedi-los de continuar a sua missão. Mesmo que o final dos dois não seja tão pacífico no material original, ambos serviram para construir o arco em que Goku conhece Chi-Chi.
Akira, de forma maestral, conseguiu transformar uma história clássica em algo contemporâneo que é reproduzido e, continua relevante, até hoje. Mais do que sobre inspirações e o “copia, mas não faz igual”, é interessante conhecer o material original para entender melhor o porquê de criações como Dragon Ball.