Crítica: Veja Por Mim tem ótima premissa e elenco ofuscados por suspense morno

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Crítica: Veja Por Mim tem ótima premissa e elenco ofuscados por suspense morno

Por Arthur Eloi

Para a grande maioria das pessoas, o próprio lar é um dos poucos lugares realmente seguros em meio a um mundo de incertezas. O apelo do subgênero de invasão domiciliar é justamente perturbar essa noção, e é por isso que obras como Os Estranhos ou Violência Gratuita são tão fascinantes e mórbidos. Mas existe sim uma forma de tornar a situação toda ainda pior: quando além de ter sua casa invadida, você sequer consegue se proteger sozinho.

Em Veja Por Mim, suspense canadense de Randall Okita (The Lockpicker), uma jovem com deficiência visual é contratada para cuidar da casa de uma mulher rica. Sua noite se torna um pesadelo quando é visitada por assaltantes, e precisa contar com a ajuda de uma estranha via chamada de vídeo para conseguir se localizar.

Ficha técnica

Título: Veja Por Mim (See For Me)

 

Direção: Randall Okita

 

Roteiro: Adam Yorke e Tommy Gushue

 

Data de lançamento: 23 de junho de 2022 (Brasil)

 

País de origem: Canadá

 

Duração: 1 h 32 min

 

Sinopse: Uma jovem cega vive um pesadelo quando a casa que está cuidando é invadida por três assaltantes. Sua única forma de sobreviver é através de um app, em que uma ex-militar lhe dá assistência através de uma chamada de vídeo.

Seguir um protagonista com algum tipo de deficiência não é exatamente novo no horror, que já viu uma enorme variedade de títulos, desde Um Clarão nas Trevas (1967) até Hush: A Morte Ouve (2016). O que chama a atenção aqui é o fato que Skyler Davenport, intérprete da protagonista, de fato é pessoa com deficiência, e traz toda uma nova camada de autenticidade ao projeto.

A jovem Sophie (Davenport) é um ex-medalhista em esqui que se vê afastada do esporte após ter sua visão danificada. Frustrada, ela passa a aceitar trabalhos de cuidadora não só pelo dinheiro, mas também para saquear as casas que fica encarregada. É uma personagem surpreendentemente complexa, sem uma moral clara e bem definida. Ora ela é vítima, ora é cúmplice, e luta internamente com a dificuldade de saber quando precisa se virar e quando pedir ajuda.

O filme é fascinante quando entende como transmitir a conturbada e teimosa perspectiva da jovem, e a direção de Okita ocasionalmente acerta na forma que espectador e protagonista exploram o cenário juntos. Com intérprete de talento na protagonista, uma coadjuvante forte em Jessica Parker Kennedy (The Flash) – que vive a assistente ocular Kelly, tão teimosa quanto Sophie – e uma boa premissa, Veja Por Mim tem todas as cartas na mão, mas não consegue criar algo verdadeiramente empolgante.

Jessica Parker Kennedy vive Kelly, uma ex-militar que ajuda Sophie remotamente

Se a direção de Randall Okita se sai em imergir o espectador na perspectiva de Sophie durante os momentos iniciais, basta a situação ficar um pouco mais delicada que o diretor abre mão da abordagem que justamente torna o projeto especial. Por mais que a jovem esteja desorientada em uma casa enorme e escura, contando apenas com a ajuda remota de Kelly para encontrar a saída em meio à ocupação de três assaltantes, o espectador pouco sente esse medo ou confusão.

Ainda que tenha a oportunidade perfeita para isso, o cineasta não limita a visão do público, o que cria o distanciamento com a personagem e apazigua muito da tensão que poderia surgir na situação. Essa sacada que consagrou, por exemplo, O Homem nas Trevas, que conseguiu imaginar um pesadelo sufocante e sensorial em que todo passo poderia ser em falso, e onde as consequências por ser ouvido eram severas.

Pessoa não-binária e com deficiência visual, Skyler Davenport traz bastante autenticidade para a protagonista de Veja Por Mim

O suspense deixa a desejar, mas não significa que está completamente ausente. Há momentos que mostram todo o potencial que a obra poderia atingir, unindo o talento de Skyler Davenport para uma atuação com nuances com o bom olhar de Okita, como quando Sophie é coagida a despistar uma policial que vai investigar o local.

A cena estabelece de antemão várias armadilhas de terceiros que podem comprometer seu disfarce, como a preocupação de Kelly e de um outro amigo, cujas ligações inoportunas despertam desconfiança na policial que vasculha a casa. O trecho é um dos poucos momentos em que Veja Por Mim se torna realmente sufocante, e ainda que seja uma experiência agradável até o final, nada no restante fica a altura.

Veja Por Mim sofre com suspense fraco, mas há momentos ótimos, como a cena com a policial

Vale pontuar que este ainda é o segundo filme de Randall Okita, portanto é comum que sua técnica ainda precise de certo polimento. De qualquer forma, Veja Por Mim é sólido o suficiente para segurar o espectador por toda a sua duração, mas sem nada impactante ou memorável para fazer jus à sua ótima premissa, sensibilidade e intérprete.

Nota: 3 de 5

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