Crítica – Top Gun: Maverick apresenta a maior missão impossível de Tom Cruise, vencer o tempo
Crítica – Top Gun: Maverick apresenta a maior missão impossível de Tom Cruise, vencer o tempo
Filme faz uma bela homenagem ao Top Gun de Tony Scott ao mesmo tempo que mostra Cruise em seu ápice
Se existe uma pessoa, nessa vasta imensidão do mundo onde vivemos, que dispensa apresentações, esse alguém é Tom Cruise. E é ele que, 36 anos após o lançamento de Top Gun: Ases Indomáveis, retorna em Top Gun: Maverick, a sequência do filme clássico de Tony Scott, que deixou sua marca na história do cinema pelos visuais impressionantes e uma trilha sonora de tirar o fôlego.
Já para o longa deste ano quem assumiu as rédeas foi o diretor Joseph Kosinski. O cineasta tinha em mãos o grande desafio de dar continuidade ao legado de Top Gun e, felizmente, não decepciona — Top Gun: Maverick mergulha na nostalgia do clássico sem medo, mas de uma forma tão natural e singela que só incrementa ainda mais toda a grandiosidade dessa sequência.
Assumindo Maverick como seu alter ego, Cruise ultrapassa mais uma vez seus próprios limites, em uma trama emocionante (no sentido mais puro da palavra) que, a todo momento, mostra como o tempo é o maior inimigo do ser humano.
Ficha técnica
Título: Top Gun: Maverick
Direção: Joseph Kosinski
Roteiro: História de Peter Craig e Justin Marks; Roteiro de Ehren Kruger, Eric Warren Singer e Christopher McQuarrie
Data de lançamento: 26 de maio de 2022
País de origem: China e Estados Unidos
Duração: 2h 11min
Sinopse: Depois de mais de trinta anos de serviço como um dos principais aviadores da Marinha, Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) está onde ele sempre quis, atuando como um corajoso piloto de testes e evitando o avanço na classificação que o colocaria fora da corporação. Quando se vê treinando uma nova leva de aviadores graduados da TOPGUN para uma missão especial, Maverick é arrastado para um confronto com seus medos mais profundos, culminando em uma missão que exige o sacrifício final daqueles que serão escolhidos para voar.
O tempo é seu maior inimigo
Assim como o filme original de 1986, é ao som de Danger Zone, de Kenny Loggins, que Top Gun: Maverick vai surgindo na tela. Não demora muito para que o grande astro, que tem seu nome estampado antes mesmo do próprio título do filme, apareça.
O Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) dos dias atuais não está tão diferente assim do jovem rebelde de antigamente: temos o mesmo óculos escuro, a mesma jaqueta, a mesma motocicleta, os mesmos costumes. Ele ainda segue sua carreira profissional como um dos principais aviadores da Marinha dos Estados Unidos, mas uma leve reviravolta do destino o obriga a enfrentar alguns fantasmas do seu passado – mais uma vez, Maverick se vê diante da TOPGUN, a academia de pilotos na qual um dia ele desafiou todos os seus limites.
Porém, desta vez, é ele quem comanda o treinamento dos jovens e promissores pilotos para a realização de uma missão tão perigosa que vai exigir tudo, até mesmo sacrifícios, dos envolvidos. E é entre esses aviadores que está Bradley Bradshaw (Miles Teller), conhecido por seu codinome Rooster e por ser o filho do falecido melhor amigo de Maverick, Goose.
Não demora muito para que Top Gun: Maverick lembre o público o porquê Pete Mitchell é considerado o melhor dos melhores. Não importa o quão impossível a missão pareça ser — Maverick estará lá quebrando os próprios recordes e estabelecendo novos parâmetros nunca vistos antes para completar o que lhe foi designado. A ousadia de Maverick é aquilo que o leva tão longe, e isso também pode ser aplicado a Tom Cruise que, no auge de seus 59 anos, ainda não está pronto para se deixar vencer pelo tempo.
Tempo esse que carrega boa parte do enredo do filme de Kosinski. O longa sabe brincar com os contrastes, seja traçando paralelos com o Top Gun clássico ou usando os antônimos “novo e velho” para estabelecer uma estrutura narrativa sólida, algo que não acontece no primeiro filme. Se em 1986 foi Charlotte Blackwood (Kelly McGillis) quem surpreendeu Maverick ao se mostrar ser uma treinadora da TOPGUN, em 2022 foi a vez do piloto se apresentar (e até envergonhar) aos jovens aviadores como o líder da equipe.
Essa dualidade entre o antigo e o atual está presente em todo o enredo de Top Gun: Maverick, não de uma forma forçada e sem sentido, mas sim como algo necessário para aprofundar o drama pessoal de Maverick. Anos após a trágica morte de seu melhor amigo, o piloto continua se agarrando de todas as maneiras a um passado que, ainda que se crie um pleonasmo, ficou para trás. O que resta no hoje é apenas a poeira do amanhã. E esse pó, que vai escorregando dentro da ampulheta aos poucos, não espera por ninguém.
O desafio de Maverick e de seus jovens pupilos, então, é vencer o tempo para conseguir realizar o irrealizável. E, para que isso aconteça, um laço de confiança precisa ser criado, algo que a cena do jogo de futebol americano na praia (que “substitui” a icônica partida de vôlei do primeiro filme) mostra com maestria. E mais uma vez está ali o contraste entre o velho e o novo: Maverick se senta e apenas observa a juventude passar diante de seus olhos.
Em Time, música do disco The Dark Side of the Moon, da banda Pink Floyd, há um verso que diz “de forma relativa, o sol é o mesmo, mas você está velho”. A canção, apesar de olhar para a passagem do tempo de forma pessimista, pode resumir bem toda a dualidade de Top Gun: Maverick.
Afinal, o sol que ilumina aquele jogo na praia do segundo longa é o mesmo que esquentou Tom Cruise no auge de sua jovialidade no antecessor. Porém, não há mais uma razão para se deixar embriagar por uma memória. O relógio andou e você anda junto com ele, quer queira ou não.
Conforme dito por Iceman, personagem de Val Kilmer que faz uma participação emocionante no longa, é hora de deixar isso para trás. Maverick já passou tempo demais remoendo um passado e um trauma que não vão deixar de existir. Ele é feito de suas experiências, mesmo as dolorosas, e isso pode funcionar como energia para suas próximas vivências. Isso se o piloto não pensar muito, apenas fazer.
E toda essa temática envolvendo a passagem do tempo pode até ser aplicada ao próprio Tom Cruise. No filme, o ator surge imbatível, quase como uma força da natureza, provando mais uma vez o porquê ele é considerado um dos maiores astros do mundo. Apesar de não estar interessado em reviver sua juventude, Cruise parece abraçar de vez os anos que carrega consigo, andando de mãos dadas com o mortal cronômetro que nos acompanha desde o nosso primeiro suspiro de vida.
Não é o avião, é o piloto
É exatamente o conjunto da obra que faz Top Gun: Maverick ser uma joia extremamente bem lapidada no meio de esquecíveis objetos de segunda mão. Diferente do filme de Tony Scott, a sequência consegue entregar uma maior complexidade no desenvolvimento de seus personagens, com destaque para a relação entre Maverick e Rooster, ao mesmo tempo que traz equilíbrio com as intensas e ambiciosas sequências de ação, que são excelentemente executadas.
Como em um concerto, Kosinski conduziu sua orquestra de tal forma que, muito mais do que apenas prestar uma homenagem ao filme de 1986, ele conseguiu usar a nostalgia como motor para algo maior, seguindo uma estrutura narrativa mais consistente do que sua antecessora.
Parte disso vem do confronto entre Maverick e seu passado, que se solidifica na imagem de Bradley Bradshaw, o filho de seu falecido melhor amigo Goose. Do seu jeito e mesmo à distância, Mitchell tentou personificar a figura paterna da vida de Rooster, mas isso só gerou rancor e uma relação conturbada ao longo dos anos. É assim que um novo dilema surge na vida de Maverick: como fazer com que esse jovem piloto consiga confiar em seu tato após decepcioná-lo?
Logo, além de vencer o tempo, Pete Mitchell também precisa vencer seus próprios demônios e mostrar para Rooster, assim como para os outros aprendizes, que é o piloto quem realiza os grandes feitos, não o avião. Isso porque, em um mundo que vai sendo consumido cada vez mais pelas inovações tecnológicas, o segredo é confiar em si mesmo ao invés de se entregar nas mãos de uma máquina. Para Maverick, é assim que o impossível se torna possível em uma questão de segundos.
Embora a dinâmica entre Tom Cruise e Miles Teller seja um dos maiores destaques do longa, também há outras camadas na produção que, mesmo não sendo fenomenais, ainda cumprem seu papel, como toda a imponência de Jon Hamm, a garra da pilota interpretada por Monica Barbaro e a leveza de Jennifer Connelly, que assume o lugar de Kelly McGillis como o interesse romântico de Maverick. Mas, mesmo que o desenvolvimento do romance não seja tão bem trabalhado e fique em segundo plano, não é algo que atrapalhe a evolução da narrativa.
No final das contas, a jornada de Maverick e sua reconciliação com o passado preenchem a tela de maneira revigorante. Durante 131 minutos, Top Gun: Maverick apresenta ao público aquela que talvez seja a maior missão impossível de Tom Cruise: conseguir vencer o relógio e concretizar seus objetivos antes que o tempo acabe.
E, mesmo que o ser humano tenha essa mania de invencibilidade, o Maverick da vida real faz isso de um jeito avassalador, quase como se Cronos fosse inimigo de todo mundo, menos dele. “O tempo não para”, cantou Cazuza um dia. Mas talvez isso não se aplique a Cruise.
Top Gun: Maverick estreia no dia 26 de maio de 2022 nos cinemas.
Aproveite também: