Crítica – The Witcher: A Origem é uma grande bagunça disfarçada de minissérie

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Crítica – The Witcher: A Origem é uma grande bagunça disfarçada de minissérie

Por Leo Gravena

The Witcher: A Origem é um prequel de The Witcher que conta uma história a muito tempo perdida sobre a conjuração das esferas, o nascimento do primeiro bruxo e sobre como vários guerreiros de diferentes origens se uniram para lutar contra um grande mal que ameaçava todo O Continente. Uma minissérie em 4 partes, a história é amarrada por um fiapo de narrativa que se foca mais em apresentar elementos que podem ser importantes no futuro da franquia do que trazer uma boa história.

Ficha Técnica:

Título: The Witcher: Blood Origin/The Witcher: A Origem

 

Criação: Declan de Barra & Lauren Schmidt Hissrich

 

Direção: Sarah O’Gorman e Vicky Jewson

 

Ano: 2022

 

Emissora/Streaming: Netflix

 

Número de episódios: 4 (1ª temporada)

 

Sinopse: Ambientada em um mundo élfico, 1.200 anos antes do que acontece em “The Witcher”, a nova série “The Witcher: A Origem” conta a história da luta sangrenta que levou à criação do primeiro protótipo de bruxo e a um conflito que resultou na Conjunção das Esferas, momento no qual os mundos dos monstros, dos humanos e dos elfos passaram a ser um só.

Pôster de The Witcher: A Origem

Série da Netflix não entrega emoção, mas traz personagens mais rasos que uma piscina infantil

Baseando-se em algumas frases soltas dos livros de Andrzej Sapkowski, The Witcher: A Origem é focada na antiga civilização Elfa antes de sua queda, quando os humanos ainda não haviam chegado ao continente e presságios de um grande mal surgiam no horizonte. Na história, acompanhamos Éile (Sophia Brown) uma barda guerreira que teve sua família morta e agora busca vingança; Fjall (Laurence O’Fuarain) também é um guerreiro que teve sua família morta e agora busca vingança; enquanto Scian (Michelle Yeoh), para variar, é uma guerreira que teve toda a sua tribo assassinada e agora busca vingança – e a antiga espada de seu povo.

Os três agem como os grandes heróis e protagonistas que vão se unindo a outros personagens que não possuem motivações tão claras para se vingar da monarquia quase teocêntrica que se instaurou entre os elfos, eles são Zacaré (Lizzie Annis), Syndril (Zach Wyatt), Callan (Huw Novelli) e Meldof (Francesca Mills). A primeira metade da trama, inclusive, funciona muito mais como um RPG, ou Pokémon, em que eles vão se encontrando, percebendo que todos querem vingança de um inimigo em comum e se unem em uma jornada que, supostamente, deveria ser épica, mas na maior parte do tempo é apenas entediante.

Meldof (Francesca Mills) e Fjall (Laurence O’Fuarain)

Cada personagem também representa um arquétipo bem claro dos RPGs, a barda, o guerreiro, a monge, os magos, a anã. E teria sido uma ideia divertida apostar nesses tropos, porém a série parece ter medo de se aprofundar e tudo o que resta são carcaças de personagens que mesmo tendo carisma (em momentos bastante específicos), não são desenvolvidos o bastante para que você se importe com eles.

E esse é o grande problema de The Witcher: A Origem. A série se vende como um prequel em que as grandes conexões com a série original estão quase que inteiramente apenas no último episódio, então tudo parece ser arrastado ao máximo para chegar até aquele momento. Caso você seja um fã antigo da serie original e queira assistir A Origem apenas por causa dessas conexões e saber exatamente o que foi a Conjuração das Esferas, como surgiu o primeiro Bruxo e mais sobre os monólitos, então essa minissérie provavelmente não será ofensiva para você, ela está fazendo exatamente o trabalho dela.

Porém, se você esperava uma boa história no meio disso tudo, sairá bastante decepcionado. Tirando o trio principal, cujas motivações são praticamente as mesmas, ninguém ali possui agência própria. Os Gêmeos Celestiais, mesmo interessantes no papel, são completamente descartáveis e em muitos momentos poderiam ter sido combinados em um personagem único e não haveria diferença. Outro personagem simplesmente não possui motivação nenhuma além de “minha namorada tá ali no meio mesmo”. E não que isso seja algo de extrema importância, em uma boa narrativa as motivações servem para guiar os personagens em sua jornada. Mas a jornada desses, por si própria, já é muito abaixo do esperado.

Merwyn (Mirren Mack) possui ótimos figurinos durante a série

Muitos problemas de narrativa poderiam ser desculpados pelo fato desta ser uma série prequel, menor e com um outro foco. Mas o tempo todo ela está desesperadamente tentando fazer com que você goste e se importe com esses personagens rasos e desinteressantes. Um dos pontos mais ofensivos é quando a série acaba e você percebe o quanto Michelle Yeoh foi desperdiçada com um roteiro fraco e uma direção insípida, mesmo com ela tentando o tempo todo, o material base simplesmente não é bom o bastante.

Outro grande problema são os vilões e antagonistas da minissérie. A Origem até tenta criar uma história de origem de vilão interessante, porém tirando um ou outro visual bom, Merwyn (Mirren Mack) é tão sem sal que não consegue segurar uma cena sozinha. Lenny Henry como o Chefe Druida Balor é outro espetáculo de horror a parte; nos momentos em que ele não está emulando uma versão mais forçada de qualquer papel do Giancarlo Esposito, ele está tão exagerado que parece apenas que ele se esqueceu das péssimas falas no roteiro e começou a proclamar qualquer coisa de forma altiva apenas para ver se alguém perceberia que aquelas frases eram inventadas ou tiradas de outro espetáculo – mas ninguém notou.

Ainda assim, é preciso dizer que alguns dos atores realmente parecem estar tentando ao máximo mesmo com um texto que não seria aceitável nem como piloto da CW ou History Channel. Jacob Collins-Levy consegue entregar um pouco de emoção com seu Eredin; Huw Novelli e Francesca Mills são extremamente carismáticos como, respectivamente, o Irmão Morte e Meldof, trazendo até alguns poucos momentos de diversão e emoção; e Sophia Brown, ela está tentando. Ela tenta, e tenta ao máximo, entregar algo como a protagonista Éile, mas, no fim, não há muito o que fazer quando o roteiro e direção simplesmente não são bons.

Lenny Henry que interpreta o Chefe Druida Balor, parece ter se divertido durante as gravações.

No fim, The Witcher: A Origem é uma minissérie que provavelmente irá agradar quem já é fã de The Witcher e está satisfeito em saber mais sobre a origem de elementos específicos da série; mas não se sustenta como uma narrativa própria, os personagens não possuem um desenvolvimento real durante a história e suas motivações são bastante rasas.

Os dois primeiros episódios até conseguem ser divertidos e parecem ir para um rumo um pouco mais cômico, satirizando estereótipos de RPG e trazendo uma trama leve e despretensiosa, porém a metade final deixa isso de lado e bruscamente se torna uma narrativa séria demais que corre para conseguir criar conexões com a série principal, fazendo isso de forma tão apressada e rápida, que os personagens se tornam apenas objetos cenográficos utilizados para que a trama chegue até onde ela foi “planejada” para chegar.

Nota: 1/5

The Witcher: A Origem chega exclusivamente na Netflix em 25 de dezembro de 2022.

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