Crítica: The Umbrella Academy, Temporada 3
Crítica: The Umbrella Academy, Temporada 3
Entre erros e acertos, série da Netflix encontra conforto na certeza do apocalipse!
Após muita espera, The Umbrella Academy finalmente teve sua terceira temporada lançada na Netflix, dando à saga baseada nos quadrinhos de Gerard Way e Gabriel Bá um novo capítulo. Entre fins do mundo e cronologias destoantes, os Irmãos Hargreeves agora precisam lidar com uma nova versão de seu próprio presente, onde tudo foi modificado além de sua compreensão.
É nesse terreno que surge a Academia Sparrow – fruto das desventuras dos Hargreeves na segunda temporada. E como se tudo isso não fosse o bastante, os heróis ainda precisam lidar com o kugelblitz, um novo evento apocalíptico que pode pôr um fim à vida no universo. Nós já conferimos toda a temporada e aqui você pode ler as nossas opiniões sobre o terceiro ano da série!
https://www.youtube.com/watch?v=uoaC6EXnMOM&t=29s
Título: The Umbrella Academy
Criação: Steve Blackman e Jeremy Slater
Ano: 2022 (Netflix)
Número de episódios: 10 (3ª Temporada)
Sinopse: Após se aventurarem na década de 60 e impedirem um novo apocalipse, os Irmãos Hargreeves voltam ao presente, apenas para descobrirem que tudo mudou e que novos heróis foram recrutados por Sir Reginald, formando a Academia Sparrow!
A família do Fim do Mundo
Verdade seja dita: há uma certa beleza nos ciclos e repetições. Você pode já ter visto seu filme favorito dez vezes, ele sempre continuará a te trazer novidades. Você pode escutar a mesma música todos os dias sem enjoar. Até pode encontrar graça nas costumeiras dinâmicas cotidianas, seja na sua rotina de trabalho, nos relacionamentos ou coisas do tipo. Dessa forma, viver um apocalipse três vezes até tem seu charme.
The Umbrella Academy sempre esbanjou personalidade nos mínimos detalhes – mesmo em meio à onda quase insuportável de filmes, séries e histórias de super-heróis em todos os lugares. Talvez, o que torna essa história tão à parte desse “gênero” é justamente a forma como a Família Hargreeves, mesmo com todos os seus acertos, nunca chegou perto do heroísmo que se espera desses grandes seres com superpoderes, capas e roupas especiais.
Sempre foi uma história de pessoas deslocadas, vivendo relações disfuncionais e tentando achar um lugar no mundo mesmo em meio a todo o caos.
E em seu terceiro ano, a série não se afasta disso – pelo contrário, ela abraça de vez a repetição como parte do próprio DNA. Por isso, pela terceira vez consecutiva, os Hargreeves mexeram no tempo e isso tem consequências drásticas. E mesmo depois de terem evitado dois fins do mundo (ou ao menos, tentado evitar), Luther, Diego, Allison, Klaus, Five e Viktor se veem mais uma vez presos ao ciclo de repetições do apocalipse.
Claro que, dessa vez, eles não contavam com as peças que seu próprio pai adotivo, Sir Reginald Hargreeves, iria pregar neles. Após terem o conhecido na década de 60, na temporada passada, os irmãos deixaram uma impressão bem negativa no misterioso homem, que decidiu adotar sete crianças diferentes, justamente para não ter nada a ver com os seus “filhos de outra realidade” – ou ao menos, é o que se imaginava.
A Academia Sparrow tomou o lugar da Umbrella, e o único trazido de volta é Ben Hargreeves, que agora tem uma personalidade completamente diferente, mais mandão e autoritário. Porém, ele não é o único problema nesse quinto ano, já que seus “novos” irmãos passaram a vida acreditando que eram grandes heróis – e por isso, possuem toda a arrogância e o desprezo pelos outros Hargreeves.
Esse encontro acaba resultando em um dos pontos altos da temporada, já no primeiro episódio – que conta inclusive com uma cena de dança divertidíssima ao som de Footloose do Kenny Loggins. Porém, aos poucos essa ideia decai conforme fica claro que nem mesmo os produtores da série tinham lá planos muito aprofundados para os Sparrow. Se o grande chamariz da temporada era justamente vê-los em ação, o terceiro ano de Umbrella acabou devendo.
Aliás, esse parece ser o problema mais recorrente da terceira temporada, e é o sinal de que a história está ficando tão grandiosa que não há como pará-la sem decepcionar uma ou outra pessoa no caminho. Há muitos elementos na nova temporada de The Umbrella Academy, mas grande parte não sobrevive até o último episódio até ser esquecido no churrasco. E uma hora, isso cansa.
Por exemplo: temos Harlan Cooper de volta, em uma trama que até parece ser importante até ser descartada um pouco antes da conclusão da temporada. Pogo também retorna para uma cameo sem muito o que acrescentar – e até mesmo o kugelblitz, como é batizado o “novo apocalipse”, em dado ponto perde a importância quando os heróis deixam de tentar impedi-lo.
Essas tramas se amontoam ao longo dos primeiros episódios, criando uma sensação de que nada sai do lugar, até que todas as peças centrais surgem no tabuleiro e declaram um xeque-mate por volta do antepenúltimo episódio. É um problema que até poderia ser contornado, se o time de roteiristas encabeçado pelo showrunner Steve Blackman tentasse deixar alguns pontos abertos para uma eventual quarta temporada, mas não é o que acontece.
Felizmente, isso acaba dando mais espaço para que os próprios Hargreeves possam brilhar em tela, desenvolvendo novas tramas e dilemas para os personagens que já amamos. Luther busca amor; Diego tenta provar para Lila que consegue formar uma família decente; Klaus descobre uma nova habilidade impressionante; Five, pela primeira vez em toda sua vida, contempla a possibilidade de um fim digno para si mesmo e para sua família.
Quem se destaca, no entanto, são Viktor – aliás, a trama de transição do personagem é muito tocante e sensível, o que só é ressaltado pela expressão de felicidade no rosto de Elliot Page a cada episódio – e Allison – porém essa não em um sentido muito bom, já que todo o desenvolvimento da personagem parece ter corrido a oitenta por hora, resultando em decisões e atitudes que são bem questionáveis graças ao pouco tempo de tela.
Quem também tem uma chance especial de demonstrar seus talentos aqui é Reginald. Após aparecer pouco nos dois primeiros anos da série, Colm Feore finalmente mostra nuances que não conhecíamos do personagem, o que só torna as cenas em que estrela ao lado de Klaus (Robert Sheehan) ainda mais divertidas, cômicas e até trágicas, em certa medida.
Aliás, é o próprio personagem que movimenta os três últimos episódios da temporada – provavelmente o ponto alto dela. Enquanto os Sparrow são totalmente deixados de lado, somos convidados a dar uma espiadinha no Hotel Oblivion, o que não só adiciona mais camadas à mitologia de The Umbrella Academy, como também dá novos propósitos aos personagens e indica um quarto ano ainda mais insano.
Dito isso, não há como não sentir o peso da primeira metade da temporada, ainda que existam coisas boas no meio. A fotografia continua deslumbrante e até os efeitos visuais precários adicionam uma camada charmosa a esse mundo onde os super-seres não necessariamente são super-heróis. Outro destaque vai para Stan, o “filho” de Diego e Lila que é interpretado de forma espirituosa por Javon Walton.
Porém, o que transborda em personalidade falta em coesão narrativa. Mais de uma vez, o terceiro ano da série tenta ludibriar o espectador ao criar ilusões e distrações. Passamos boa parte dos episódios achando que uma coisa é o ponto central da temporada, apenas para descobrir que se trata de outra coisa. E depois de ver isso acontecendo nas duas primeiras temporadas, não há mais um sentimento de novidade. Nesse caso, a repetição ficou chata.
Ainda baterei palmas para como The Umbrella Academy consegue desenvolver seus personagens e dar a eles um novo propósito ano após ano, mesmo com todas as três temporadas seguindo basicamente a mesma estrutura e o mesmo enredo. Porém, o terceiro ano parece preocupado demais em inserir tanta coisa que, no fim, nada é muito importante ou relevante.
Do jeito que está, a série se encaminha para um encerramento brilhante na quarta temporada, caso a Netflix saiba o tempo certo de parar e finalmente resolver os problemas dos personagens. Porém, o relógio está correndo e os fins do mundo estão começando a cansar – e dessa vez, não há escapatória caso a série continue tentando se esquivar das verdadeiras respostas que prometeu.
Apesar dos bons momentos, a terceira temporada de The Umbrella Academy perde força em seus primeiros seis episódios, para recuperá-la no finalzinho. E por mais que a Academia Sparrow seja muito aquém do que os fãs estavam esperando, felizmente ainda temos a chance de acompanhar os Irmãos Hargreeves por mais alguns episódios, o que é sempre uma notícia bem-vinda.
A terceira temporada de The Umbrella Academy está disponível na Netflix.
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