Crítica: The Boys Temporada 3 – Payback, The Only Man in the Sky e Barbary Coast
Crítica: The Boys Temporada 3 – Payback, The Only Man in the Sky e Barbary Coast
Terceira temporada promete ser uma das mais chocantes da série
Em sua terceira temporada, The Boys promete apresentar uma nova equipe, colocar a paciência de Homelander por um fio e trazer uma vilã manipuladora para colocar “ordem na casa”. Os três primeiros episódios já estão disponíveis na Amazon Prime Video, que vai liberar um novo episódio a cada semana, toda quinta, às 21h.
Sendo fiel ou não ao trabalho de Garth Ennis, o que se pode esperar é sangue, tripas e uma quantidade considerável de pênis. A primeira leva já deixou um gostinho do que podemos esperar do futuro, aumentando ainda mais para a futura adaptação de uma das tramas mais questionáveis do mundo dos quadrinhos: o Herogasm.
O que há por trás do gore de Garth Ennis
Mesmo que não pareça, The Boys tem, desde 2019, quebrado um pouco da máquina de caça-níqueis do mercado dos heróis. Com uma narrativa instigante e sangrenta, seus personagens transformam o real em uma alegoria para levantar assuntos como fama, memes, cancelamentos e outros.
Porém, se a série se aproxima da vida real para construir enredos que conversam com os espectadores, algo ainda parecia faltar quando comparado ao quadrinho de Garth Ennis. Publicado em 2010, a história com arte de Darick Robertson conseguia levar a violência e animosidade de outros quadrinhos do autor, como Crossed, e transportá-los para um universo similar ao da Marvel e DC Comics.
Essa simples equação criou The Boys e, quase dez anos mais tarde, em uma época saturada de adaptações de quadrinhos, a série veio. Com suas capas, personagens caricatos e discursos montados, a produção conseguiu se manter, mas faltava um “tempero”, como diria Jacquin, algo que tornasse a história menos chacota e mais uma crítica.
E, neste terceiro ano, os três primeiros episódios da série parecem estar seguindo por esse caminho. Ao invés de tramas complicadas com heróis nazistas e cabeças explodindo, The Boys parece estar disposto a abraçar o absurdo de uma forma política. Parece irônico apontar isso de uma produção que destroçou o corpo de uma mulher com um velocista em seu primeiro episódio. Mas, se a primeira temporada conseguiu tirar o fôlego com “sangue e vísceras”, a segunda se perdeu na mesmice.
“Estamos em tempos de paz”
E essa sensação me veio após ouvir Victoria Newman, interpretada por Claudia Doumit, dizer que Butcher e seus amigos não eram mais necessários, pois: “Estamos em tempos de paz”. A fala expositiva é uma forma de mostrar como tudo está nos controles da “antagonista em segredo”, entretanto, ela diz em voz alta o problema da temporada anterior.
Stormfront, ou Tempesta, foi uma bela adição aos Sete, mas também trouxe tanto conflito entre os “supes”, que a forma como o público compreendia os heróis se transformou em pesquisas de opinião e números. Isso, somado a trama arrastada de Butcher e sua ex esposa, que desde seus minutos iniciais parecia fadada ao fracasso, fez com que todas as soluções para concluir a trama não conseguissem atingir o seu clímax.
Homelander perdeu o seu último parafuso
Neste terceiro ano da série, as coisas parecem seguir por um caminho diferente. Homelander, ou Capitão Pátria, finalmente, parece estar ganhando consciência de seu poder de manipular o público, compreendendo que, infelizmente, o que o público parece gostar é o básico. Em outras palavras, ele mesmo.
Enquanto isso, Hughie e Starlight, ou Luz Estrela, despertaram para a realidade em que vivem. Durante as últimas temporadas, ambos se mantiveram em suas respectivas bolhas, acreditando que as “boas” escolhas trarão resultados. O problema é que, ao fazer o “certo”, oficialmente tudo corre bem, porém, por baixo das tramas, os vilões ainda estão no comando.
Um ponto alto desses três primeiros episódios é ver que The Boys quer retornar as raízes dos quadrinhos. Não de forma literal, já que os roteiristas precisaram mudar diversos contextos para que a linha temporal da série se mantivesse intacta. Mas sim em relação às políticas implementadas para esconder o erro dos “supes”.
Ironicamente, temos que agradecer a Stormfront por isso. Seu envolvimento com o nazismo foi o que impulsionou para que o público enxergasse uma falha na Vought. E, como em uma represa, essa pequena rachadura promete criar um evento catastrófico.
Um ponto importante para retornar a esse lugar onde tudo é “jogado para debaixo do tapete” pela Vought e governo é o grupo Payback. Os heróis às avessas surgidos na Segunda Guerra Mundial nos quadrinhos, agora, foram transportados para a Guerra Fria e o embate entre capitalismo e comunismo.
Mesmo que tenham tido pouco envolvimento neste início de temporada, eles ainda são um lampejo dos erros que a Vought ainda está escondendo. Não apenas isso, mas um convite a refletir sobre o que está girando a roda que é The Boys.
The Boys é sobre guerras frias
Diferente das grandes sagas dos cinemas, como o Dawn of the Seven e o “Bourkecut”, a série The Boys está longe de ser sobre conflitos que destroçam cidades. É sobre o que está escondido e, o erro da segunda temporada, o que a tornou arrastada em diversos momentos, foi mergulhar nos conflitos entre os Sete e esquecer dos trambiques externos desse universo.
Em certa altura da série, tudo parecia que teria que ser resolvido em um grande embate em campo aberto. Essa, não é uma escolha ruim, mas se afasta da essência de The Boys. Uma que pode ser resumida na frase de Victoria Newman: “Estamos em tempos de paz”.
A função do Capitão Pátria, do Soldier Boy, da Starlight e de todos os outros Sete, o Payback e a Vought é contar uma boa mentira. Pintar um vilão que pretende destruir os “bons costumes”, mas pregar o completo oposto quando longe das câmeras.
E é nessa pequena mentira de Newman que se esconde o que pode, ou não, alavancar para uma série que trabalha tópicos interessantes, mas ainda deixando o sangue escorrer com gosto. Isso porque sempre estamos em guerra. Internas como a de Starlight precisando trabalhar ao lado de Homelander e Profundo. Externas como a que Butcher contra a Vought.
Na vida real e em The Boys não existe paz, mas sim uma mentira bem contada. O que importa aqui é o que a verdade ou a omissão dela pode gerar. Tudo o que está acontecendo por trás das cortinas, inclusive o Herogasm. A pergunta é se a terceira temporada de The Boys está disposta a deixar a mesmice de lado e nos dar ao público uma espiadinha.
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