Crítica: Stranger Things – 4ª Temporada, Volume 2

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Crítica: Stranger Things – 4ª Temporada, Volume 2

Por Gus Fiaux

Após ter retornado em grande estilo em maio deste ano, a quarta temporada de Stranger Things finalmente teve seus dois últimos episódios lançados na última sexta-feira (01). Agora, finalmente podemos ver todo o embate final entre Vecna Eleven, bem como o grande plano desse ser descomunal para Hawkins – e tudo isso enquanto a vida de diversos personagens é colocada na balança.

O novo bloco de episódios certamente tem seus problemas – com a duração sendo o maior deles -, mas ainda há uma penca de coisas boas no horizonte, por mais que os ganchos deixados para a última temporada sejam aterradores. Nós já conferimos os dois últimos capítulos e aqui você pode conferir nossa crítica sobre o Volume 2 de Stranger Things 4!

Ficha Técnica:

Título: Stranger Things

 

Criação: Irmãos Duffer

 

Ano: 2022 (Netflix)

 

Número de episódios: 2 (2º Volume da 4ª Temporada)

 

Sinopse: Vecna Vive! Após finalmente se revelar como o grande mal que paira sobre Hawkins, o vilão se prepara para levar as almas de sua última vítima – mas enquanto isso acontece, Eleven tem seus próprios planos para detê-lo!

O segundo volume de Stranger Things 4 já está disponível na Netflix!

O grande embate

Goste ou não, há uma certa beleza na simplicidade de Stranger Things que fez com que a série se mantivesse um dos maiores sucessos da Netflix até hoje. Mais do que uma história sobre projetos governamentais assustadores, os poderes telecinéticos de Eleven ou até mesmo o Mundo Invertido e todas as coisas abissais que encontramos lá, a série ainda é focada em um tema central bem reconhecido: a amizade improvável entre várias pessoas.

A quarta temporada da série fez um ótimo trabalho ao nos lembrar disso em seu primeiro volume, lançado em maio deste ano – e é curioso como isso é feito, já que dessa vez os Irmãos Duffer decidiram separar os personagens tão queridos pelo público em núcleos diversificados, alguns com alto grau de sucesso (como o núcleo de Hawkins e toda a ascensão de Vecna), outros mais controversos (basta lembrar de todo o lenga-lenga de Hopper na Rússia).

Porém, em seus dois últimos episódios, a temporada decide amarrar as pontas soltas e mostrar como, mesmo que estejam em lugares completamente diferentes, essa “família escolhida” ainda encontra uma forma de lidar com todo o caos provocado por Vecna, o novo vilão misterioso capaz de matar pessoas e abrir portais do Mundo Invertido direto para Hawkins. Mas será que valeu tanto a espera?

Resposta curta: valeu sim.

Desde o começo, Stranger Things nunca foi o tipo de série a se preocupar com os pormenores de sua ambição. É uma produção milionária que começou como um projeto de paixão de dois irmãos, que encontrou um lar na Netflix e logo se tornou a grande sensação do momento, um fenômeno capaz de encher páginas de fanarts na internet e ainda manter seu clima misterioso sem deixar de lado o bom humor.

No quarto ano, as coisas ficaram um pouco mais sombrias – e o segundo volume da temporada vem para provar de uma vez por todas como não só a trama, mas também os personagens estão evoluindo e se tornando mais adultos – motivo pelo qual faz todo sentido que sejam expostos ao que há de pior no mundo, e não só no Invertido, já que a temporada carrega temas como pânico satânico e a falta de ética em experimentos com cobaias humanas.

Isso é muito bem encaminhado pelos últimos episódios e é até um pouco curioso ver como esse segundo volume não tenta nem um pouco disfarçar sua “falta de propósito” – não da narrativa em si, já que o conflito final entre Eleven e Vecna é algo bonito de se ver, mas sim pela separação desses dois últimos episódios que nem sequer “funcionam” como obras à parte do primeiro bloco de capítulos da temporada.

Isso resulta em um dos maiores problemas dessa temporada, que é ainda mais escancarado no último episódio: a duração dos capítulos não só beira o absurdo, como também ultrapassa todos os limites. Duas horas em um episódio é algo que até funcionaria se houvesse algum tipo de justificativa narrativa, mas o último capítulo deixa claro dois momentos onde poderia ser cortado, resultando em três episódios de quarenta minutos.

É só pausar e ver como três episódios“, vocês diriam – mas o ponto é que, ao ser lançado dessa forma, a série traz um conceito imediatista que tem assolado todas as produções da Netflix: tudo precisa ser assistido de uma só vez, não para que possamos apreciar a grandiosidade da trama, mas para evitar os spoilers e alimentar a máquina que dita que apenas a audiência do primeiro final de semana após o lançamento é válida.

Dito isso, mesmo com sua duração monumental, o último capítulo de Stranger Things 4 entrega exatamente tudo aquilo que promete: o épico espetáculo calcado no conflito “final” entre Vecna Eleven, enquanto todos os outros heróis desempenham um papel no “grande plano” para derrotar esse assassino maquiavélico – e nisso, a série volta a nos lembrar como a dinâmica entre seus personagens é muito mais importante que qualquer Demogorgon.

Da frigideira para o fogo

Se há algo que o Volume 2 melhora em relação ao primeiro é justamente o senso de urgência. Se nos primeiros sete capítulos, a trama de Vecna evolui de forma lenta e bem compassada, com cada mistério sobre o vilão sendo destrinchado lentamente até que possamos saber qual é a sua identidade, o bloco final não perde tempo com toda a enrolação.

O sétimo capítulo mostra como Eleven recupera seus poderes e se junta novamente ao núcleo composto por Mike, Will, Jonathan e Argyle, e traz consigo alguns momentos bem interessantes. Seja a demonstração de poderes da jovem heroína da série ou o diálogo tocante no qual Will revela seus sentimentos mais profundos a Mike, o episódio nem sequer é um “respiro antes do fim” pela forma como desencadeia sua própria ação.

O último episódio, por outro lado, foca em como cada um dos núcleos ajuda, de alguma forma, na luta final. E nesse sentido, há de se elogiar o trabalho dos montadores da série, que conseguem criar um ritmo frenético e ágil mesmo em um episódio bizarramente longo. Nem mesmo os cortes para Rússia, onde acompanhamos Hopper, Murray e Joyce fazem perder a força todo o clima de urgência estabelecido aqui.

No fim, o que o quarto ano de Stranger Things faz é realmente uma ponte para a temporada final, que ainda está por vir. O gancho deixado ao fim do último episódio, indicando a queda de Hawkins e uma vitória para o Mundo Invertido, é a prova de que os Duffer sabem bem até onde vão para compor seu universo espetacular. Porém, há uma megalomania cada vez mais presente no ar, e os criadores devem tomar muito cuidado com isso.

Ainda assim, a série consegue manter-se fiel ao seu público e ainda surpreendê-lo. O destino de alguns personagens desse segundo volume não só é brilhante como também assustador, embora já esteja ficando mais do que batido o clichê do “novo personagem que conquista todo mundo apenas para morrer”, e a impressão que passa é que todos os envolvidos não querem se arriscar e dar destinos tristes aos personagens principais.

Com um charme que cada vez mais dispensa a nostalgia enquanto cria sua própria mitologia, Stranger Things 4 encerra em grande estilo. É claro, o último episódio poderia ser dividido em capítulos menores e ainda há uma certa insegurança na forma como os Duffer vão lidar com a grandiosidade da última temporada, mas tudo se resolve da melhor forma possível quando pai e filha se reencontram, provando que o grande mérito da série não está nos seus monstros e dimensões sombrias, mas sim na relação entre seus personagens humanos por excelência.

A quarta temporada completa de Stranger Things já está disponível na Netflix.

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