Crítica: Resident Evil, Temporada 1
Crítica: Resident Evil, Temporada 1
Será esse o fim das adaptações de Resident Evil?
Os fãs de Resident Evil sofrem mais uma vez nas mãos dos produtores. Talvez por antipatia a figura de Leon Kennedy ou pelos jogos já terem aceitado que o seu forte não são roteiros caprichados, a nova produção da Netflix optou por deixar de lado o já conhecido mundo de Raccon City. De um jeito ou de outro, a verdade é que Resident Evil: A Série é exatamente o que prometeu, uma salada divertida para quem não conhece a franquia de jogos ou para quem já deixou de lado a expectativa de uma adaptação completamente fiel.
Ficha Técnica:
Título: Resident Evil
Criação: Andrew Dabb
Direção: Tamara Smart, Siena Agudong, Ella Balinska, Adeline Rudolph, Lance Reddick
Ano: 2022 (Netflix)
Número de episódios: 8 (1ª Temporada)
Sinopse: Anos depois do surto viral que provocou o apocalipse mundial, Jade Wesker luta para sobreviver entre os infectados e jura derrubar os responsáveis.
Uma farofa de qualidade duvidosa
Se Resident Evil é conhecido por alguma coisa é por escalonar o apocalipse zumbi para um completo absurdo. Entre monstros marinhos, seitas religiosas, uma mão amputada sendo colocada no lugar e problemas de casal, a franquia de jogos há um bom tempo não procura ser fidedigna a si mesma.
Uma prova disso é a guinada dada com os últimos títulos. Resident Evil 7: Biohazard é uma mudança completa em relação ao seu antecessor. Sendo um terror mais intimista que leva o “survival” ao pé da letra, esse se tornou um novo pontapé para trazer aspectos antigos da franquia, mas sem o peso de se comprometer com toda a sua mitologia.
Dito isso, o maior problema da nova empreitada da Netflix é se agarrar com unhas e dentes ao material original. Com um elenco competente e uma história relativamente engajante, a produção consegue captar a atenção, mas se perde quando tenta entregar um “fanservice”.
E quando me refiro a isso, não estou apontando os monstros gigantescos, máquinas de escrever jogadas pelo cenário, puzzles envolvendo pianos ou vilões encapuzados com motosserras. Pelo contrário, as soluções visuais da série para referenciar os jogos, sem a necessidade de trazer nomes conhecidos, são criativas. Elas agradam quem conhece a franquia, mas não prejudica quem é novo nesse universo.
Porém, existe algo complicado na base da construção de mundo da série feita por Andrew Dabb. Nela, seguimos duas linhas temporais, de um lado uma Jade Wesker no futuro, tentando encontrar a solução para o fim do T-Vírus. Do outro, temos uma Jade no passado, descobrindo os podres de seu pai, Albert Wesker, e da Umbrella Corporation.
Mas, ao invés de se apoiar completamente no medo e na ação, isto é, no medo de um vírus desconhecido e na ação que ele gera no futuro, a série escorrega em situações complexas, em busca de utilizar nomes conhecidos como “Marcus” e “Wesker”.
Em algum nível, a alternativa funciona. Lance Reddick, por exemplo, faz um excelente Wesker — seja qual for a versão do personagem —, enquanto Paola Núñez consegue transmitir a energia de “CEO psicopata”. Já Siena Agudong e Tamara Smart possuem uma boa dinâmica de irmãs, que vão de amor à ódio em segundos. Mas, se as atuações carregam várias situações, outras parecem rasas.
A busca incessante da Umbrella para sequestrar Jade é rasa e, mesmo explicada, parece completamente inexplicável. Outras situações como a presença do jornalista Angel Rubi se assemelha mais ao roteiro tramando um clímax do que o personagem tomando suas próprias escolhas.
Só que também é curioso notar como todos esses pontos obtusos da série exalam a franquia Resident Evil. Vilões sem propósito apenas com o desejo de criar o caos, personagens com explicações para suas dúvidas, uma força militar surgindo no meio do nada. Tudo isso é o resumo completo do que os jogos usaram e reciclaram com o passar dos anos.
Isso significa que Resident Evil: A Série é bom? Não, mas também não significa que seja ruim. É uma adaptação que consegue transmitir a essência dos jogos. O problema é que Raccon City, o T-Vírus e todas essas tramas nunca foram tão mirabolantes quanto pareciam. Ou melhor, são mirabolantes, mas também clichês e questionáveis.
Quando transportadas para a série e colocadas a prova — na necessidade de fazer com que Ella Balinska, a Jade do futuro, transmita o desespero atrelado a uma revelação de vilão — soam falsas. Um exemplo é a famosa cena de Evelyn Marcus dançando Dua Lipa, clichê como diversos momentos dos jogos, mas impossível de levar completamente a sério.
A verdade é que a nova adaptação da franquia é divertida para quem não conhece tudo sobre a Umbrella e seus personagens, um passatempo para os aficionados no gênero zumbi, mas uma decepção para os fãs que levam o roteiro dos jogos a sério. Em outras palavras, é uma caixa de Pandora para quem for apertar o botão do “play”.