Crítica: Nicolas Cage abraça sua imagem exótica no besteirol O Peso do Talento

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Crítica: Nicolas Cage abraça sua imagem exótica no besteirol O Peso do Talento

Por Arthur Eloi

Há algo fascinante em Nicolas Cage. Talvez seja suas intensas expressões faciais, seu currículo que vai do lixo ao luxo, ou mesmo sua personalidade excêntrica mas amigável. Seja como for, poucos atores despertam tamanha inquietação. Em um momento em que sua carreira está dando a volta por cima após vários perrengues, ele enfim aceita sua imagem bizarra com um sorriso no rosto.

O Peso do Talento é um filme que surge para exaltar a figura do ator. Afinal, qual outro nome seria capaz de despertar a atenção mais rápido do que a frase “Nicolas Cage interpretando a si mesmo”?

Ficha técnica

Título: O Peso do Talento (The Unbearable Weight of Massive Talent)

Direção: Tom Gormican

Roteiro: Kevin Etten e Tom Gormican

Data de lançamento: 12 de maio (Brasil)

País de origem: Estados Unidos

Duração: 1h 47m

Sinopse: Prestes a se aposentar da atuação, Nicolas Cage concorda em fazer uma aparição na festa de aniversário de um fã bilionário, mas acaba tendo que trabalhar como informante da CIA ao suspeitar que seu novo amigo é um chefão de cartel de drogas.

Há uma década, o nome de Nicolas Cage ainda não tinha “dado a volta por cima”, e o ator protagonizou uma série de fracassos de bilheteria como O Aprendiz de Feiticeiro (2010), Motoqueiro Fantasma: Espírito da Vingança (2011), Caça às Bruxas (2011). Ao mesmo tempo que parou de receber ofertas para estrelar grandes blockbusters, ele tinha uma enorme dívida com a receita federal dos EUA, o que fez com que passasse a aceitar todo e qualquer projeto que pudesse encontrar pela frente.

Após esse verdadeiro período de provação, marcado por poucos sucessos como Mandy (2018) e Pig (2021), Nicolas Cage se tornou uma figura descolada novamente, como alguém que consegue transitar entre a fama e ostracismo. O filme de Tom Gormican chega em um excelente momento, e serve para o próprio ator marcar o fim de sua fase mais conturbada.

Aqui, Nicolas Cage interpreta a si mesmo em um momento bastante complicado em sua carreira. Em busca do papel que lhe colocará de volta aos holofotes, ele vive atormentado por seus grandes trabalhos do passado, como sua versão mais jovem de Coração Selvagem (1990), clássico de David Lynch.

Celebrando a carreira do ator, Nicolas Cage é atormentado por sua versão mais jovem de Coração Selvagem, filme que o lançou para fama

Sem receber nenhum trabalho digno, e fracassado como pai e ex-marido, ele aceita uma oferta de desespero: ser convidado VIP da festa de aniversário do magnata espanhol Javi Gutierrez (Pedro Pascal), sem saber que se trata de seu maior fã. Ao ritmo que desenvolve uma amizade e até começam a planejar um filme juntos, Cage é contatado pela CIA com suspeitas de que seu novo amigo é, na verdade, um poderoso líder de cartel.

É surpreendente como a premissa do longa vai se tornando cada vez mais absurda. O desenvolvimento do filme fictício da dupla vai se misturando com a progressão do longa, e o resultado é uma comédia igualmente tosca e metalinguística, que brinca com os vícios de Hollywood ao mesmo tempo que celebra a inusitada carreira de Nicolas Cage.

O longa é todo marcado por acenos ao passado do ator, seja em grandes trabalhos – como A Outra Face – ou então em papéis menos renomados, como O Guarda-Costas e a Primeira Dama. Além disso, a personalidade do Cage fictício bebe bastante das várias lendas urbanas sobre o ator. Por exemplo, aqui ele tem uma “xamanística habilidade de atuação” que lhe serve praticamente como um superpoder, capaz de ler mentes.

Nicolas Cage abraça de vez sua própria estranhice em O Peso do Talento

Poucos outros nomes de Hollywood tem uma carreira tão variada assim para ser destrinchada através do humor, ou então uma persona pública tão exótica ao ponto de prender a atenção do espectador. E quase nenhum outro ator comanda tamanha respeito até por seus trabalhos mais duvidosos. Em momento algum Nicolas Cage é a piada, mas sempre parece que ele está rindo junto com o público.

Pelas reações iniciais em festivais, o longa até poderia ser pensado como algo mais cult, de humor refinado. Muito pelo contrário, abraça a tosqueira sem medo de ser feliz com situações dignas de comédias pastelão, como Nicolas Cage bancando um espião desengonçado ou então alucinando em uma viagem de drogas ao lado de Javi.

De certa forma, o filme parece não só honrar a carreira do ator, mas também homenagear todo um gênero de comédias baratas e orgulhosamente idiotas que consagrou nomes como Steve Carrell, Seth Rogen, Jack Black e muitos outros.

Com humor bobo e momentos de ação, O Peso do Talento é constantemente imprevisível

O humor bobo do filme pode não funcionar para todos, mas a química entre Nicolas Cage e Pedro Pascal é inegável. Com os dois atores comprometidos na obra, os melhores momentos são quando discutem cinema, falam sobre os melhores trabalhos de Cage, ou então sobre seus filmes favoritos.

Em uma cena, por exemplo, Javi revela que seu Top 3 do cinema é A Outra Face, O Gabinete do Doutor Caligari… e As Aventuras de Paddington 2. Cage, por sua vez, fica maravilhado com uma seleção tão eclética, e questiona a escolha da aventura do urso fofo, ao qual o espanhol apenas responde: “Eu chorei durante o filme todo, e me fez querer ser um homem melhor”. Intrigado, o ator decide assistir ao longa infantojuvenil, e em questão de segundos se vê em lágrimas, afirmando: “Paddington 2 é incrível”.

São momentos como esse que lembram que O Peso do Talento é um verdadeiro besteirol, mas um com enorme coração. Entre piadas idiotas e aventuras inesperadas, o longa se permite desenvolver uma relação genuína – quase romântica – entre Javi e Nicolas Cage.

Permitindo que os dois sejam sensíveis, dinâmica entre Nicolas Cage e Pedro Pascal é destaque de O Peso do Talento

O filme serve como homenagem às imprevisíveis viradas da carreira do ator, e também relembra que há muito valor em obras que apenas querem divertir pelo absurdo. No meio disso tudo, há surpreendente sensibilidade, bom suspense e ótimas atuações.

É uma obra boba, e talvez poucas piadas vão arrancar gargalhadas, mas sua adorável estranhice com certeza lhe deixará na ânsia para assistir outros filmes com Nicolas Cage. Afinal, esse é justamente o efeito que o ator tem no público há décadas.

NOTA: 3.5 de 5

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