Crítica: Obi-Wan Kenobi – Parte I e II

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Crítica: Obi-Wan Kenobi – Parte I e II

Por Gabriel Mattos

Desde A Ascensão Skywalker, a confiança do público em Star Wars está fragilizada. As séries surgiram como uma nova “era de ouro” para a franquia, mas O Livro de Boba Fett pôs essa ideia em cheque, lembrando que não é possível agradar todo mundo. Assim, Obi-Wan Kenobi chega como uma peça chave para determinar o destino da saga — e até então, o futuro parece bem promissor.

Kenobi está em exílio.

Dividida em seis partes, a história acompanha o exílio do lendário mestre Jedi em Tatooine, entre os filmes A Vingança dos Sith e Uma Nova Esperança. Por estar tão conectado com o cinema, comparações são inevitáveis. Mas ao invés de parecer um interlúdio barato, Obi-Wan Kenobi parece uma produção digna das telonas. O ritmo só é mais lento, como a trilogia original, o que pode agradar os mais saudosistas.

Os dois primeiros episódios, que foram ao ar nesta sexta (27), parecem duas metades de uma única história. A Parte I traz um foco enorme em explicar o contexto e apresentar os personagens principais desta trama, enquanto a Parte II é onde as coisas começam a pegar fogo.

Estamos diante de uma versão de Obi-Wan bastante complexa, cheio de nuances, que consegue carregar bem o drama da série sem ficar monótono. Ele não é mais o general imponente, confiante e centrado de Star Wars: The Clone Wars. Por outro lado, ainda não se tornou o eremita sábio, recluso e enigmático de Uma Nova Esperança. Este Kenobi existe em um limbo de possibilidades e é interessante ver sua evolução.

Obi-Wan leva uns sacodes necessários.

Atormentado por seus fracassos do passado, estamos diante de um homem que é apenas uma sombra do que já foi. Ele é cheio de dúvidas, inseguranças e arrependimentos, que se tornam ingredientes perfeitos para um arco de personagem muito saboroso. Neste início, seu cinismo já o coloca em discussões incríveis com Owen Lars e Bail Organa.

Por mais estranho que pareça, o primeiro episódio lida bastante com o peso que Obi-Wan precisa carregar por ser basicamente o “padrinho” das crianças Skywalker. Ele não tem a autoridade de um pai — não pode educar Luke do jeito que quer — mas ainda é responsável pelo futuro dos pequenos. E apesar de sua pequena obsessão pelo garoto, as coisas se tornam mais interessantes quando a menina entra na história.

Vou precisar entrar em território de spoilers por um instante, mas eu tive um pequeno surto quando Alderaan entrou em cena — exuberante, próspera e, o mais importante, inteira. Ter um pequeno vislumbre de como a vida ali era antes do trágico fim foi de aquecer o coração, mas a cereja no bolo foi conhecer a jovem Leia Organa.

Pequena Leia Organa parece que cresceu ouvindo “Histórias de Ninar Para Garotas Rebeldes”.

Mesmo que a atriz não tenha me convencido de primeira, é impossível não enxergar a atrevida senadora naquela pequena princesa. A personalidade impulsiva, teimosa e a mente aguçada capturam exatamente a essência da personagem e ainda trazem um leve toque de Padmé. Leia e Padmé são as minhas personagens favoritas de toda a franquia, então ver que ambas foram honradas pela Vivien Lyra Blair foi de aquecer o coração.

A dinâmica da pequena com Kenobi foi um dos pontos altos do segundo episódio. Mesmo que a desconfiança da jovem comece a irritar depois de um tempo, continua sendo bastante crível. Se um homem de meia idade aparecesse num robe dizendo ser um extinto jedi em um beco escuro, você também desconfiaria.

Mas é bom ver Leia amolecendo o coração gelado daquele jedi ferido. Aos poucos, dá para ver que a influência da jovem Skywalker está fazendo Kenobi se reencontrar. A revelação do final do episódio pode mudar como este personagem evolui, mas as possibilidades são muito interessantes.

Sair de Tatooine é uma boa mudança de ritmo.

Não tivemos muita ação com sabres de luz, neste início. Ainda assim as cenas de ação, mesmo que espaçadas, foram bastante competentes. É impressionante como Obi-Wan sabe se virar bem na porrada, mas seria bom ver lutas de sabre nas próximas partes.

Outra grata surpresa foi a pequena participação de Kumail Nanjiani como um necessário alívio cômico em uma série tão pessimista. Gostaria que ele tivesse um papel mais importante, claro. Mas a personalidade de Haja encaixou bem com o ator, que lembra muito a energia do Kingo de Eternos.

Reva está sedenta para pegar Obi-Wan.

Por fim, precisamos falar dos vilões — os Inquisidores. A aparência do Grande Inquisidor é tão frustrante quanto parecia nos trailers, comparado ao mostrado em Rebels, mas o final parece trazer um motivo plausível para esta mudança. O que importa é que, durante seu pouco tempo de tela, ele conseguiu convencer como uma presença intimidadora.

O Quinto Irmão funciona, mas é estranhamente acolhedor para alguém que trilhou o lado negro. É diferente da atmosfera feroz, que lembrava um tubarão, de Rebels, mas pode ser uma consequência da presença de Reva.

A principal antagonista deste começo é uma mulher instável, impulsiva e impetuosa, como todo o elenco de vilões insiste em lembrar. E o roteiro pode parecer até meio forçado em suas cenas, exagerando os estereótipos de maldade para torná-la ameaçadora.

Mas ela carrega uma atmosfera de mistério, como se houvesse um motivo secreto para esta urgência em suas ações, que fez eu lhe dar o benefício da dúvida. Ela é intensa e pode se provar uma ótima vilã, se conseguir dosar melhor sua vontade de se provar. Os próximos episódios devem colocá-la na presença de Darth Vader, o que deve ajudar a equilibrar sua energia.

A dinâmica da dupla carrega a série.

No fim, a missão de Obi-Wan para proteger a pequena Leia, como o Mandaloriano fez com Grogu, dita o tom da série. É uma história que harmoniza extremos, construindo um lugar bem agradável onde tudo pode coexistir: o pessimismo de Kenobi com o otimismo da Organa, malícia e ingenuidade, o velho e o novo.

Neste início, Obi-Wan Kenobi tem o coração da trilogia original e o ritmo da trilogia prequel, pegando só o melhor lado de suas grandes inspirações. Se conseguir se manter neste caminho, podemos estar diante de uma nova esperança para a franquia.

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