Crítica: O Ritual – Presença Maligna faz horror gótico amador com poucas boas surpresas

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Crítica: O Ritual – Presença Maligna faz horror gótico amador com poucas boas surpresas

Por Arthur Eloi

Grande parte do apelo do horror é sua variedade, tanto de orçamentos, realizadores e países de origem. Acompanhar o gênero significa buscar obras de todo canto do mundo, dos queridinhos cults às porcarias divertidas. A distribuição brasileira tem um carinho especial pela segunda categoria, e é bem frequente ver filmes de baixo orçamento da Rússia e México ganhando sessões nos cinemas daqui.

A pérola da vez chega do Reino Unido com quase um ano de atraso: O Ritual – Presença Maligna é o sétimo filme do inglês Christopher Smith, mas ainda apresenta um amadorismo digno de um diretor de primeira viagem.

Ficha técnica

Título: O Ritual – Presença Maligna (The Banishing)

Direção: Christopher Smith

Roteiro: David Beton, Ray Bogdanovich e Dean Lines

Data de lançamento: 10 de março de 2022 (Brasil)

País de origem: Reino Unido

Duração: 1h 37min

Sinopse: Na década de 1930, um jovem reverendo, sua esposa e filha mudam-se para uma mansão com um segredo assustador.

Ambientado na Inglaterra da década de 1930, um padre e sua família se mudam para uma enorme mansão no interior. Ao ritmo que se instalam no lugar, e quanto mais expostas ficam as feridas do relacionamento decadente do casal, fenômenos paranormais começam a atormentar os novos moradores, indicando um passado sombrio no lugar.

“Família se muda para casa mal-assombrada” não é exatamente a mais original das premissas, e O Ritual não faz muito para tentar fugir do mundano. Todo tropo e clichê de horror gótico dá as caras aqui, dos barulhos no meio da noite, dos quartos que não devem ser acessados, da dona de casa como alvo dos truques dos espíritos. Falta de originalidade pode não ser um problema real, mas a questão se complica quando a execução é medíocre.

Família em crise se muda para casa mal-assombrada. Você com certeza já ouviu essa história antes

É visível que o diretor Christopher Smith se propõe a criar algo mais refinado e atmosférico. Frequentemente ele não consegue, em filme que tenta ser muito mais inteligente do que realmente é. O silêncio, que é a principal ferramenta da tensão, ultrapassa o limite do tedioso, em um esforço muito grande de não mergulhar de cabeça nos excessos de jumpscares, o outro extremo da régua do horror amador.

A dificuldade de encontrar uma sensibilidade macabra, de arrepiar e horrorizar, é algo comum nos trabalhos de cineastas iniciantes, e muitos fãs dos gêneros conseguem enxergar o potencial além desses primeiros deslizes. O que surpreende aqui é o fato de esse está longe de ser o primeiro filme de Christopher Smith.

Em alguns momentos, bastante espaçados entre si, é possível enxergar tal potencial. Na reta final do filme, a presença sombria do lugar começa a se manifestar mais intensamente, e o cineasta faz um bom trabalho em evocar imagens macabras e até cenas com uma boa dose de tensão, como quando a protagonista Marianne Forster (Jessica Brown Findlay) explora o porão escuro da mansão, ou quando percebe uma estranha perturbação no reflexo do espelho. Mas infelizmente seguem como exceções cativantes em uma obra medíocre.

Em pouquíssimos momentos O Ritual mostra ser capaz de criar imagens macabras, mas nada muito memorável

Uma forma que a produção encontra para tentar contornar o próprio amadorismo é dar peso aos conflitos centrais, como a crise na relação do casal principal, ou mesmo o avanço da Segunda Guerra Mundial, que acontece como pano de fundo para o conto. Nada disso ganha atenção o suficiente para ser digno de nota, e mais parece um engrandecimento artificial do que elementos pensados para serem explorados.

Há um motivo pelo qual fãs de gênero vão atrás dos filmes de procedência mais duvidosa: o fato de que toda obra questionável tem algo de valioso, pelo menos. No caso de O Ritual – Presença Maligna, são algumas cenas que acertam no visual macabro, mas não parece ser o suficiente para segurar a barra.

Em outra época, antes de Mike Flanagan ensinar como resgatar o horror gótico com a antologia A Maldição, o longa até poderia ser aceitável, porém agora soa mais como uma exploração preguiçosa de um dos subgêneros mais tradicionais do terror. Dá sim para tirar algo de valor de O Ritual, mas é ainda mais fácil encontrar filmes melhores.

NOTA: 1.5 de 5

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